Produtores rurais do interior de Candelária estão tirando dinheiro do próprio bolso para amenizar as más condições da ERS–410, que liga a localidade de Bexiga à zona central do município. Por iniciativa do Sindicato Rural, os agricultores fazem doações para viabilizar uma operação tapa-buracos. Os trabalhos começaram na semana passada e já alcançaram quatro quilômetros.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Candelária, Mauro Flores, a mobilização começou por sugestão do vereador Celso Gehres (PP) e conta com apoio da Câmara e participação da Prefeitura – que garante o transporte da brita utilizada nas melhorias, produzida em Vera Cruz. O material é adquirido com doações dos associados do sindicato, arrecadadas conforme a demanda. O Daer, responsável pela manutenção do trecho, entra com o piche, as máquinas e a mão de obra.
A operação se restringe aos oito quilômetros do trecho asfaltado da ERS–410, buscando atenuar problemas como os enfrentados pelos caminhões que abastecem a Cotriel, situada na localidade de Bexiga, na região da divisa de Rio Pardo e Candelária. “O asfalto está repleto de buracos. É muito perigoso. As crateras podem até cortar os pneus”, comenta o gerente da cooperativa, Adilson Nazari.
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Ao longo de toda a rodovia, a situação é calamitosa. Qualquer descuido do motorista pode representar prejuízos no veículo. A distância de 35 quilômetros é percorrida em um constante sacolejar. O desenvolvimento econômico é diretamente afetado, principalmente nos períodos de safra agrícola.
De acordo com Mauro Flores, o Daer anunciou o patrolamento do trecho de chão batido da estrada, que equivale a 27 quilômetros. “A rodovia é importante, escoa a produção de várias culturas. Temos que fazer o que está dentro das possibilidades. Sabemos que o governo estadual não tem dinheiro”, comenta.
É preciso paciência
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Iniciada em 1994, a pavimentação da ERS–410 teve a primeira etapa concluída em abril de 1998, quando foram inaugurados os primeiros oito quilômetros asfaltados. Depois de 18 anos, nenhum avanço foi observado. O pecuarista Delmar Lenz mora em Santa Maria, mas usa a estrada de forma frequente para acessar uma propriedade rural. Ele diz que a situação é de abandono. “A rodovia só é lembrada no período da eleição, quando os candidatos fazem promessas. Mas a realidade é um piso esburacado, com remendos no que sobrou de asfalto. Sofre quem produz e precisa transitar aqui”, queixa-se.
O técnico agrícola Vanoir Corrêa, que convive todos os dias com os problemas da ERS–410, acredita que a precariedade do percurso prejudica o município. “Atendo produtores na região do Pinheiro e tenho muitos transtornos. É pneu, suspensão, desgaste excessivo do carro. Fora a perda de tempo com velocidade tão reduzida. Temos transporte de leite por aqui, com dois caminhões em três vezes da semana. É bem complicado”, lamenta.
Condições da ERS-403 também atrapalham o transporte
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O estado atual da ERS–403 também é de flagelo. Via de ligação entre Rio Pardo e Cachoeira do Sul, com 36 quilômetros pavimentados e 26 de chão batido, a rodovia tem trechos esburacados e com valetas que atravessam a pista de um lado a outro. O quadro se agrava durante o período de chuvas, com a água que encobre as crateras e a lama que torna o piso escorregadio. Um alento para os usuários, porém, é que a obra de pavimentação está em andamento no lote 2, em Rio Pardo. Os trabalhos começaram em agosto e o prazo para conclusão é de um ano. O trecho é de seis quilômetros e custará R$ 5,5 milhões, custeados com recursos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).
Porém, a demora no andamento da obra irrita usuários e lideranças. “Vários anúncios foram feitos e pouco avançou. É uma das melhores regiões produtivas de Rio Pardo. Perdemos muito em arrecadação, poderíamos ter mais empresas para recebimento de grãos”, lamenta o presidente do Sindicato Rural de Rio Pardo, Ramiro Goulart, que ressalta os riscos ocasionados pela lama. “É terrível nos períodos chuvosos. Provoca diversos transtornos para quem reside nas localidades.”
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Adilson Nazari também reclama dessa rodovia, via de acesso à Cotriel. “Os caminhoneiros não querem enfrentar a estrada de chão, ainda mais quando há lama. É impossível ingressar na cooperativa com o atoleiro. O custo do frete aumenta, sofremos bastante.”
O presidente da Câmara de Agronegócio, Comércio, Indústria e Serviços de Cachoeira do Sul (Cacisc), Paulo Alex Falcão, disse que já se reuniu com o secretário de Transportes do Estado, Pedro Westphalen. Porém, como a obra da ERS–403 é realizada com recursos federais, o governo gaúcho não poderia fazer nada. “O cenário atual da rodovia emperra o desenvolvimento econômico da região.
Durante o período de chuvas, veículos precisam ser puxados por trator. Isso é inaceitável. Vamos seguir acompanhando de perto. A pavimentação é uma demanda antiga, mas os repasses são no sistema ‘pinga-pinga’”, critica.
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Licenças
Há uma semana, o diretor de Infraestrutura Rodoviária do Daer, Luciano Faustino, vistoriou os trabalhos na ERS-403. Segundo ele, o Daer estabeleceu um cronograma financeiro que permitiria à construtora dar andamento aos serviços conforme a disponibilidade de recursos, mas sem interrupções. Porém, só nos últimos dias a Fepam liberou o licenciamento ambiental necessário e, por enquanto, o avanço de quase três meses de atividade é discreto.
Máquinas operam em trabalhos de drenagem e terraplenagem. A obra é executada pela Arcol Engenharia.
A 10ª Superintendência Regional do Daer de Cachoeira do Sul é responsável pela manutenção da 403 e da 410. O departamento afirma que os trabalhos são programados conforme a agenda semanal de obras e executados com equipes próprias. No entanto, o Daer está licitando os contratos de conservação de cada regional no Estado, para que toda a malha rodoviária da autarquia seja coberta por ações de manutenção rotineira feitas pelas construtoras contratadas.