Produtores de leite temem pelo futuro da atividade: “Estamos vivendo a pior crise”

Há 17 anos, Joel Dores, de 42 anos, é integrante da cadeia leiteira. Em sua propriedade, na localidade de Cerro Alegre Baixo, em Santa Cruz do Sul, mantém, com a esposa Silvia, 25 vacas lactantes, de um total de 40 animais. Com esse plantel, consegue garantir cerca de 55% do faturamento da propriedade, que também tem plantação de tabaco e ingresso de recursos por meio da prestação de serviços com trator para outros produtores.

O alto peso do leite na composição do orçamento faz com que ele chegue a uma triste conclusão. “Estamos vivendo a pior crise para os produtores”, lamenta. A afirmativa não é apenas por retórica. Ele fala baseado nos números apurados no seu dia a dia. Hoje, alimenta os animais com a silagem feita como resultado da plantação de milho e pastagem do último ano, quando comprava insumos, como ureia e adubo, por R$ 90,00. Para o próximo período, entretanto, já se prepara para ter a mesma quantidade com custo ampliado para mais de R$ 250,00.

“E não tenho como reduzir a alimentação dos animais. Se fizer isso, vai cair a produtividade, daí reduz ainda mais a receita”, ressalta. O problema enfrentado para garantir a sustentabilidade econômica da propriedade se torna mais evidente quando se vai para a ponta da caneta nos números. “Ano passado, uma hora de trator pagava dois sacos de ureia ou adubo. Neste ano, preciso de duas horas para comprar um saco”, calcula.

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Não bastasse o aumento do custo dos insumos, os integrantes da cadeia leiteira deparam-se com um período em que, tradicionalmente, o valor pago na porteira é reduzido. Por enquanto, entre o que é obtido pela comercialização do leite e os adicionais oferecidos pela cooperativa que faz a coleta, o litro que sai da propriedade representa em torno de R$ 2,08, com tendência de queda.

Casal Joel e Silvia atualizam os cálculos para continuar com a atividade diante da elevação nos custos de produção e queda no preço

A possibilidade de uma nova redução do preço assusta também Rudimar Paulo Lopes, de 44 anos, vizinho de Dores. Ele tem 24 vacas lactantes, que representam 80% do rendimento da família. “Os produtores menores vão acabar desistindo. Não tem como manter. É por isso que o jovem não quer mais ficar no campo. Aqui por perto, é difícil achar algum mais novo do que eu. Se continuar como está, com preço baixo e alto custo para manter, quem empatar (equilibrar receita e despesa) vai estar bem”, alerta.

Ele entende que o período, que vai do final de outubro até início de fevereiro, representa um ingresso menor de recursos, que é quando o leite tem menor valor. O que gera a queixa, no entanto, é que os insumos tiveram uma elevação muito expressiva. E a expectativa é de que suba ainda mais. “Fui comprar e não tinha a variedade que queria. Disseram que está em falta e isso vai fazer aumentar ainda mais.”

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Em três anos, 20 milhões de litros a menos

A área atendida pela regional Soledade da Emater/RS-Ascar teve uma redução de 20 milhões de litros de leite entre 2019 e 2021. Em 2019 foram aproximadamente 170 milhões, diminuindo para 150 milhões em 2021.

A queda, explica o agrônomo Vivairo Zago, é explicada pela desistência de muitos produtores. Eles deixam o setor leiteiro por terem idade avançada, pela falta de sucessão e, mais recentemente, pelo alto custo da produção. Entre 2019 e 2021, a Emater apontou a redução de 23% em produtores dedicados ao setor.

A diminuição da produção seria ainda maior, explica, caso aqueles que seguem não tivessem elevado a produtividade. “Houve uma profissionalização do produtor, conseguindo melhores resultados com o mesmo número de animais”, afirma.

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No Vale do Rio Pardo, de acordo com dados da Emater, são 572 propriedades que têm o leite como produto comercial. A cidade com maior produção é Santa Cruz do Sul, com quase 9,5 milhões de litros. A região ultrapassa os 39 milhões.

Preço em baixa

O receio apontado pelo produtor santa-cruzense Rudimar Paulo Lopes, de que o valor pago na porteira vai diminuir, se confirma com a informação divulgada na última semana pelo Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Rio Grande do Sul (Conseleite). O preço referência para o litro do leite em novembro tem queda de 4%. O valor pago ao produtor ficou estabelecido em R$ 1,6463. De acordo com dados da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), comparando setembro de 2020 e 2021, a ração animal apresenta uma diferença de 26,5%, o diesel 65%, e a ureia e os fertilizantes 120%, fatores que deixam a cadeia leiteira em uma situação preocupante.

De acordo com o vice-presidente da Fetag-RS, Eugênio Zanetti, o produtor rural está em sérias dificuldades devido ao custo de produção altíssimo e ao valor que está sendo pago pelo litro do leite, que não acompanha a elevação dos custos. “O produtor gasta muito e recebe pouco. Do jeito que a situação está, as famílias vão desistir da atividade. Temos que encontrar urgentemente alternativas que viabilizem a atividade”, alerta.

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Rudimar Paulo Lopes: receio é de que o valor pago na porteira vai diminuir

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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