Um salgadinho ontem, uma bolachinha hoje, uma pipoquinha amanhã. Quem nunca alimentou macaquinhos no parque que atire a primeira pedra. Tão corriqueiro, esse hábito pode ser até divertido, mas nada tem de inofensivo. O que a primeira vista parece uma simples brincadeira afetuosa e até um agrado com os bichinhos, no final das contas pode leva-los a morte.
É o que se vem constatando no Parque da Gruta, onde a alimentação fornecida pelos visitantes está influenciando negativamente na saúde e no comportamento dos macacos-prego, os quais, quando em busca por alimentos ricos em açúcar e gordura, mostram-se cada vez mais agressivos. Não raro eles entram e derrubam as lixeiras em busca desses alimentos, revirando tudo o que encontram pela frente. Alguns chegam até a roubar dos visitantes.
Ciente dessa situação, na última semana, o prefeito Telmo Kirst convocou uma reunião, com a participação de técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade (SMMASS) e da Unisc – Departamento de Biologia para tratar do assunto. Na ocasião ele determinou a análise e posterior adoção de medidas para reverter o quadro. As alternativas elencadas vão desde melhorias estruturais com a instalação de lixeiras fixas ao chão e com tampas para evitar que os animais comam alimentos impróprios e prejudiciais à saúde, passando por ações educativas junto à população, monitoramento dos bandos que frequentam o parque, até a oferta de novas fontes naturais de alimentos como bromélias e árvores frutíferas.
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Em parceria com os alunos do curso de Biologia da Unisc e com voluntários, nos próximos dias será divulgada uma campanha para ornamentação do parque, justamente com plantas que podem fazer parte da dieta dos macacos, fazendo com que eles não recorram aos alimentos industrializados.
Dadas as transformações pelas quais o Parque da Gruta vem passando, com a instalação de equipamentos para a prática do ecoturismo – estações de arvorismo e esportes de aventura, trilhas, tirolesa e outros – o público frequentador deve aumentar significativamente. Assim medidas de orientação são fundamentais para que a relação homem x fauna local seja harmoniosa, saudável e segura.
Como explica a bióloga da SMMASS, Daniela Silveira, alimentar macacos, mesmo que com frutas, ou ainda deixar alimentos/embalagens desprotegidos em ambientes aos quais eles tenham acesso, faz com eles se acomodem. Isso leva ao aumento do número de indivíduos dentro do parque, já que com o acesso facilitado ao alimento eles não precisam mais buscá-lo por conta própria. “No final todos saímos perdendo, pois humanos e macacos acabam influenciando no desequilíbrio do ecossistema, prejudicando a fauna e flora locais. Os animais são importantes disseminadores de sementes, mas deixam de cumprir esse papel quando passam a comer salgadinho, bolacha, pipoca, etc.” disse a bióloga.
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Para alcançar o propósito de uma relação mais saudável entre os visitantes e os macaquinhos, a contribuição da comunidade será fundamental em todo o processo. Daniela explica que hoje, mesmo com a existência de placas informando sobre a proibição de alimentar os animais, as pessoas ainda insistem nessa prática equivocada. Além de reforço na sinalização as ações vão focar mais em educação ambiental permanente. Para ela é fundamental que o visitante saiba que o hábito de alimentar os macacos pode causar disenteria, levar a formação de úlceras, queda de dentes e deformidades físicas. Nas fêmeas pode estimular o aborto. “De posse da informação temos a certeza de que os visitantes serão também os protetores dos macacos”.
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