A Prefeitura de Santa Cruz do Sul, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, realizou, nessa terça-feira, 31, um evento em comemoração aos 30 anos da reforma psiquiátrica no Estado e aos 25 da conquista em Santa Cruz do Sul, que tem como marco a implantação do Centro de Atenção Psicossocial, o Caps II. As atividades ocorreram no auditório central da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), das 8h30 às 17 horas.
Com o slogan Liberdade é o melhor cuidado, a programação contou com participantes de Santa Cruz do Sul e região, incluindo gestores, usuários e profissionais que atuam na área da saúde mental. Houve palestras e debates sobre a política de saúde mental na infância e adolescência; a política de saúde mental, álcool e outras drogas; e a desinstitucionalização da política de saúde mental para adultos.
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O evento teve início com painel sobre a reforma psiquiátrica no Rio Grande do Sul, apresentado pela psicóloga e vice-coordenadora do curso de Psicologia da Unisc, Teresinha Klafke. Ela fez um resgate histórico acerca dos fatos e elementos que antecederam a reforma, tais como o excesso de medicação, a desumanização, a presença de manicômios, as pessoas privadas de liberdade, as violações dos direitos humanos e sangrias, entre outros procedimentos usados como forma de tratamento.
A reforma trouxe a necessidade de um novo olhar às pessoas em sofrimento psíquico a partir de noções de cidadania. As transformações que ocorreram ao longo dos anos serviram para consolidar um novo modelo de atenção aberto e de base comunitária.
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Santa Cruz do Sul é um dos municípios pioneiros no Estado a estabelecer outro modo de cuidado na área da saúde mental, contando com os seguintes serviços: Centro de Atenção Psicossocial II (Caps II), Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (Caps AD III) e Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Adolescência (Capsia).
Usuário do serviço desde 2016, Paulo Helfer, de 57 anos, entende que o Caps II tem um valor especial. “Foi a minha salvação. Hoje vejo que o principal caminho para quem tem esse problema é procurar ajuda. Sem isso, a pessoa não consegue sair do momento ruim que está passando. Acho muito importante procurar o atendimento, e não é ir somente uma vez, mas sim fazer um acompanhamento. Antigamente as pessoas eram vistas como loucas. Hoje, com a reforma, elas convivem normalmente”, salientou.
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Paulo, que participou do evento, também tem frequentado outros encontros nessa área. “Gostaria de ajudar pessoas que estão enfrentando problemas, para que não se sintam sozinhas e procurem ajuda. Tem muita coisa pela frente para se viver”, ressaltou. De acordo com Marliza Schwingel, as pessoas não têm mais vergonha de procurar por atendimento e cuidar da saúde mental. “Essa foi uma de nossas maiores lutas, trabalhar o preconceito dentro da cidade em relação a pessoas com sofrimento psíquico”, comemorou a psicóloga.
Outro fruto do trabalho na área é o Comitê Municipal de Prevenção ao Suicídio de Santa Cruz do Sul. Criado em 2015, foi oficialmente instituído em maio do ano passado, por meio de decreto assinado pela prefeita Helena Hermany. O objetivo do Comitê é trabalhar estratégias de combate ao suicídio, pelo fato de a região ter um perfil com alto número de casos.
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A reforma psiquiátrica em Santa Cruz do Sul registrou os primeiros passos em 1996. A partir de um concurso público que chamou técnicos da área, entre psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais, para atuarem em diferentes secretarias da Prefeitura, percebeu-se que o modelo em vigor era individualista e excludente. Os técnicos propuseram ao gestor do Município, em 1997, mudar o tipo de cuidado que era dado aos usuários de saúde mental em acompanhamento à reforma psiquiátrica proposta pelo Estado, que já estava em vigor.
Conforme Marliza Schwingel, psicóloga do Caps II e presidente do Comitê Municipal de Prevenção ao Suicídio, na época, o serviço funcionava da seguinte forma: a pessoa precisava se dirigir ao plantão de urgência, tinha de passar a noite na fila para retirar uma ficha e, pela manhã, ser atendida. Diagnosticada em crise, surto e/ou deprimida, o psiquiatra a encaminhava para o hospital psiquiátrico Vida Nova. O paciente ficava internado durante um ou dois meses e recebia alta, mas não seguia o tratamento, não havia quem o cuidasse. Após alguns meses, entrava em surto novamente e o ciclo se repetia. “Havia pessoas que eram internadas três ou quatro vezes por ano porque não tinham uma continuidade no cuidado.”
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A Clínica Vida Nova começou a funcionar em Santa Cruz do Sul em 15 de novembro de 1889. Na década de 1970, passou a atender pessoas com problemas mentais e usuários de drogas em tratamento. Foi fechada oficialmente em 1999, quando a família decidiu vender o espaço. O lugar ficou conhecido popularmente como “Sanatório Kaempf”.
A psicóloga do Caps II, Marliza Schwingel, relembra que o Vida Nova era um hospital psiquiátrico com o estilo de um manicômio. “Havia celas e canis no meio do mato onde pacientes eram deixados. Era um horror. Cheguei a visitar para poder captar e saber como os pacientes eram para depois trazê-los ao serviço do Caps.” Ela ressalta que o novo modelo de um cuidado mais humanizado para pessoas em sofrimento psíquico mexeu com a cultura da cidade. “Existia um paradigma de que quem era fora da reta, da linha, era paciente psiquiátrico.”
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