Quis o destino que a primeira edição do Projeto Gerir em 2020 alterasse um formato já consagrado ao longo dos últimos anos, idealizado e desenvolvido de forma criteriosa pela Gazeta Grupo de Comunicações. A pandemia do coronavírus impôs uma nova condição às centenas de pessoas que tradicionalmente lotam o auditório do Memorial da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) para acompanhar o evento, realizado desde 2017, com pela menos quatro edições anuais. Ainda assim, a circunstância motivou que uma nova oportunidade surgisse.
Realizada na noite da última terça-feira, 26, no formato online, em virtude das restrições à aglomeração de público por conta da pandemia, o debate dos painelistas convidados foi transmitido em plataforma digital, no site, no Facebook e no YouTube do Portal Gaz, contando ainda com transmissão simultânea pela Rádio Gazeta FM 107,9. O fato permitiu que milhares de pessoas tivessem acesso ao conteúdo do Gerir e acompanhassem as discussões em torno do tema “Os caminhos para a economia pós-pandemia”.
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Ao todo, o Gerir de terça-feira alcançou 24 mil pessoas no Facebook, com 10 mil visualizações. No YouTube, mais de 300 pessoas assistiram ao evento, sem contar ainda a audiência na transmissão ao vivo pela rádio. Por último, e não menos importante, foram mais de 130 interações do público com o apresentador e painelistas nas redes sociais, entre comentários, questionamentos, sugestões e elogios. Mediado direto dos estúdios da Rádio Gazeta pelo gerente executivo de rádios, Leandro Siqueira, o encontro virtual contou com os painelistas Renê Wlach, Patrícia Palermo e Alexandre Antinarelli.
Dos escritórios de suas respectivas residências, os palestrantes da noite debaterem o que a região, o Estado e o País podem fazer para que haja uma retomada segura das atividades econômicas, bem como as lições que período pode ensinar a empresas e administrações, a partir de visões sobre empreendedorismo e gestão. O diretor executivo da Gazeta Grupo de Comunicações, Jones Alei da Silva, destacou a edição histórica e agradeceu a presença dos convidados e a parceria com as empresas apoiadoras do projeto.
“Como dizia o filósofo grego Heráclito, nada é permanente, exceto a mudança. Nós mudamos hoje também. Estamos realizando um Gerir tendo em vista a pandemia, obedecendo as regras estabelecidas e procurando não induzir a erros aqueles que nos assistem e ouvem. Agradeço aos patrocinadores, que estão conosco há três anos, pois sem eles não seria possível a realização de mais esse evento. E agradeço também a Patrícia, Alexandre e Renê, por terem aceito nosso convite. É um momento de dificuldade, mas também de retomada, e ouvir o que eles têm a dizer é muito útil a nos e aos ouvintes”, ressaltou Alei.
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O Projeto Gerir, que chega a sua 15ª edição no quarto ano de atuação, é realizado pela Gazeta Grupo de Comunicações e voltado a empresariado da região, líderes de diferentes setores e empreendedores para a troca de ideias e experiências em gestão. Além da realização da Gazeta, a iniciativa conta com patrocínio de Unisc, Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo e Associação de Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul (Assemp).
VIDA E ECONOMIA ANDAM JUNTAS
Santa-cruzense radicado em Porto Alegre, Renê Wlach, de 56 anos, é formado em Direito e pós-graduado em Gestão – Administração. Também é diretor comercial do Tecon Rio Grande, empresa da Wilson Sons, e vicepresidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil Alemanha. Wlach ainda é conselheiro da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). A partir de sua atuação junto ao Tecon, ele acompanha a movimentação em logística e infraestrutura associada às exportações.
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Na edição histórica do Gerir da última terça-feira, Wlach salientou a importância de Santa Cruz do Sul para a economia do Rio Grande do Sul. “Fico contente de participar deste projeto da minha terra, que é próspera e tem um potencial enorme na área industrial, sendo muito representativa no comércio exterior. Diante disso, Santa Cruz me acompanha por todo o envolvimento e representação comercial e industrial que possui”, salientou. Ele defendeu a necessidade de novas medidas que possam contemplar e fazer girar a economia.
“Sempre enfrentamos diferentes crises. Recentemente, houve retração de mercado e trocas de governo. A chegada da Covid-19 novamente nos surpreende, de maneira que precisamos nos adaptar e aprender com isso.” Conforme o diretor comercial do Tecon, o Rio Grande do Sul está em uma curva de melhoria e as empresas estão tomando os cuidados necessários. “Até por isso, defendo que a economia não deve parar. A vida e a economia andam juntas. Precisamos retomar o comércio e a indústria com todo o cuidado”, defendeu Renê Walch.
Conforme o palestrante, o Estado se encontra em um estágio avançado de contenção da Covid19. “Com capacidade intelectual e os conhecimentos já conquistados, podemos dar um passo a mais”, complementou. Segundo ele, o fato novo, da pandemia do coronavírus, trouxe aprendizados na área comercial. “Já estamos nos adaptando para elevar o trabalho em home office. Há uma mudança grande no mundo dos negócios. Por isso, vamos ter de nos adaptar e analisar os melhores processos. Temos um mercado fértil para ser explorado”, finalizou.
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MOMENTO PARA CRIAR E MODIFICAR PROTOCOLOS
Eleita a Economista do Ano de 2016 pelo Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul (Corecon/RS), a porto-alegrense Patrícia Palermo também participou da primeira edição do Gerir em 2020.
A painelista é formada em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e professora na área. É mestre e doutora em Economia Aplicada, com olhar abrangente sobre a realidade econômica gaúcha, brasileira e mundial. Conforme Patrícia Palermo, a sociedade vai precisar se adaptar aos novos tempos.
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“Já estamos nos adaptando, mas nem por isso ficaremos piores. São tempos novos e acho que a grande conversa é sobre a adaptação, onde cada um deve dar o seu melhor para que esse momento seja o menos pior possível”, ressaltou. Para ela, o Brasil vinha em uma melhora, depois de um período em baixa. “Após a crise de 2015 e 2016, estávamos melhorando nos anos de 2017, 2018 e 2019. A expectativa era de que 2020 fosse um ano bom para a economia brasileira e até mundial, o que, infelizmente, acabou não ocorrendo.”
De acordo com Patrícia Palermo, é necessário criar mecanismos para fazer a vida voltar ao normal. “Muito provavelmente, precisaremos criar e modificar protocolos normais até então do nosso cotidiano, dos nossos relacionamentos interpessoais e do comércio. É possível construir um nova realidade e pactuar isso com a sociedade, para fazer essa reconstrução”, enfatizou a economista. Para ela, os governos irão fazer a parte que lhes é de responsabilidade, e caberá às pessoas atenderem os devidos protocolos.
“O mundo estava estabelecido, quando, de repente, tudo mudou. E é impressionante quando 7 bilhões de pessoas começam a mudar seus hábitos, pois isso muda a atividade na economia de maneira brutal”, comentou Patrícia Palermo.
Após afirmar que a economia não pode ficar no nível em que está, a economista finalizou sua fala com uma reflexão: “A terra parou. Nesse meio tempo, o que você pensou para o seu negócio para ser melhor quando a terra voltar a girar?”
UM NOVO NORMAL MORAL
Professor e mestre em Administração, Alexandre Antinarelli, de 52 anos, natural de Teresópolis, no Rio de Janeiro, mora há 22 anos em Santa Cruz do Sul. No município, além de lecionar junto ao curso de Administração da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), é coordenador de Compras na empresa Mercur, e sempre teve um olhar profissional voltado para os processos de marketing, comercial e vendas. Segundo ele, é necessário implementar um olhar holístico sobre a pandemia do novo coronavírus, com o intuito de buscar a adaptação, mas com a lógica da transformação.
“Acredito que podemos aproveitar esse momento para tirar grandes aprendizados, que possam transformar o nosso jeito de fazer e de pensar sobre as coisas”, ressaltou. Para tanto, ele explicou sua abordagem a partir de três fases: reconhecimento, reconstrução e regeneração. “O reconhecimento do contexto em que estamos e fomos inseridos por conta da pandemia, que não esperávamos; a reconstrução, sobre onde buscar e construir com premissas e perspectivas que são importantes para fazer uma reflexão e ajustar nossa visão; e a regeneração, que fala sobre contribuir e legitimar o sentido de transformação”, explicou Antinarelli.
Fazendo uma analogia com a história da parte maior do iceberg embaixo da água, encoberta, e a parte menor sendo o que é visível, o professor ressaltou que um contexto está explícito, através de uma gama de impactos sociais que compreendem desde o início do isolamento social, passando para o distanciamento controlado, e culminando nas pessoas que ficaram doentes e perderam suas vidas.
“Em paralelo a isso, é preciso também um esforço para buscarmos enxergar o que está oculto. E, neste exercício, inicia-se o reconhecimento do contexto encoberto, para que, através dele, possamos ter visibilidade sobre os efeitos indiretos de fragilidades que já caminham conosco há décadas, como o nosso sistema de saúde e sanitário no País e a desigualdade social, que, infelizmente, em tempos de pandemias só aumenta.”
Por fim, salientou a necessidade de a sociedade pensar em um conjunto de movimentos, ao que chamou de um novo normal moral, onde a vida estaria acima do lucro e do poder. “Temos o hábito de pensar no imediatismo. A regeneração passa por um conjunto de movimentos contigencial, temporário, mas também de sustentação, para que seja possível possibilitar um olhar de preservação e de conservação com caráter duradouro.”
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