A segunda edição de 2021 do Projeto Gerir – Workshop de Gestão Organizacional, promoção da Gazeta Grupo de Comunicações, realizada na última terça-feira, 25 de maio, em pleno Dia da Indústria, avaliou o cenário para a atividade industrial na região, no Estado e no País. Com a participação de quatro painelistas convidados, o debate tomou por base o bom momento vivenciado pelos setores exportadores do agro, em especial dos grãos, tendo em destaque a soja, e igualmente do tabaco, cuja importância na balança comercial do Estado tem se salientado.
Entre 19 e 21 horas, o Gerir, em sua edição virtual, pôde ser acompanhado nas plataformas digitais da Gazeta, com a transmissão ao vivo pelo Portal Gaz e pelo Facebook e pelo YouTube do portal, bem como transmissão simultânea pela Rádio Gazeta FM 107,9. Assista abaixo.
A mediação do Gerir ficou a cargo do jornalista e comunicador Leandro Siqueira, gerente executivo de rádios da Gazeta. E a palavra inicial coube ao gestor de Operações da Gazeta, Éverson Ferreira. Na condição de responsável pela unidade industrial da Gazeta Grupo de Comunicações, a Gráfica, lembrou que, além do jornal Gazeta do Sul, o parque gráfico da empresa presta serviços para dezenas de outros jornais e clientes do Estado e até de outras unidades da federação.
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Os painelistas convidados da edição, alusiva ao Dia da Indústria, foram: Paulo Saath, líder de Operações de Tabaco da Japan Tobacco International (JTI); Sílvio Arend, economista, professor dos cursos de Ciências Econômicas e Relações Internacionais e do mestrado e do doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc); Daniel Machado, gerente de Operações do Serviço Nacional da Indústria (Senai) para Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires; e Márcio Martins, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Santa Cruz do Sul.
A necessidade de adequações por causa da pandemia, dentro e fora do Brasil, foi um dos grandes desafios enfrentados pelo setor industrial ao longo de 2020. Praticamente de um dia para o outro as empresas tiveram de adotar medidas que implicaram em ajustes variados, em especial no que diz respeito aos processos de prevenção à Covid-19 entre os colaboradores. Mas esse mesmo desafio constituiu, em paralelo, uma grande aprendizagem, com a definição de protocolos que permitiram, dentro do possível, manter as operações e inclusive competir com eficiência, produtividade e qualidade nos mercados interno e externo.
Saath, da JTI, demonstrou preocupação apenas com o momento de acirrada discussão política no Brasil, o que, segundo ele, traz inquietação quanto à segurança jurídica, aspecto ao qual sempre estarão atentas as empresas que atuam num mercado globalizado e muito competitivo.
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Já o economista Sílvio Arend, professor da Unisc, salientou que o momento, em virtude dos contratempos causados pela pandemia, é de aposta na inovação e de reinvenção no ambiente industrial. “Não fale em crise, crie”, foi a frase que apresentou.
Por sua vez, Martins advertiu que tende a ser fundamental um grande sistema de parcerias envolvendo todas as instituições, para criar estabilidade para as atividades industriais e viabilizar seu crescimento saudável. Com isso, a interação entre os setores passa a ser uma regra.
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Por fim, Daniel Machado, do Senai, comentou que os desafios para a educação e a qualificação de novos profissionais são muitos, desde os cursos de formação até a habilitação de nível técnico. E citou que cerca de 85% dos alunos da instituição costumam estar empregados um ano após a sua formação. O Gerir conta com patrocínio de Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e Unimed VTRP.
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Para o líder de Operações de Tabaco da empresa Japan Tobacco International (JTI), Paulo Saath, o período atual do Brasil possibilitou à indústria entender mais a importância das pessoas, e a necessidade da preocupação com a cadeia de suprimentos. Apesar dos desafios pelos quais a indústria passa, e ainda deve enfrentar a partir da retomada esperada em um período pós-pandemia, o conhecimento que as dificuldades trazem deve ser aliado aos processos industriais, para permitir a sustentação do crescimento econômico e socioambiental.
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Saath, que já atuou na Europa, na Ásia e na África e atualmente lidera as operações de tabaco na empresa em todo o Brasil, destaca que o momento de discussão política traz uma certa preocupação com a segurança jurídica. A dívida pública e privada do Brasil e do mundo alcança proporções de 350% do PIB mundial, e a necessidade de sair do período de pandemia, com a consequente reativação da economia, deve trazer sérios impactos para a indústria, pela questão de indisponibilidade de recursos, alerta.
Mas o representante da indústria fumageira também observa que a força do setor do tabaco, que gera emprego e renda para centenas de milhares de famílias, foi um ponto de equilíbrio para possibilitar a inovação. Paulo Saath lembra que, em virtude da pandemia, a JTI, que processa tabaco e produz cigarros em seis unidades espalhadas pelo mundo e possui 29 fábricas de cigarros e mais de 800 pontos de pesquisa, teve de colocar em prática alguns planos, que eram estudados há cerca de três anos, em menos de 48 horas. Em Santa Cruz do Sul, em dois dias, a empresa teve de colocar 200 trabalhadores do setor fumageiro para trabalhar em home-office. “Foram questões que nos desafiaram, mas, ao mesmo tempo, nos mostraram que em algumas transformações às vezes só é preciso acreditar; às vezes, a necessidade nos transforma”, completa.
Saath também destaca que o momento para a exportação é favorável, porém encarece o preço dos insumos importados, como o maquinário industrial necessário para a produção. Outro ponto interessante destacado foi o de que a pandemia causou um movimento de diminuição do contrabando, devido às restrições sanitárias. O mercado ilegal teve dificuldade em movimentar o produto contrabandeado, e, em virtude disso, o mercado legal voltou a ser responsável por abastecer mais de 50% do consumidor brasileiro. “Ainda é alto o índice de produto ilegal, mas hoje a indústria brasileira consegue suprir de novo pelo menos mais da metade do consumo no Brasil.”
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Para o doutor em Economia Sílvio Arend, professor da Unisc, a desindustrialização pela qual passa o País é um entrave para a recuperação econômica. Ele destaca que a indústria já representou 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nos anos 1980, e atualmente constitui cerca de 11% do total produzido. A aposta para uma retomada passa pelo investimento em setores de alta tecnologia. “A indústria cresce menos que o restante da economia. É onde surgem os espaços para o crescimento; sofisticar, agregar valor ao produto. Para isso, é preciso qualificar a mão de obra.”
Arend apontou que em 2020 a economia brasileira começou em baixa, mas o desempenho do setor tem melhorado ao longo do ano com o aumento da demanda. Um fator que dificultou a produção durante a pandemia, segundo ele, foi a necessidade de abastecimento externo. Com restrições e barreiras sanitárias, o abastecimento de matérias-primas fica comprometido, principalmente quando o material vem de fora do País. “A economia nos últimos anos tem investido em abastecer a cadeia de suprimentos a partir do mercado externo, o que atrapalhou o desempenho de diversos setores em um momento de pandemia, como petroquímico, plástico e ferro”, frisou. “O desempenho da indústria tem melhorado ao longo do ano, quando aumenta a demanda. A recuperação se dá na estabilização que pode vir através da vacinação e do fim da pandemia, que deve aquecer o comércio e a indústria.”
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Em sua avaliação, o momento é de inovação e de reinvenção. Lembrou de frase que viu escrita no quarto de costura de sua mãe, e que lhe serviu de inspiração: “Não fale em crise, crie”. Conforme ele, apesar de o momento ser de diminuição na proporção da atividade industrial para o conjunto do PIB, a indústria continua crescendo. Por isso, é importante a criação de empregos de maior capacitação técnica. “São empregos que estão nas atividades industriais mais complexas, cargos com maior remuneração, que podem criar um mercado consumidor mais forte.”
Políticas públicas que permitam o crescimento industrial são ponto-chave para apostar no crescimento em momentos de insegurança da política cambial. “O mercado sozinho resolve à sua maneira, que é comprar mais barato lá fora. Isso vale para a empresa individualmente, mas, se somarmos para o conjunto do País, não resolve a situação. Então, é preciso a intervenção do Estado desde o início.” Citou o trabalho da Incubadora Tecnológica da Unisc, que já trabalha no máximo de sua capacidade para fomentar novas iniciativas, e sugeriu estreitar laços com o poder público para seguir expandindo essa capacidade tecnológica.
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Santa Cruz do Sul, Márcio Farias Martins, acredita que é preciso investir na possibilidade da criação de um parque tecnológico no município, como existe no plano de governo da atual gestão.
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Martins ressaltou que no último ano, devido às dificuldades impostas pela pandemia, o município esforçou-se para manter a economia funcionando, mas lembrou que é preciso buscar novos investimentos e expandir as indústrias locais. O secretário lembrou que, devido a uma modificação em uma lei do ano de 2011, foi possível trazer para Santa Cruz a empresa que irá realizar a obra de duplicação da rodovia RSC-287. “Isso é um ganho muito grande, porque em menos de seis meses já trouxemos uma empresa de grande vigor fiscal e geradora de empregos para o nosso município”, disse. “Além disso, demos uma competitividade maior àquelas empresas que já estão instaladas em nossa cidade e podem se expandir.
”Para avançar na questão do incentivo para empresas de tecnologia, Martins frisa que será necessário um grande sistema de parcerias, que envolva o “Sistema S”, como Senai, Sesi e Sesc, e também a Universidade de San-ta Cruz do Sul, além de parcerias público-privadas. Um novo Disrito Industrial também está na mira do poder público, pois o secretário frisa que há demanda por novos espaços para a instalação de indústrias no município.
A interação entre setores também será fundamental. O processo poderia se iniciar já na educação básica, através da implementação da robótica nas escolas. Márcio Martins sugeriu a implementação de campeonatos de robótica nas escolas no futuro. “A partir disso, as crianças vão ter a curiosidade de pesquisar sobre aquilo. Partimos então para que a indústria comece a se integrar com essas empresas de tecnologia. Assim, a gente vai montando uma cultura para interagir cada vez mais.” A iniciativa ajudaria na preparação dos jovens para a busca de qualificação profissional. O processo seria uma parte do desenvolvimento de uma “estrutura tecnológica”, que começa com a formação dos trabalhadores e a estruturação das empresas. “É preciso criar um sistema propício para que a gente tenha um parque tecnológico que realmente funcione.”
Martins enfatizou ainda que Santa Cruz do Sul possui um excelente potencial para desenvolver sua indústria. Ele citou a localização central, que permite acesso a todas as partes do Estado, e também a contribuição da indústria fumageira, que se apresenta como um modelo de inovação no quesito tecnológico.
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De acordo com Daniel Machado, gerente de Operações do Senai para Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, a pandemia da Covid-19 também é um fator que dificulta a formação de mão de obra. Os desafios para a educação de novos profissionais são muitos, desde os cursos de formação até a habilitação de nível técnico.
Machado lembra que há apenas três semanas os alunos do Senai puderam retomar as atividades presenciais, e atualmente as aulas são em sistema de rodízio. A situação evidencia a importância do uso de novas tecnologias no ensino. “Esses aspectos estão mudando a forma como o mercado necessita de profissionais, e também modificando esses ambientes de trabalho. A mudança será necessária”, afirmou.
Machado citou uma perspectiva de mercado, que aponta que 50% das atividades de trabalho atuais podem ser automatizadas até 2065. A tendência econômica, através do surgimento de novas tecnologias, leva à necessidade de aprimorar a educação de nível técnico, que precisa crescer no Brasil. Segundo o gerente de Operações do Senai, enquanto o País tem 1,3 milhão de estudantes no ensino técnico, existem 6 milhões de alunos nas universidades. “É fácil concluir que a gente está apostando que, para seis profissionais da educação superior, estamos formando um profissional da educação técnica. Isso é preocupante, é um desafio estrutural”, enfatizou.
Possibilidades de crescimento existem, segundo Machado. Ele lembra que 85% dos alunos do Senai estão no mercado após um ano de formação, o que demonstra a demanda crescente por profissionais da área técnica.
Como sugestão para alavancar o crescimento da área de tecnologia na economia, Machado destacou o Edital Gaúcho de Inovação para a Indústria, um processo de seleção para viabilizar ideias inovadoras que fomentam a competitividade das empresas. O objetivo é fomentar desde startups até médias e grandes empresas do setor industrial. Os investidores podem contar com a estrutura do Senai, do Sebrae e do Sesi para alavancar os seus negócios. O portal de internet do Edital Gaúcho de Inovação para a Indústria pode ser encontrado no site do Senai, através do endereço www.senairs.org.br.
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