Instalada em meio a uma “tapera”, a Praça Costa e Silva pode ser considerada o início do crescimento do Bairro Arroio Grande e de todo o desenvolvimento da Zona Sul de Santa Cruz do Sul. A homenagem ao general que foi conhecido pelo “Milagre Econômico” parece ter encontrado ambiente fértil nas terras cortadas pela antiga linha férrea.
A praça que já teve muitos apelidos abriu o caminho para o crescimento da região, o surgimento de novos bairros e a expansão territorial para a Zona Sul do município. A praça de diversões do Arroio Grande, do Ana Nery, do teatro e dos grandes encontros familiares é o cartão de visitas dos bairros e o orgulho da população que mora em seu entorno.
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No tempo em que os trilhos cortavam a Costa e Silva
Embora a linha férrea já não estivesse mais ativa quando a Praça Costa e Silva foi criada, entre os anos de 1967 e 1970, os trilhos do trem ainda estavam no local. Isolde Teresinha Birk mora em frente à praça há 75 anos. Daquele tempo, ela só tem a memória ativa.
A aposentada conta que o lote de terra onde foi instalada a praça era um matagal, e ninguém queria. “Tinha uma irmã minha que morava ao lado da minha casa, mas ela não gostava daqui. Vendeu, pois nem estrada tinha”, recorda. Isolde conta que antes da instalação da praça, o chamado bairro-cidade parecia-se com um imenso potreiro. Sem cercas, os terrenos eram como propriedades rurais e as famílias faziam tudo a pé. “Foi ao redor desta praça que tudo cresceu e se desenvolveu. Atualmente, não tem nada que lembre aquela época.”
Hoje, na companhia do esposo Selvino, de 70 anos, e das netas Mariana e Maiana, a família aproveita as manhãs de folga – das gurias, que estudam à tarde – para curtir a praça. Selvino contribuiu para a paisagem atual. Ele plantou uma carreira de pés de canela e tipuanas, responsáveis pela sombra ao redor da quadra de esportes da praça. “Tinha falta de sombra. Acho que ficou bom. O problema é que hoje a gente limpa as folhas dentro de casa”, confessou o aposentado.
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A família Birk, assim como tantas outras que residem nas proximidades da Costa e Silva, mantém uma relação de amor com a praça. Como se ela fosse – e de fato talvez seja – o coração dos bairros que estão à sua volta. “É muito bom morar aqui. Este é o melhor lugar de Santa Cruz, e a nossa praça mais bem-cuidada”, complementou Isolde.
A cuidadora Neli de Carvalho, de 53 anos, é vizinha da Presidente Costa e Silva há 7 anos. Da calçada na Rua Pereira da Cunha, ela varre as folhas em frente a sua casa e observa o capricho da praça. Mesmo não estando sob a tutela dos moradores, o espaço de lazer é limpo. Não tem mato crescendo e nem lixo espalhado pelo chão. “A Prefeitura vem aqui e seguidamente varre, corta grama e conserva a pracinha. Trata-se de um espaço muito agradável, somos privilegiados”, conclui.
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Trocada pelo calçamento
A praça dos bairros Ana Nery e Arroio Grande foi criada pela lei ordinária 1.400, assinada em 11 de julho de 1967 pelo então prefeito Orlando Oscar Baumhardt. Na época, havia uma área de terras irregular, do tamanho de 1.338 metros quadrados, que fazia divisa com a antiga linha férrea, que cortava Santa Cruz do Sul na direção de Rio Pardo.
A área pertencia a Willy Fernando Stahl e era conhecida como Estrada Arroio Grande. De um lado, os trilhos do trem; do outro, a já promissora Avenida Deputado Euclydes Nicolau Kliemann. Como pagamento pelo lote de terra, o Município assumiu o calçamento em frente à propriedade de Sthal, em uma área de 30 metros, na Euclydes Kliemann, quando fosse realizada a pavimentação daquela via.
Inicialmente, o local foi chamado de Praça de Diversões, e assim permaneceu por pouco mais de três anos. Em 31 de dezembro de 1970, o ex-prefeito Edmundo Hoppe editou a lei municipal 1.827, oficializando o nome de 124 ruas, de diferentes bairros de Santa Cruz, e batizando 12 praças. Entre elas, a Praça de Diversões, que passou a chamar-se Presidente Costa e Silva.
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Durante muito tempo, o espaço foi chamado de Praça do Arroio Grande. Com a divisão dos bairros, a área onde está a Presidente Costa e Silva ficou no Bairro Ana Nery, sobre a divisa dos dois territórios. Para os moradores, difícil é não dizer que aquela é a “pracinha” do Arroio Grande, criada lá há quase 53 anos.
A parte da praça na qual estão as quadras de basquete, o palco e os brinquedos tem 1.338 metros quadrados. Já todo o espaço que vai do cruzamento da Avenida Deputado Euclydes Nicolau Kliemann e da Rua Conselheiro Ridel até a esquina da Rua Amapá com a Avenida Deputado Euclydes Nicolau Kliemann, onde está a Feira Rural, um ponto de táxi e um dos lados da passarela do Arroio Grande, mede 5.881 metros quadrados.
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Praça que atrai novos moradores para os bairros que são vizinhos
As manas Cristiane de Campos, 33 anos, e Paula de Campos, 40 anos, escolheram morar entre os bairros Ana Nery e Arroio Grande por causa da praça. Naturais de Rio Pardo, elas buscam alugar uma casa em Santa Cruz para trazer a grande família para cá, mas não abrem mão da Praça Presidente Costa e Silva. “Toda vez que a gente volta de Santa Cruz para Rio Pardo, passa aqui em frente. As crianças ficam olhando. Em nossa cidade não existem espaços assim”, confessou Cristiane.
Juntas, as irmãs têm em suas casas rio-pardenses quase um time de futebol misto. Paula, a mais velha, é mãe de quatro: Samanta, 20 anos; Eduardo, 17; Diogo, 15; e Gustavo, 10. Cristiane é mãe de Eduarda, de 17; Amanda, de 14; Carla, 12; e do pequeno Enzo Gabriel, de três anos. Ele veio com a mãe e a tia escolher a casa. Depois de terem dado várias voltas pelos dois bairros, o local escolhido a fim de uma paradinha para o lanche, antes de retornar a Rio Pardo, não poderia ser outro: a Costa e Silva.
Enzo Gabriel corre em meio aos brinquedos e aos aparelhos de ginástica, da academia ao ar livre instalada na Praça. “Ele adora, gosta de correr. Nós queremos uma casa aqui pelas redondezas, pois queremos usufruir desta praça, que é tão bonita. Sonhamos com o dia em que iremos morar aqui e, no fim de semana, trazer a família para brincar”, revelou Cristiane.
Paula, que tem parte da prole já com mais idade, está preocupada com o futuro dela. Ouviu que em Santa Cruz do Sul há cursos profissionalizantes gratuitos, instrução para encaminhar seus descendentes na vida. “Aqui tem emprego também. Em Rio Pardo, se não trabalhar na panificadora, só resta o comércio, que está cada vez menor”, disse Paula, deixando falar mais alto o coração aflito de mãe.
Nos dois bairros – Arroio Grande e Ana Nery –, as mães também ouviram falar que é muito bom de morar. Seguro, com pouca violência e uma vizinhança acolhedora. “Tomara que a gente encontre uma casa aqui do lado. Olhamos alguns imóveis, mas precisamos de duas casas no mesmo terreno, e elas não podem ser grandes, nem muito caras”, decretou Paula. Ela, a irmã e os filhos, ao todo são dez moradores. “É uma festa completa, não precisa convidar ninguém”, brincou a rio-pardense.
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Palco de teatro
Entre as décadas de 1990 e 2000, a Praça Presidente Costa e Silva foi palco de espetáculos natalinos, durante vários anos. Na época, havia no Bairro Arroio Grande o Estrela-guia Grupo de Teatro. Formada por adolescentes, a atividade de teatro amador levou, por diversas vezes, centenas de espectadores para a praça, convidados a assistirem às peças de teatro de Natal.
A programação era tradicional no bairro, e lembrada dentre as festividades de Santa Cruz do Sul. Integrava o calendário oficial de eventos da Christkindfest e mobilizava a comunidade. Na época, a Costa e Silva foi também conhecida como a Praça do Natal, a Praça do Teatro. O grupo encerrou suas atividades em 2007, após ter realizado várias encenações no palco da Costa e Silva.
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