A estiagem que atinge o Rio Grande do Sul desde o final do ano passado provoca prejuízos não somente na agricultura, mas no abastecimento de água, tanto para o consumo humano quanto animal. Em razão disso, pelo menos dois municípios da região já fazem racionamento: Sinimbu e Herveiras. E a preocupação aumenta diante da falta de previsão de chuva para os próximos dias.
A situação mais grave em consequência da escassez de chuva está em Herveiras. O racionamento atinge todo o município. Na localidade de Linha Pinhal, o abastecimento é feito somente por caminhão-pipa. Diariamente são levados 25 mil litros de água.
O problema também atinge a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Maurício Cardoso. Uma campanha foi organizada para amenizar a situação, conforme explica o responsável pela Defesa Civil em Herveiras, Clécio da Silva. “Desde a semana passada, os alunos estão levando um litro de água para consumir na escola. E nós estamos abastecendo o local com caminhão-pipa, mas a demanda é muito grande”, afirmou.
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Devido ao racionamento, os moradores de Linha Pinhal têm água somente das 9 às 15h30. Em Linha Alto Marcondes, o abastecimento é dia sim, dia não. Em Linha Fernandes, ocorre das 8h30 às 16 horas. Na área central, os horários são intercalados.
“Na parte alta, tem água das 8 às 10h30 e na área baixa, das 8 às 13 horas e depois das 18 às 21 horas.” A prioridade é levar água para o consumo humano. “Não temos o que fazer, pois não há estrutura para atender o restante. Uma retroescavadeira foi colocada à disposição da comunidade para fazer o trabalho de recuperação de aguadas”, disse Silva.
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Em Sinimbu, o abastecimento é mantido por poços artesianos e fontes naturais e há racionamento de água em três localidades. As interrupções ocorrem em Sinimbu Baixo, Linha Verão e Linha São João, conforme explica o secretário municipal de Administração, Carlos Backes Filho. “Em Sinimbu Baixo e Linha Verão o racionamento é de forma intercalada, sendo realizado dia sim, dia não, sempre das 7 às 16 horas. Já em Linha São João, o racionamento não é programado previamente.”
Backes Filho explica que uma equipe trabalha diretamente na abertura de reservatórios de água para animais. “Em média, são solicitados 30 pedidos por dia. Além disso, tanques com 5 mil litros de são levados em camionetes para as propriedades. O serviço é ininterrupto e vai ganhar reforço nesta semana, quando um caminhão será utilizado para auxiliar na ação”, afirmou.
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Escolas
O desabastecimento de água também atinge as escolas de algumas localidades de Sinimbu. Na sexta-feira, a Escola de Ensino Fundamental Guararapes, em Linha Almeida, teve de ser abastecida com 6 mil litros pelo Corpo de Bombeiros. Além dela, a Emef Sete de Setembro e a Emef Luiz Fredrich, em Linha Branca, enfrentam dificuldades. Ambas são abastecidas por fontes naturais que estão comprometidas.
O secretário informou que a Prefeitura prioriza o abastecimento de água potável. “Estamos levando água somente para consumo humano, aleatoriamente para animais. Nossa estrutura não possui capacidade para atender 3 mil produtores e levar água para cada uma dessas propriedades.” Se a estiagem persistir, ele não descarta a possibilidade de racionamento em outros pontos.
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Pela região
Em Passo do Sobrado, o abastecimento está controlado. A maior preocupação, segundo o secretário municipal de Agricultura, José Loreno Baierle, é com a carência de água para consumo animal. “São centenas de pedidos de água, limpezas de açude e criação de poços. Há pessoas que não têm mais uma gota de água para dar aos animais”, comentou. Conforme Baierle, na tarde dessa segunda-feira, o prefeito Hélio Queiroz autorizou a compra de um tanque que deverá levar cerca de 10 mil litros para propriedades do interior. O equipamento será acoplado em um caminhão.
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Em Vera Cruz, embora ainda não tenha racionamento, o município reforça o pedido para o consumo consciente. “Ainda não temos previsão de racionamento, mas a população tem que se conscientizar. A estiagem está bastante acentuada”, afirmou o secretário de Obras, Saneamento e Trânsito, e de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, Gilson Becker. O abastecimento público tem 100% de cobertura na área urbana e 95% no interior. “Em localidades como Alto Ferraz e Dona Josefa, que não dispõem desse abastecimento, os moradores são abastecidos com o suporte do Corpo de Bombeiros.” Segundo o secretário, o número de pedidos de ajuda diários aumentou significativamente. “Na semana passada foram 20 caminhões no total. Mas, atualmente a média está em cinco caminhões por dia. As solicitações de limpeza de açudes e perfurações também aumentaram. Somente na quarta-feira da semana passada foram 30. As máquinas da Secretaria da Agricultura e de Obras estão trabalhando diretamente para atender a essa demanda”, disse.
Em Candelária, a região da serra, que compreende as localidades de Picada Karnopp, Roncador, Três Pinheiros e Passo da Légua, é a mais atingida. Conforme o secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Pesca, Anselmo Vanderli da Silveira, o Wandi, o abastecimento para os moradores é feito por um caminhão do Corpo de Bombeiros. Nesta semana, o município adquiriu junto à Defesa Civil um tanque de água potável de 4 mil litros. O equipamento vai ajudar a levar água para o consumo humano. Já os pedidos de aberturas de aguadas chegam a 20 por dia na Secretaria da Agricultura.
Em Santa Cruz do Sul, a Secretaria Municipal de Agricultura registrou desde dezembro mais de cem solicitações de abertura de reservatórios para animais. De acordo com o secretário Delsio Meyer, a procura aumentou significativamente. “Estamos agora com dez pedidos por dia. Mesmo assim, estamos conseguindo atender à demanda.” A região mais afetada envolve as localidades do distrito de Rio Pardinho. Para o consumo humano, são destinados em torno de 40 mil litros diários. No entanto, o secretário de Meio Ambiente, Raul Fritsch, garantiu que a situação está sob controle.
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Em Venâncio Aires, há pelo menos 30 pedidos de abastecimento de água potável por dia para famílias do interior. Segundo o prefeito Giovane Wickert, um dos maiores problemas é de logística. “O município é bastante grande, quando o local fica mais próximo tudo facilita. Do contrário, tentamos identificar se a demanda é animal ou humana, e qual a distância.” A parte mais afetada é a região serrana, que compreende o 3º Distrito, onde fica a localidade de Vila Deodoro. Já na parte baixa, falta água para os animais na localidade de Estância Nova.
Em Vale Verde, a situação também é muito complicada. Além da falta de abastecimento para consumo animal, há problemas para suprir a demanda das famílias. O secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Obras, Emir Rosa da Silva, afirmou que o número de pedidos aumentou consideravelmente. “Mais de 50 pedidos foram feitos nos últimos dias para os serviços de aguadas.” O município não dispõe de caminhão-pipa, e o abastecimento é feito com o auxílio de um trator com tanque acoplado. As localidades mais atingidas são Monte Alegre, Dourados e Buraco Fundo. Nos próximos dias, um poço artesiano será perfurado na localidade de Cerro do Chileno. Outro deverá ser licitado para contemplar os moradores de Monte Alegre.
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