A falta de energia elétrica provocada pelo temporal na semana passada segue em discussão. Na última quinta-feira, o gerente de serviços comerciais da RGE, Fábio Calvo, falou à Rádio Gazeta FM 107,9 e detalhou os danos provocados na rede, que deixaram milhares de moradores do Vale do Rio Pardo sem luz. Destacou que a maioria dos estragos foram causados por galhos arremessados pelo vento. E, para que as equipes pudessem realizar os trabalhos de manutenção, passaram boa parte do tempo removendo a vegetação antes de iniciar os reparos.
“No temporal, não observamos postes que caíram em razão do vento. Quando a rede arrebentou foi porque muitos objetos foram lançados contra ela, especialmente árvores de grande porte”, afirmou. Salientou que a área rural foi a mais afetada por apresentar menos obstáculos ao vento, que passou dos 130 quilômetros por hora.
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Diante desse cenário, Calvo reforçou a necessidade de refletir sobre a convivência da arborização com a rede elétrica. Na sua opinião, é necessária a criação de políticas públicas para reduzir os impactos da vegetação na estrutura responsável pelo fornecimento de energia, especialmente em casos de tempestade.
“Não estamos falando que não deva haver árvores, precisamos ter uma cidade bem arborizada, mas precisamos ter espécies que convivam melhor com a rede”, frisou. Para isso, considerou fundamental a participação do público nesse debate. Sobretudo, sobre a presença de árvores de grande porte no interior dos pátios. Se essa questão não avançar, frisou que, de tempos em tempos, vendavais de grande porte continuarão a deixar muitas pessoas sem luz.
Para o ambientalista, geólogo e ex-prefeito de Santa Cruz do Sul, José Alberto Wenzel – responsável por coordenar o Movimento pelo Cinturão Verde, ação voltada para a proteção do corredor ecológico –, o convívio entre a arborização é necessário. No entanto, não deve ser limitado à rede elétrica, mas com todo o processo de urbanização.
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“Porém, começar a culpar as árvores por problemas de energia é um total contrassenso”, constatou. “No momento que a gente começar a achar que as árvores são culpadas, estaremos criando um grande problema.”
Sem a vegetação, enfatizou, agravam-se as consequências do efeito estufa. Também há a redução dos benefícios de sua presença, como maior proteção em temporais como o registrado recentemente, tanto na área urbana quanto na rural. As árvores são responsáveis pela oxigenação da cidade e por garantir um conforto térmico à área urbana, equilibrando o clima, além de absorver poeiras e ruídos.
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“As árvores trazem vantagens extremamente maiores do que uma eventual queda. Elas são vítimas nesse processo, culpadas são as podas desastrosas que são feitas e desequilibram suas estruturas.” Para Wenzel, é necessário um processo de urbanização que comece com a presença de espécies adequadas, sobretudo nativas e não exóticas, melhorando a harmonização entre o meio ambiente e as edificações.
Na região de Linha Felipe Nery, o morador Haroldo Franz, 85 anos, preparava-se para mais uma noite sem energia elétrica. O desabastecimento aconteceu na noite de 14 de janeiro, domingo. Além dos estragos causados pelo temporal – resultando na perda de móveis, comida e outros pertences – precisou viver à luz de velas. Também ficou sem água, após o serviço ficar comprometido pela falta de energia, sendo necessário fazer o trajeto de um quilômetro para buscar e não ficar sem. Porém, no entardecer dessa sexta-feira, após muitas frustrações, o serviço foi normalizado, para o alívio do idoso e da sua família.
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Na sexta-feira, moradores da localidade de Alto Boa Vista, interior de Santa Cruz do Sul, completaram 12 dias sem eletricidade. Não havia previsão de o restabelecimento ocorrer durante o final de semana.
Luciane Baier, de 41 anos, e o marido, Ilgo Bender, 53, precisaram mudar a rotina para suportar a falta de eletricidade. Ao anoitecer de sexta-feira, o casal acendeu uma lamparina, registrou o momento e publicou nas redes sociais. “Assim estamos há 12 noites, como era antigamente”, escreveu Luciane.
Para a propriedade não ficar totalmente desabastecida, adquiriram um gerador que, apesar de ser utilizado de forma limitada, já consumiu mais de 380 litros de combustível. Os gastos com gasolina já passaram de R$ 2 mil. Em frente a uma das propriedades do casal, onde estão construindo sua futura residência, os estragos provocados pelo temporal permanecem. Tábuas que pesam mais de 60 quilos estavam espalhadas pelo local. “Parecia papel voando”, contou Ilgo.
Telhas de um galpão que acabou destelhado foram parar a metros de distância. Duas delas permanecem encravadas em um pedaço de madeira, demonstrando a força – e o perigo – do temporal. “Foi histórico. Vivo há cinco décadas aqui e nunca tinha visto algo assim.” Próximo ao galpão, um poste de madeira repousa em uma árvore, derrubado pelo vento. Adiante, é possível observar mais colunas inclinadas, como se estivessem perto de cair. A rede que passa em frente à propriedade, conforme o casal, é responsável pelo abastecimento para outras famílias que vivem na localidade. “Entendemos que foi uma catástrofe natural, mas não podemos ficar assim, sofrendo prejuízos”, afirmou o produtor.
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