A chegada de um novo ano com mais um verão escaldante acende o alerta para a falta de água em todo o Rio Grande do Sul. No Vale do Rio Pardo, a estiagem já castiga plantações e a previsão, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é de que, no primeiro trimestre de 2022, o problema persista. A seca é causada pelo fenômeno La Niña, em que a água do Oceano Pacífico fica 2 graus mais fria, o que significa menos precipitação no Sul do Brasil e mais chuvas no Nordeste e no Norte.
Em entrevista ao programa Estúdio Interativo, da Rádio Gazeta FM 107,9, nessa segunda-feira, 3, o professor de Agrometeorologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Marcelino Hoppe, declarou que a previsão para a região é de chuva abaixo do normal nos próximos três meses. “O normal seria cerca de 400 milímetros, mas vai estar em torno de 50 milímetros abaixo. Como nessa época a evapotranspiração é de 380 milímetros, para todas as culturas que estiverem em florescimento o ideal seria chover 20% acima da transpiração, 500 milímetros, mas o previsto é de 300 a 350”.
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Hoppe explicou que a característica da região é de ciclo de dez anos, com três anos bons, três anos médios e três anos em que chove menos do que o ideal. Conforme a medição da Estação Meteorológica da Unisc, em 2020 foram 1.475 milímetros, sendo o único ano com poucas chuvas desde 2013. Em 2021, choveu 1.702 milímetros, o que é acima da média, fixada 1.681. Aparentemente, as precipitações estão diminuindo; então, em seis ou sete anos a região deve voltar para um ciclo de mais chuvas do que agora. “O milho sofreu muito, a soja está em floração. Eu desejaria que chovesse muito mais do que está previsto”, frisou.
O fim de 2020 teve três meses de muita seca, e 2021 iniciou sem chuvas até o dia 20, quando uma bomba d’água atingiu Santa Cruz do Sul. Na ocasião, foram 112 milímetros em um único dia. O ano passado também teve recorde de falta de precipitações em abril, com apenas 16 milímetros. Para Hoppe, maio foi um mês bom; e junho e julho ficaram abaixo. Agosto e setembro estiveram acima da média; já outubro, novembro e dezembro voltaram a ter pouca chuva.
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Quanto às temperaturas, a região não enfrentou marcas extraordinárias, segundo Marcelino Hoppe. A maior temperatura do ano foi registrada em 11 de janeiro, com 39,6 graus; já no domingo, segundo dia de 2022, Santa Cruz marcou 40,2 graus. A mínima do ano foi em 30 de julho, com 1,7 grau, mas não chega nem perto dos -3,6 graus registrados em 14 de julho de 1967, frio recorde no município. O professor ressaltou que, nos últimos 20 anos, as mínimas do início da manhã estão mais quentes do que o normal; então, 2021 teve temperatura acima da média.
Quanto à sensação térmica, Hoppe relatou que é o que sente uma pessoa trabalhando ao sol às 15 horas da tarde. A mais alta sensação térmica já registrada em Santa Cruz foi de 52 graus. O termômetro oficial fica sobre a grama, a um metro e meio de altura, e dentro de uma proteção branca, enquanto os termômetros de rua geralmente possuem uma cobertura metálica preta, e por isso mostram uma temperatura maior.
O professor de Agrometeorologia da Unisc ensina que, desde outubro de 2021, vive-se meses com déficit de chuva. O solo normal consegue reter cerca de 100 milímetros, poderia ficar quase um mês sem chuva, e a plantação não sofreria tanto. Contudo, com a evapotranspiração no verão, a planta começa a murchar, até chegar ao ponto de não se recuperar. As medições da Unisc feitas desde 2004 apontam que a primavera está 24% mais chuvosa, há 11% mais chuva no verão, 9% menos no outono e 7% menos no inverno. “Estamos numa região boa. O problema é a distribuição. O que pode ser feito tanto na área rural, no interior, quanto na cidade é reter água”, disse. Edifícios poderiam ter estruturas de retenção de água no subsolo, para que seja liberada mais lentamente até chegar aos rios.
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Com informações do jornalista Ronaldo Falkenback
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