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Prefeitura quer reforçar energia no interior de Santa Cruz

Nair e Egon: na propriedade em Andrade Neves, não há como ligar o ar-condicionado

Pouco depois da eleição de 2020, Helena Hermany (PP) e Elstor Desbessell (PP), então prefeita e vice-prefeito eleitos, foram convidados para um jantar na propriedade de um apoiador no interior. O dia estava abafado e quando chegaram à residência, em Linha Andrade Neves, o anfitrião, Egon Kurtz, perguntou: “Vocês preferem ficar com o ar-condicionado ligado ou beber cerveja gelada?”. Não era brincadeira: a carga de energia elétrica disponível na região não é suficiente para manter o split e o freezer funcionando ao mesmo tempo. O episódio serviu de inspiração para um projeto de grande impacto social que está em vias de ser lançado pelo Palacinho. O objetivo é turbinar a oferta de energia na zona rural de Santa Cruz por meio da implantação de redes trifásicas.

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Atualmente, uma parcela significativa do interior ainda é servida por redes monofásicas, que, na maioria dos casos, não comportam mais as demandas das propriedades, o que impõe limites tanto ao trabalho nas lavouras quanto à qualidade de vida dos moradores. Pelo projeto, a Prefeitura vai arcar com a contrapartida cobrada da concessionária para a substituição das redes. Geralmente, esse custo é rateado entre os moradores atendidos, o que se tornou um dos principais entraves para o avanço da energia trifásica. “Se a Prefeitura não se envolve, o processo é muito demorado. Queremos que isso ande, por isso precisamos colocar esse recurso”, observa Elstor.

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A iniciativa se tornou possível graças a uma mudança na lei da Patrulha Agrícola Municipal aprovada pela Câmara de Vereadores em setembro passado, que incluiu investimentos em melhorias de estrutura de energia elétrica e internet entre os que podem ser subsidiados pela Prefeitura. A sugestão à época partiu do líder de governo na Câmara, Henrique Hermany (PP).

A região de Andrade Neves, que fica no distrito de Boa Vista, será a primeira atendida em uma ação-piloto. Conforme Elstor, a implantação da nova rede deve começar em fevereiro e a previsão é alcançar de 25 a 30 famílias, em um investimento de cerca de R$ 106 mil. Até o fim do ano, porém, o plano é levar o programa para pelo menos mais dez comunidades. “Com isso, vamos conseguir dar um up muito grande no interior”, observou.

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A definição das localidades que serão contempladas tomará como base pedidos já encaminhados à RGE e zonas onde as dificuldades decorrentes da falta de energia de qualidade são maiores – que, geralmente, são as regiões mais afastadas da zona urbana. Segundo o vice-prefeito, a medida é necessária, inclusive, para conter o êxodo rural crescente e estimular a permanência dos jovens no campo e, com isso, garantir a subsistência do agronegócio.

“É raro hoje achar um produtor que ainda amarra o fumo, a maioria tem as tecedeiras. Os próprios fornos de fumo, hoje a tecnologia é toda elétrica. Além disso, o produtor tem freezer, tem ar-condicionado, tem vários equipamentos eletrônicos. E antigamente as redes eram feitas só para levar luz”, comentou.

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A Prefeitura também planeja investir em internet e redes hídricas no interior. Nesta semana, Desbessell, na condição de prefeito em exercício, pediu à RGE que realize um mutirão para podas de galhos que oferecem riscos aos fios de alta tensão.

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Cinco anos sem ar-condicionado

Mesmo com os termômetros indicando mais de 30 graus, o ar-condicionado da casa de Egon Kurtz não funcionava por volta das 15 horas dessa quarta-feira, 4. Ao receber a reportagem da Gazeta do Sul, o agricultor de 64 anos revelou: há cinco anos o aparelho não é ligado. O receio é de que a rede não dê conta ou de que algum outro equipamento queime.

Kurtz vive no mesmo lugar desde que nasceu e hoje divide a propriedade com a esposa Nair. Há cerca de 15 anos, na medida em que mais produtos eletrônicos foram sendo adquiridos pela família, a carência de energia na região começou a incomodar. “A luz é tão fraca que quando usamos o chuveiro, não dá para ter mais nada ligado. Já queimou geladeira e máquina de lavar roupa”, relata. Mesmo assim, chega a pagar R$ 300,00 de conta de luz por mês.

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O problema não é só dentro da residência: na lavoura, a energia também faz falta. Para moer milho, por exemplo, ele precisa utilizar um motor a gasolina que pesa mais de 90 quilos e que, além de ser difícil de transportar, custa caro. Essas dificuldades, conta, estão entre os motivos que levaram a única filha do casal, hoje com 40 anos, a deixar a localidade, assim como vários vizinhos. “Se continuar assim, daqui uns anos isso aqui vai ser tudo mato”, afirmou.

Segundo o produtor, inúmeros pedidos para instalação de uma rede trifásica na localidade já foram encaminhados. O investimento chegou a ser prometido pela concessionária, tanto que um poste foi erguido na entrada de sua propriedade, mas não passou disso. Kurtz chegou a cogitar entrar na Justiça, mas agora aguarda a promessa feita pela Prefeitura.

“Isso é fundamental”

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Santa Cruz, Sérgio Reis, como o uso cada vez mais comum de maquinário com propulsão elétrica e irrigação com motobomba nas lavouras, a deficiência de energia impede muitas propriedades de se desenvolverem. Reis mantém uma propriedade em Quarta Linha Nova Baixa que há 15 anos passou a contar com energia trifásica. “Isso é fundamental, inclusive por uma questão de segurança. Se há uma sobrecarga, pode gerar risco para a residência”, alegou.

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Conforme Reis, atualmente os avanços são lentos porque, além do custo para troca de poste e fiação, a concessionária ainda pede a contrapartida pela implantação da rede. Como as necessidades variam entre as propriedades, nem sempre a comunidade consegue se unir para viabilizar o investimento. “Se a Prefeitura bancar a parte externa, cada proprietário poderá fazer a ligação conforme as suas condições. E à medida que comprarem mais maquinários, por exemplo, o investimento vai retornar aos cofres do Município na forma de imposto”, comentou. Ainda de acordo com ele, as regiões onde há mais carência já sofrem com outros problemas estruturais, como dificuldades de acesso.

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