Projeto Gerir: o que esperar de 2022

O Projeto Gerir – Workshops de Gestão Organizacional 2021, iniciativa da Gazeta Grupo de Comunicações, promoveu a sua quinta e última edição nessa terça-feira, 23, em plataforma digital, formato adotado em 2020, em virtude da pandemia e das restrições à realização de eventos presenciais. Nesta última edição do ano, três painelistas debateram o tema “Perspectivas, oportunidades e desafios para a economia e as marcas gaúchas em 2022”, já dimensionando como essas lideranças veem o cenário para uma possível retomada das atividades produtivas e econômicas.

Os painelistas convidados foram: o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Arildo Bennech Oliveira; o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz; e o vice-presidente de integração da Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Rodrigo Fernandes de Souza Costa. A mediação foi do comunicador Leandro Siqueira, gerente de rádios da Gazeta. O gestor de Conteúdo Multimídia da Gazeta, Romar Rudolfo Beling, ainda fez uma saudação especial aos debatedores. O Gerir é patrocinado por Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo.

Com início às 19 horas, a atividade na terça-feira estendeu-se até por volta das 20h30, primeiro com uma manifestação inicial de cada um dos painelistas, seguida de questionamentos formulados por Siqueira, em torno da experiência da cada um dos participantes, que integram três entidades representativas de forte relevância para o Estado. A exemplo das quatro edições anteriores do Projeto Gerir no ano, esta também pôde ser acompanhada ao vivo no Portal Gaz e pelo Facebook e pelo YouTube do portal, bem como teve transmissão simultânea pela Rádio Gazeta FM 107,9, em cujo estúdio fora montada a estrutura para a apresentação e a mediação.

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Agora, com a conclusão da programação para 2021, o Projeto Gerir faz um intervalo e retornará, como de praxe, em março de 2022, em um período de reinício tradicional das atividades econômicas, comerciais e educacionais, logo após o costumeiro momento das férias de verão. Essa iniciativa da Gazeta tem por propósito estabelecer um espaço de debate, reflexão e interlocução sobre temas de máxima atualidade em Santa Cruz do Sul e na região. A meta é incentivar um olhar proativo e um ambiente de parcerias que promovam o desenvolvimento regional e contribuam para a geração de novas oportunidades em todas as áreas.

Assista em vídeo:

A recomendação é ter muita cautela

Importante liderança empresarial do Rio Grande do Sul, estabelecido com empreendimento em Rio Pardo, Arildo Bennech Oliveira, vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), enfatizou na quinta edição do Projeto Gerir, na terça-feira, que vê 2022 com apreensão.

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O crescimento econômico, na visão da instituição, pode ser considerado ilusório e, por isso, a recomendação passada aos empresários do setor secundário tem sido a de cautela com investimentos e projeções. A alta do dólar, que por um lado favorece as exportações, por outro torna mais cara a produção em todas as atividades que precisam importar matéria-prima.

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Bennech: crescimento em 2022 pode ser visto como ilusório e exige precaução

Há ainda a questão dos fretes marítimos, que enfrentam escassez de oferta e disparada nos preços. “Para se ter uma ideia, um contêiner vinha da China para o Rio Grande do Sul por US$ 2,5 mil. Hoje, ele chega aqui por US$ 15 mil”, referiu. Na esteira das incertezas, surge ainda a inflação, com índice superior a dois dígitos. O acumulado de 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) é de 11,08%. Além de ser um dos principais indicadores de inflação, também é o parâmetro utilizado para o reajuste salarial dos trabalhadores.

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Bennech igualmente demonstrou preocupação com as finanças públicas, especialmente com o teto de gastos, que não vem sendo respeitado pelo governo federal. “Nós imaginamos que agora, em quase todos os anos eleitorais, abre-se a torneira para os gastos e o teto é ultrapassado. São coisas que pensamos que já tinham ficado no passado”, enfatizou o empresário.

Oliveira afirmou que projetos como a extensão da pista do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre; a conclusão das obras na BR-116, entre as regiões Metropolitana e a Sul do Estado; e o início da duplicação da BR-290, corredor de exportação da produção agrícola do leste do Rio Grande do Sul, são tidos como essenciais para o desenvolvimento da economia. No entanto, o andamento dessas obras está muito lento ou travado, por questões políticas e burocráticas.

Ainda em termos de logística e infraestrutura, a RSC-287, principal rodovia do Vale do Rio Pardo, foi igualmente lembrada por Bennech, como uma obra essencial. A construção das novas faixas, no projeto de duplicação, ainda que prevista na nova concessão, deve ocorrer somente em dez anos, se os prazos estabelecidos forem efetivamente cumpridos. É um tempo considerado excessivamente longo quando comparado ao ritmo de execução em outros países. “Tudo no Brasil é mais difícil quando se trata de melhorar a produtividade das empresas, das indústrias e do agronegócio”, concluiu o vice-presidente da Fiergs.

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Empresas passaram da sobrevivência à superação

Ao iniciar sua fala durante o Projeto Gerir, na terça-feira, o vice-presidente de integração da Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Rodrigo Fernandes de Souza Costa, projetou 2022 como um ano de superação, após as dificuldades enfrentadas nos últimos dois anos em virtude da pandemia de Covid-19. Ele relembrou das diversas restrições que, por vezes, chegaram a fechar as portas do comércio de bens e serviços não essenciais no Estado, trazendo desafios nunca antes apresentados aos empresários do setor.

“Agora vem a superação. Enxergamos muitas empresas voltando a trabalhar, abrindo novamente suas portas e tentando resgatar esse prejuízo”, observou Costa. Ele mencionou que a Federasul realiza desde fevereiro uma jornada de integração online, com o objetivo de discutir a retomada que aconteceria após a vacinação, momento vivido atualmente. A discussão, no entanto, era difícil na época, quando predominava um clima de pessimismo entre os comerciantes e os líderes empresariais, preocupados com as bandeiras vermelhas e a impossibilidade de trabalhar.

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Apesar da esperança renovada com o sucesso da campanha de imunização e do levantamento de quase todas as restrições econômicas, as projeções para 2022 esbarram nas eleições gerais e na tradicional instabilidade política causada por elas. “A classe produtiva sabe quais são as reformas que precisam ser feitas, mas nós não temos a menor ideia do que vai acontecer. Temos hoje um país polarizado entre esquerda e direita”, afirmou.

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Rodrigo: empresários retomam suas atividades e tentam resgatar o prejuízo

Ainda que a recuperação da economia esteja ocorrendo de forma gradativa e, decorrente dela, surja a necessidade de mão de obra, a falta de qualificação inviabiliza o preenchimento dos postos de trabalho. De acordo com Rodrigo, em um congresso recente realizado pela Federasul, empresas filiadas relataram a existência de 2,5 mil vagas não preenchidas por falta de candidatos ou por incapacidade destes, que, por vezes, são contratados mas não conseguem executar plenamente as demandas exigidas, e acabam novamente desligados. Essa situação chama a atenção, pois acontece ao mesmo tempo em que o Brasil soma mais de 14 milhões de desempregados.

Ao concluir sua participação na quinta edição de 2021 do Projeto Gerir, Rodrigo Souza Costa pediu que tanto a população em geral quanto os empresários e investidores deixem de ser coadjuvantes e se tornem protagonistas do que vai acontecer. “E esse protagonismo nós podemos começar a assumir através do envolvimento com entidades de classe, em todas as regiões. Nós temos muito mais poder de forma coletiva do que de forma individual”, ressaltou.

Apesar da melhora, é preciso cuidado

Apesar da chegada da tão aguardada melhora no contexto da pandemia, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, lembrou no Projeto Gerir que a situação geral da economia ainda é delicada. Em relação a 2020 e ao primeiro semestre de 2021, os dados atuais indicam recuperação. No entanto, segundo Luz, a comparação precisa ser analisada com cuidado, tendo em vista que a produção chegou a ser paralisada em determinados momentos e, com a retomada, a sensação é de grande melhora.

“A todos aqueles empresários que nos procuram, temos recomendado muita cautela”, afirmou. “Os números precisam ser interpretados dentro de um contexto, e ter um número muito bom não significa que as coisas estão muito boas.” Para o economista, é necessário observar se o crescimento ocorreu sobre outro crescimento ou sobre uma queda, e o Estado está “claramente” se recuperando de um tombo causado pelo coronavírus. Em razão disso, a perspectiva para o próximo ano é de preocupação com uma possível falsa sensação de melhora.

Luz: situação geral da economia ainda é bem delicada e requer cautela para 2022

No âmbito da agricultura, cujos resultados foram considerados bons pela Farsul nas últimas duas safras, a projeção não é boa para 2022 devido ao aumento expressivo nos custos. “Se o consumidor está preocupado com a incapacidade de manter as compras com a sua renda, saibam que isso também está acontecendo com o agronegócio”, salientou. Ele apontou que o incremento médio no custo de produção ficou na casa de 50% no período de outubro de 2020 a outubro de 2021. Com isso, a rentabilidade do produtor diminuiu drasticamente, assim como vem ocorrendo com o poder de compra da população.

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O especialista entende que o Brasil tem questões para resolver, como a inflação, as finanças públicas e o câmbio. “E como se todos esses desafios já não fossem grandes o suficiente, teremos de enfrentá-los em um ano eleitoral.” Outro problema urgente e específico do setor primário está, além do aumento geral no custo de insumos e implementos, na dificuldade para a aquisição destes. Conforme Luz, esse impacto deve começar no ano que vem, na safrinha, e atingir o seu ápice na safra de 2023, quando a produção poderá recuar a ponto de gerar uma quebra de safra mundial, causando apreensão inclusive sobre toda a segurança alimentar.

Em sua conclusão, Antônio da Luz avaliou a baixa produtividade da economia brasileira. Em sua compreensão, não se trata de falta de vontade do brasileiro para trabalhar, mas dos diversos entraves, como a demora para a obtenção de licenças, paralisações e atrasos em obras fundamentais de infraestrutura e quantidade excessiva de feriados. “O ano de 2022 será desafiador para o mundo inteiro, mas para o Brasil será mais, porque nós não conseguimos deslanchar a atividade econômica”, enfatizou.

O ambiente produtivo e industrial

“A pandemia realmente constituiu um momento muito difícil para o Rio Grande do Sul, apesar de que a maioria seguiu trabalhando, com 75% da capacidade produtiva. Mas o aumento de custos preocupa muito a indústria. Se nós vermos, o aço aumentou mais de 100%, e as embalagens plásticas, 120% a 150%. Aumentou muito o custo. E quando se fala nessa inflação de dois dígitos, que é crescente, e quando se repara que a gente está apenas levantando do tombo, com esse crescimento que está sendo projetado para 2021, não tem como ter muita animação para 2022, porque isso não é real. Estamos pegando como base um ano que foi péssimo, o de 2020, e as indústrias estão muito cautelosas, a Fiergs idem. Temos convicção de que se precisa ter bastante cautela, cuidado, com o novo momento. O câmbio, que favorece muito as exportações, é totalmente prejudicial para quem importa. E nós temos muitas indústrias que importam no Rio Grande do Sul. Além disso, os fretes marítimos aumentaram muito! Para se ter uma ideia, um contêiner que vinha da China por US$ 2.500,00 hoje chega no Estado a US$ 15.000,00. E tem cada vez menos contêineres à disposição no mundo. Porque a China, grande exportadora, está com quantidade expressiva de contêineres em seus portos. As indústrias da China tiveram problemas com energia e portos com vários lockdown seguidos, e não puderam exportar, o que prejudica todo mundo.” – Arildo Bennech Oliveira, vice-presidente da Fiergs

“Se recordarmos, até a eleição passada, tanto em nível federal quanto estadual, tínhamos diagnóstico claro de um sufocamento da atividade produtiva. Até os dois anos anteriores à última eleição, todas as indústrias de arroz de Pelotas foram interditadas por fiscalização do Ministério do Trabalho. Interditava-se a empresa, que ficava 15, 30 dias parada na safra, por questões de normativa. Não se trata de estar a favor ou contra alguém, mas, se compararmos, o ambiente para trabalhar e produzir melhorou. Quase todas as fazendas vizinhas à minha tinham sido assaltadas à mão armada; há dois anos não sei o que é isso. O nível de violência era absurdo. Em Porto Alegre, a gente tinha medo de sair de carro. Hoje isso não tem mais. Demos guinada para o bom senso por esse aspecto, independente das críticas que se possa estabelecer ao governo federal em termos de compostura, ou ao estadual em outras críticas. Mas isto é uma realidade: o ambiente para trabalhar e produzir melhorou. O que se teve, lastimavelmente, foi a pandemia, com as restrições, e aí um cabo de guerra, com governadores tentando restringir as atividades por bandeiras, do que nós, da Federasul, discordamos, e depois os governos estadual e federal tentando aplicar pacotes de aumentos de impostos; somos veementemente contrários a isso. A política em si não nos importa, e podemos apoiar ou contrariar a política pública. O que importa é o efeito dela sobre o bem comum, sobre a classe produtiva.” – Rodrigo Fernandes de Souza Costa, vice-presidente da Federasul

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“Quando o setor do agronegócio estava extasiado, numa euforia total, porque registrava ganhos excepcionais por conta da taxa de câmbio, nós recomendamos aos produtores muita cautela, diante da perspectiva efêmera daquele cenário. Acompanho esse setor já há mais de 20 anos, e assim me sinto muito à vontade para dizer que vi muitos ciclos parecidos ou iguais. Quando estudamos o passado, vemos que o agronegócio vive de ciclos, e os produtores estavam com tendência muito forte de fazer investimentos, que talvez se viabilizassem economicamente olhando para aquela fotografia que se estava vendo no final de 2020 e no início de 2021. Mas aquela perspectiva definitivamente não era sustentável. Fizemos um trabalho muito forte, nos últimos 18 meses em particular, de trazer uma perspectiva mais neutra, central, pé no chão, para tentar antecipar aos produtores que essa ressaca viria. Como de fato veio. E temos a mais absoluta certeza de que muitos, milhares, seguiram as nossas orientações, porque eles nos falam. No entanto, não se conseguiu convencer todo mundo. Quem teve mais cautela, e a possibilidade de enxergar o que estava acontecendo como algo efêmero, e que não devia mudar a sua diretriz, hoje olha para esse cenário desafiador com bem mais tranquilidade do que aqueles que fizeram investimentos em montantes que não se viabilizam no longo prazo.” – Antônio da Luz, economista da Farsul

As quatro edições anteriores no ano

  • 1ª edição – dia 30 de março
    • Tema: “Novos caminhos para a educação”
    • Painelistas: Carmen Lucia de Lima Helfer, reitora da Unisc; João Miguel Wenzel, secretário de Educação de Santa Cruz do Sul; e Luiz Ricardo Pinho de Moura, coordenador da 6ª CRE.
    • LEIA: Projeto Gerir debate os novos caminhos para a educação
  • 2ª edição – dia 25 de maio
    • Tema: “Desafios e oportunidades para a indústria gaúcha”
    • Painelistas: Paulo Saath, líder de Operações de Tabaco da JTI; Sílvio Arend, economista e professor da Unisc; Daniel Machado, gerente de Operações do Senai; e Márcio Martins, secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Santa Cruz.
    • LEIA: Projeto Gerir aborda momento e perspectivas para a indústria gaúcha
  • 3ª edição – dia 27 de julho
    • Tema: “Cidades Inteligentes”
    • Painelistas: Everton Santos Oltramari, secretário de Segurança, Transporte e Mobilidade Urbana de Santa Cruz; Emilio Merino Dominguez, arquiteto, urbanista e professor; e Leonel Pablo Tedesco, doutor em Ciência da Computação e professor da Unisc.
    • LEIA: Projeto Gerir: é tempo de as cidades usarem a inteligência
  • 4ª edição – dia 28 de setembro
    • Tema: “Saúde e as perspectivas para o pós-pandemia”
    • Painelistas: Daniela Dumke, secretária municipal de Saúde de Santa Cruz; Marcelo Carneiro, médico infectologista e professor; Neuri Gusson, presidente da Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo.
    • LEIA: Projeto Gerir: a volta ao normal passa pela vacina

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