Há pouco mais de 20 anos, o pelotense, então radicado em Porto Alegre, Carlos Galant foi chamado à capital federal. O objetivo era atuar de forma que compartilhasse conhecimento em transferência de tecnologia e incubação no Centro Tecnológico da Universidade de Brasília (UnB). Formado em Administração, integrou projeto resultado de parceria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), UnB e Embrapa para a transferência de tecnologia para o mercado. Nessa época, participou de processo seletivo interno na instituição de ensino, que acabou o conduzindo à direção executiva da Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), função que exerce até o fim deste mês.
A falta de conhecimento mais específico na área não foi problema. Tinha contato com o setor, por meio do relacionamento com empresas fornecedoras de equipamentos para as fumageiras, mas entendeu que o ideal seria fazer uma imersão na cadeia produtiva. Veio para Santa Cruz do Sul e inteirou-se de todas as etapas, desde o produtor até a transformação e comercialização. “O setor é complexo como outros, mas tem um adicional, que é o fato de ser regulado. Isso é um dificultador”, destaca.
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As duas últimas décadas, período em que Carlos Galant esteve na direção da Abifumo, foram de importantes mudanças e desafios para o setor. Começa com a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que passou a regular alguns produtos e segmentos, como a cadeia produtiva do tabaco. Galant cita outro momento impactante, que foi a adesão do Brasil à Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), em 2005, mesmo estando entre os maiores exportadores mundiais. “Conforme passaram os anos, foi se tornando mais complexo, aumentando as dificuldades”, conta.
Um diferencial, no entanto, fez com que houvesse evolução: a independência da cadeia. “Diferente de outras atividades, a fumicultura não depende de ações do governo, ela é independente, tem a integração como ponto forte e mecanismos, como o seguro mútuo da Afubra, que auxiliam o produtor”, enfatiza.
Mesmo com essa característica, Galant entende que os produtores deveriam ter espaço para maior acesso à Conferência das Partes (COP), instância deliberativa da convenção, que ocorre a cada dois anos. “As questões sobre a produção e transformação vão sendo discutidas sem que se dê acesso aos produtores”, diz.
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Dizer que o setor é unido não faz parte apenas de uma afirmativa retórica de Galant. Ele viveu a experiência de formar grandes parcerias com entidades como o Sinditabaco, a Frente Parlamentar do Agronegócio, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em benefício dos associados. “Tivemos relações profícuas com todos esses parceiros”, frisa.
A saída, devido à aposentadoria, será efetivada no fim de julho. Durante o mês de agosto, auxiliará o período de transição para a nova direção, que está em processo de escolha pelo conselho da entidade. “Saio com grande satisfação pelo trabalho realizado e do grupo de amigos que fiz”, acrescenta. Prestes a fazer 66 anos, Carlos Galant ainda não definiu o futuro profissional, nem pessoal. Diz que aproveitará até o fim do ano para tomar a decisão, com a esposa, se continuarão em Brasília ou voltarão para o Rio Grande do Sul.
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Regulados, mas independentes e inovadores, os integrantes da cadeia produtiva do tabaco têm demonstrado união, acredita o dirigente. Isso faz com que outra peculiaridade seja atribuída ao setor: o pioneirismo. “Se existe uma palavra que resume toda a atividade é o pioneirismo”, afirma Galant. Exemplifica com questões como o incentivo à diversificação, que amplia a rentabilidade da propriedade, sobretudo quando está no período de resteva do tabaco. Além disso, acrescenta a implantação de mecanismos de sustentabilidade, com reserva ambiental e a ideia do incentivo ao estudo para os jovens. “O pioneirismo, a inovação, que muito se fala, existe desde o início do processo no setor”, ressalta.
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