Cansadas de esperar que o preço do leite melhore e de trabalhar sem retorno financeiro que compense a atividade, produtoras de Rio Pardinho, interior de Santa Cruz do Sul, resolveram se unir para tentar mudar essa situação. Marise Gressler, 60 anos, Jurema Maria Hirsch, 48, e Márcia Simone Trarbach, 44 anos, querem a ajuda dos deputados da região. A intenção é que eles intercedam junto ao governo pelos agricultores que atuam na bovinocultura leiteira, visando a adoção de medidas para que o produto tenha preço capaz de garantir rentabilidade.
As mulheres dizem que o valor do litro do leite vem baixando a cada mês e não chega a cobrir o custo de produção. Pelo contrário, o preço baixa e o custo aumenta, segundo Marise. “Estamos trabalhando no vermelho”, frisa. Cada uma vende sua produção para uma empresa diferente. Em função disso e também do quanto fabricam, recebem valores distintos. No pagamento de dezembro, para Jurema, o litro baixou de R$ 1,03 a R$ 0,98. Para Márcia, diminuiu de R$ 0,85 a R$ 0,79 e para Marise, de R$ 1,10 a R$ 1,05.
Jurema ressalta que o custo é alto, pois o animal precisa receber ração, sal mineral e silagem, do contrário a empresa diz que o leite não está adequado. Além disso, há despesa com remédios, veterinários, produtos para limpeza das instalações, energia elétrica, óleo diesel e investimentos. E o valor do leite não acompanha os gastos que a atividade exige.
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Ela, por exemplo, fez financiamento para construção de um galpão com tratador para os animais que custou R$ 70 mil, há três anos. Também precisou investir na aquisição de um trator. São financiamentos que precisam ser pagos.
Hoje, conforme as três, o preço do litro para os produtores deveria ser de R$ 1,30 a R$ 1,40 para cobrir o custo e dar alguma margem de lucro. Jurema, que tem 28 animais em lactação e produção de 700 litros por dia, observa que o serviço é “puxado”. “Não se tem sábado, nem domingo e nem feriado. E precisamos levantar cedo”, acrescenta. Ela é a única que tem ordenha canalizada, pois as outras duas usam o sistema com tarro. Marise tem 24 vacas em lactação e produção diária que fica entre 460 e 500 litros. Márcia tem dez, e a produção é de 150 litros por dia.
Marise afirma que também gostaria de fazer investimentos na atividade, mas com o baixo preço que recebe, não tem condições. Essa situação acontece desde o ano passado e já motivou um protesto de produtores. “É preciso mudar essa situação”, ressalta Marise. Conforme elas, as empresas alegam que há muita importação de leite em pó, o que levaria à redução do preço.
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Fetag acredita que a situação será revertida
O coordenador regional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag/RS), Renato Goerck, afirma que a questão do leite foi o tema principal da reunião de coordenadores da entidade no último dia 26. No entanto, segundo ele, a Fetag acredita que essa situação vai ser revertida em breve, porque se aproxima o outono e depois o inverno, períodos nos quais o consumo de leite aumenta. A sua orientação aos produtores é para aguardarem, porque o quadro atual deve mudar.
No encontro, segundo Goerck, produtores apresentaram notas de dezembro e janeiro mostrando que receberam R$ 0,62 pelo litro. Os coordenadores da Fetag definiram medidas que devem ser adotadas a partir da primeira quinzena de março. Dentre elas, a realização de uma ação para chamar a atenção da sociedade sobre os preços que estão sendo pagos aos produtores de leite.
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Também deve haver uma mobilização junto ao governo federal, buscando a realização de compras públicas de leite que girem em torno de 50 mil toneladas, Isso ajudaria a diminuir os estoques e, consequentemente, a melhorar o preço. Além disso, outra providência que deve ser solicitada ao governo é a oferta de linhas emergenciais de custeio, com pelo menos três anos para pagamento e o rebate de 20%.
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