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Preservar o patrimônio não se trata de construções

Foto: Alencar da Rosa

Antiga Estação Férrea e atual Centro de Cultura será um dos locais abertos à visitação. Evento tem como objetivo incentivar a comunidade a conhecer os prédios históricos

Neste sábado, 17 de agosto, é comemorado o Dia Nacional do Patrimônio Cultural, com atividades também em Santa Cruz do Sul. O evento é proposto pela Secretaria de Estado da Cultura e se relaciona ainda com a Semana do Patrimônio, promovida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan).

O objetivo é mobilizar instituições e grupos governamentais ou não, gestores e produtores culturais a colaborarem para a organização de atividades voltadas ao reconhecimento, à sensibilização, à valorização e à preservação.

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Nessa esteira, a Gazeta do Sul ouviu profissionais de áreas distintas dentro da arte, da arquitetura e da culinária para mostrar o que Santa Cruz tem para mostrar a visitantes. Além de ser um dos berços da colonização germânica no Estado, o município se destaca por sempre ter sido o polo regional do Vale do Rio Pardo e de toda a região central do Estado, bem como por ter preservado diversos prédios, monumentos, obras de arte, documentos e muitos outros itens que fizeram parte dos seus 175 anos
de história.

O que Santa Cruz do Sul tem a mostrar

Arquiteto e professor, Alex Carvalho Brino afirma que Santa Cruz do Sul tem muito a mostrar. Ele enfatiza que, quando se fala de patrimônio, não se trata somente de construções antigas, monumentos e estátuas. Pode ser também uma paisagem natural, um alimento, uma bebida, uma dança, música ou até mesmo um evento, entre outras possibilidades. Além disso, para que qualquer um desses citados seja considerado um patrimônio, não necessariamente precisa ser antigo.

Dentro desse contexto, a artista Márcia Marostega enfatiza que Santa Cruz tem muito a mostrar. Além dos diversos prédios históricos, como a Catedral São João Batista, o Palacinho, a antiga Estação Férrea, o antigo Fórum e a Casa das Artes Regina Simonis, para citar alguns, o município oferece muito mais, e um dos exemplos é o alimento mais tradicional: as cucas. Marcia lembra que já existem concursos para escolher as melhores cucas, e todo o processo culinário envolvido na criação da massa e da cobertura pode ser considerado um patrimônio.

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“Imagina quantas vezes essas pessoas testam sabores e usam a criatividade para incrementar e obter algo diferente?”, observa. Brino recorda que a Itália transformou a pizza napolitana em patrimônio cultural imaterial reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A instituição justificou o reconhecimento devido ao valor da pizza para a economia local e a identidade cultural do país.

Eventos podem ser considerados patrimônio

Apesar de ser uma cidade com fortes raízes germânicas e ter seu principal evento – a Oktoberfest – baseado nelas, Santa Cruz do Sul se destaca ainda por muitos outros, que atraem milhares de pessoas e colocam o nome da cidade em evidência. Alex Brino cita o Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart) e as etapas da Stock Car e da Copa Truck como outros exemplos consagrados, chamando a atenção para a diversidade de atividades que atraem diferentes públicos e faixas etárias.

A consolidação destes motivou a criação de outros, mais recentes, mas que também alcançaram grande sucesso, como a Procissão das Criaturas, o Festival Santa Cruz de Cinema, o Festival da Cerveja Gaúcha, o Festival de Balonismo e, mais recentemente, o Santa Cruz Jazz n’ Blues.

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Uma das maiores manifestações da arte e cultura gaúcha, o Enart é realizado em Santa Cruz desde 1997 e se tornou parte da cidade

“O Festival Santa Cruz de Cinema está crescendo muito e logo será um dos maiores do País. Será Gramado e depois Santa Cruz, que já se destaca entre os curta-metragens.” Neste ano foram 827 trabalhos inscritos, produzidos em todos os estados brasileiros.

Natural de Santa Rosa, Márcia Marostega dedica a vida às artes e reside em Santa Cruz há 30 anos. “Falta agora um festival de artes visuais. Nós fazemos exposições, trazemos pessoas, acredito que estamos no caminho para chegar lá.” O apoio do poder público e da comunidade, entretanto, é fundamental na visão dela para que projetos como esse possam progredir.

Quando se fala de apoio, acrescenta a artista, não se trata de prestigiar ou apenas tolerar a existência da iniciativa. É preciso educar a população e despertar nas pessoas a compreensão de que eventos desse tipo atraem turistas, movimentam a cidade e fazem a economia local girar. Geram renda para os participantes e também aos trabalhadores de diversos segmentos envolvidos na organização, montagem das estruturas, segurança, higienização, transportes, alimentação e muitas outras atividades relacionadas.

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Preservação não é tombamento

Com diversas construções antigas – muitas delas restauradas e conservadas, Santa Cruz também apresenta grande potencial na preservação. Alex Brino faz questão de ressaltar que preservar não é tombar. Isto é, não é necessária a ação do poder público para determinar a preservação; isso pode partir dos proprietários e também dos cidadãos, que, muitas vezes, não conseguem perceber a importância desses patrimônios. “Quando o pessoal vai para a Europa, a Paris ou a Barcelona, vai para ver os subúrbios industriais ou a parte histórica?”, questiona.

“É preciso entender que a nossa parte histórica deveria ser mais valorizada porque ela atrai turistas.” Para alcançar essa valorização, a presidente da Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul, Carolina Knies, acredita que os santa-cruzenses precisam conhecer mais esses espaços, como a Casa das Artes Regina Simonis. “Quantas pessoas moram em Santa Cruz, passam aqui na frente [da Casa das Artes] e nunca entraram?” O acesso, reforça Carolina, é gratuito e as exposições mudam periodicamente.

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Casa das Artes recebe diferentes exposições e tem acesso gratuito a todos

Ainda na questão econômica, Brino cita exemplos de sucesso em que preservação do patrimônio e geração de renda andam lado a lado, como Paraty, no Rio de Janeiro, e Ouro Preto, em Minas Gerais. “Devemos entender que patrimônio é um produto e precisa ser melhor comercializado. As pessoas têm de ver nele uma fonte de renda.” No entanto, essas iniciativas não podem ser impostas pelo poder público ou pelas empresas; são fundamentais a compreensão e o apoio da comunidade. “Para isso, precisamos educar a base, levar isso às pessoas e discutir.”

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