Na localidade de Boa Vista, interior de Santa Cruz do Sul, o sol que brilha forte dia após dia trouxe consigo a seca. Os campos não têm mais cor, a água dos açudes está cada vez mais escassa e as lavouras estão morrendo. As criações de animais precisam ser fortes e contam com a criatividade dos produtores para ter alimento. A falta de pastagem tem encarecido a vida no campo e contribuído para reduzir o leite nas ordenhas.
A propriedade da família Luttjohann precisou se adequar a esta realidade. Lá, a estiagem é medida pelos jarros de leite. “Em média nós produzíamos 500, até 600 litros de leite. Hoje, há dias que não conseguimos tirar 300 litros”, contou a agricultora Marlise Luttjohann, 47 anos, que vende o produto para uma empresa de Passo do Sobrado, que manteve os pedidos mesmo com as paralisações devido ao coronavírus.
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A família cria 33 vacas para produção de leite e outras tantas cabeças de gado confinado. Para não faltar mantimentos para a criação, 12 animais tiveram que ser vendidos para um frigorífico. “Vendemos por precaução. Não é a melhor época para venda, mas estavam gordos e mantê-los era mais gasto. Eu não ia mais ter retorno”, disse a agricultora .
Para darem o leite, tirado todas as manhãs, às 7 horas e ao fim da tarde, às 17 horas, as vacas precisam estar bem alimentadas e ganham uma mistura de silagem, pasto, ração e farelo de soja. “Com essa seca, percebemos que o preço aumentou muito, de R$ 20,00 a R$ 22,00 no saco. Compramos 60 sacos de 40 quilos a quase R$ 80,00 cada um. É muito caro”, relatou.
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A alimentação é fator crucial e aliado na qualidade do leite, que determina o valor do produto. “Tem que caprichar. Se tu perder nessa pontuação de qualidade, a situação fica ainda pior, a gente ganha menos. Graças a Deus estamos conseguindo nos manter bem nesse quesito. No último mês tivemos um bom resultado na taxa de limpeza”, comemorou.
Para tirar o leite, a família trabalha unida e se divide nas tarefas. Marlise, o marido Flávio Luttjohann, 49, o primogênito Eduardo, 28, a nora Eliane Alice, 24, e a netinha Milene, 3, esperam na ordenha, toda automatizada, as vacas trazidas do campo pelo caçula André Luis, 17 anos. Eles seguem todas as normas de higiene e segurança. Outro indispensável no serviço, que leva cerca de uma hora, é o rádio, sintonizado na Gazeta, que, além de atualizar a família, segundo Marlise, também acalma as vacas e contribui para manter a boa qualidade do leite.
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Sombra e alternativa
Sensibilizada com os problemas causados pela estiagem, a família ainda auxilia outros produtores. “Esse ano plantamos cerca de 60 hectares de milho. Temos feito muita silagem. Alguns vizinhos que estão em situação pior, sem pasto, nos pedem. O capim, o campo, está todo seco, é muito complicado.”
Marlise contou também que, anos atrás, as vacas ficavam no campo e tinham como proteção apenas os pés de eucalipto. Para comportar melhor os animais e protegê-los do sol escaldante, foi construído um galpão. “Fizemos esta área e plantamos mudas de bananeira ao lado. Além da fruta que colhemos, no inverno os pés barram o vento e no verão proporcionam sombra aos animais”, destacou a produtora Marlise.
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