A primeira escola de ensino fundamental da rede pública municipal de Santa Cruz do Sul a oferecer educação em tempo integral, EMEF Menino Deus, é também protagonista ao promover ações efetivas no combate ao racismo e a outras formas de discriminação. Desde o ano passado, a professora Marilene Marlise da Silva, das turmas do 5º ano, colocou em prática a chamada educação antirracista e vem sensibilizando alunos, dentro e fora da sala de aula, acerca da diversidade e da importância de respeitar as diferenças.
Instituída em 2003, a Lei 10.639 determina que as redes de ensino fundamental e médio, públicas e privadas, ensinem aos estudantes sobre a história, a luta, a cultura e a contribuição da população negra para a formação da sociedade brasileira. Porém, segundo Marilene, trabalhar em forma de projetos pontuais não é suficiente para modificar a cultura do preconceito, ainda tão enraizada na sociedade brasileira. “Geralmente se trabalha as questões de preconceito e de discriminação em novembro, que é o mês da consciência negra. Só que o racismo acontece o ano todo”, frisou ela.
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Para promover uma educação antirracista durante todo o ano letivo, a professora faz uso de atividades simples e acessíveis, porém impactantes. E, em meio a um contexto lúdico, o que poderia ser um tema denso acaba se tornando algo natural. Segundo ela, tudo começa por fazer com que todos se sintam representados. “Temos que terminar com essa ideia de que, porque eu sou preto, eu sou menos. O colorismo existe e ser preto não é defeito”, disse.
Na sala de aula, alunos assistem a vídeos sobre a temática do racismo, entram em contato com obras literárias, como Mulheres negras que mudaram o mundo, de Julia Adams; leem textos da escritora negra Carolina Maria de Jesus e participam de conversas. Uma das muitas tarefas propostas foi confeccionar bonecos para retratar o conjunto da sociedade. “Eles tiveram que parar um pouco para se olhar e olhar o outro e foram percebendo que as pessoas têm cabelos diferentes, formatos de rosto diferentes e cores diferentes”, explicou Marilene.
Alunos estão mais conscientes
Embora a escola deva ser um espaço seguro, o sofrimento vivenciado por quem está fora dos padrões existe e precisa ser combatido. Esse desconforto é algo que o estudante Maurício Marques Júnior, 10 anos, do 5º ano, sentiu na própria pele. Ele contou que quando estava no 3º ano foi vítima de bullying por um menino do 6º ano, que hoje não estuda mais na escola. “Ele me chamava de montanha por causa do meu peso. Eu era gordinho, e isso me incomodava muito”, contou.
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Atualmente, situações como essa já não existem mais, e o que antes era um olhar de estranhamento vai aos poucos se transformando em um olhar de acolhimento, com reflexos diretos na autoestima dos alunos e também na boa convivência entre eles. “Houve muita melhora. Hoje, eles se respeitam mais”, concluiu Marilene. Agora, os alunos do 5º ano ajudam a cuidar dos menores no recreio, passando adiante os novos valores.
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Na porta da sala de aula, uma peça artesanal, multicolorida e confeccionada em patchwork, mostra um pouco mais sobre a cultura afro. E, nos corredores, desenhos e colagens ilustrando diferentes tipos de cabelos de meninas negras ajudam a entender que as pessoas são diferentes entre si e que essas características devem ser valorizadas. “A gente trabalhou o continente africano e as diferentes etnias, seus costumes, roupas e adereços. Os alunos gostaram muito, participaram, reproduziram as pinturas nos rostos, foi muito interessante”, disse.
Reflexos na aprendizagem
Iniciativas como a do concurso para escolha da menina afro, realizado na Emef Menino Deus em 2023, foram fundamentais para aumentar a autoestima das meninas negras e, como consequência, também o desempenho delas na escola. Outra ação importante foi o Projeto Memórias, apresentado na Mostra Municipal de Projetos Pedagógicos. Por meio de fotografias e relatos, pessoas negras da comunidade narraram suas histórias de infância.
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Para a diretora Leila Adriane Lopes Berlt, os resultados positivos do trabalho realizado pela professora Marilene Marlise da Silva têm muito a ver com a forma como ela ensina. Ao criar um ambiente em que todas as crianças são incentivadas a se orgulhar de quem são, a autoestima aumenta, elas ficam mais confiantes e, como consequência, também aprendem melhor. “Temos crianças muito carentes aqui, em todos os sentidos. A Marilene tem domínio da turma, ela tem autoridade, mas ao mesmo tempo é muito afetuosa com eles”, frisou. Através das redes sociais, a professora compartilha e divulga o trabalho, sensibilizando toda a comunidade escolar. Na outra ponta, os pais interagem comentando e manifestando apoio à iniciativa.
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