São muito frequentes os dias em que moradores de algumas ruas do Bairro Goiás, em Santa Cruz do Sul, acordam e se deparam com garrafas de bebida, urina, fezes humanas, camisinhas e até pinos de cocaína usados em frente a suas casas ou estabelecimentos. Não são raras as noites em que eles, ao irem com os filhos para casa, enxergam pessoas com pouca ou nada de roupa, ou fazendo sexo em um terreno baldio.
A prostituição nas imediações de algumas vias do bairro chegou a níveis alarmantes nos últimos tempos e passou do limite de apenas atuação de profissionais do sexo. Nos últimos meses, foram muitos os registros de crimes cometidos na região, como perturbação do sossego, desavenças, ameaças, lesões corporais, injúria e até movimentações do tráfico, com o consumo de drogas ilícitas.
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E há subnotificação. Com medo das reações dos travestis que atuam na prostituição e cansados da falta de ação efetiva na área, muitos moradores não procuram mais a polícia para efetuar um boletim de ocorrência. Em levantamento realizado com base nos registros da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento, o delegado Róbinson Palomínio afirmou que diariamente são denunciadas situações relacionadas à perturbação do sossego, mas com outro viés. “Na maioria das vezes, são casos de vizinhos, envolvendo barulho alto, o que corresponde a uma contravenção penal.”
Na prática, a situação é diferente. “Já até urinaram na minha porta, como represália. Eles brigam entre si, agridem clientes por desacordo comercial e isso tudo respinga na vizinhança”, disse um morador à reportagem da Gazeta do Sul, sob a condição de anonimato.
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Conforme a polícia, algumas pessoas que se prostituem já foram identificadas e têm em sua ficha crimes como roubo, homicídio e tráfico de drogas. De acordo com a Brigada Militar, ações e abordagens vêm sendo desenvolvidas. O comandante do 23º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Rodrigo Schoenfeldt, salientou que já houve operações com foco nas perturbações de sossego no Bairro Goiás.
“Identificamos indivíduos e estamos realizando sempre patrulhamentos na área. Pedimos aos moradores que, se virem algo acontecendo, nos acionem que iremos nos deslocar na hora”, orientou Schoenfeldt.
De acordo com o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Goiás, Jeferson Peres da Silva, as ruas Carlos Trein Filho, Sete de Setembro e Presidente Epitácio Pessoa são as que mais sofrem com a situação. “Destas, os travestis adentram para o bairro até a Presidente Rodrigues Alves.” Um terreno baldio, sem cerca ou grade, na esquina da Epitácio com a Carlos Trein, segundo ele, é utilizado como ponto onde ocorrem algumas das sessões de sexo.
“Conheço moradores da Epitácio Pessoa que fazem a volta pela Rua 28 de Setembro para não passar ali naquele terreno, porque os filhos pequenos olham e questionam o que é e por que estão fazendo isso”, salientou. “As coisas saíram do controle. Já passou longe do que é a prostituição, está acontecendo crime ali. Muitas vezes, se passa às 20 horas ali, estão só de calcinha, com os seios de fora, fazendo gestos obscenos. Eles acham que podem fazer o que querem que não vai dar em nada”, complementou Jeferson.
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O líder do bairro afirmou que já fez uma denúncia, pedindo uma investigação aprofundada do Ministério Público. “Está na hora de ser tomada alguma atitude. Alguém vai ter que fazer alguma coisa, resolver essa situação. A gente não é contra o trabalho dos profissionais do sexo, mas é preciso ter um lugar apropriado”, enfatizou Peres. Além de trazer sujeira e perturbação, o grupo que atua na prostituição a céu aberto no Goiás acaba atraindo delitos para a área, como furtos e tráfico de drogas.
Para os moradores, isso gera desdobramentos inclusive na questão patrimonial, pois acaba desvalorizando a área. “Se tu tens uma casa para vender ali, quem vai querer comprar? A maioria dos moradores são pessoas de idade, que ficam perturbados e assustados, e que moram ali já faz décadas. Esse grupo anda seminu, com seios de fora, às vezes sem nada”, comentou outra pessoa que não quis ser identificada com medo de represálias.
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Uma das ocorrências que mais chamaram atenção aconteceu no dia 16 do mês passado. Moradores próximos da esquina entre a Sete de Setembro e Carlos Trein Filho foram acordados por volta de 3h30 com gritos vindos da rua, de pessoas proferindo ameaças. Um morador pegou seu celular e gravou por alguns momentos a discussão e a briga entre dois travestis.
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Um, de roupa rosa, afirmou que “se quisesse cheirar, cheirava”, enquanto outro, de vestimenta preta, disse que utilizava o espaço público para se prostituir, indicando que há exploração sexual na área. Em seguida, o travesti de vestimenta rosa passou a ameaçar o outro. No chão, foi possível identificar um pino de cocaína já utilizado. Tudo foi registrado em vídeo, que foi acostado à ocorrência e chegou ao conhecimento das forças de segurança.
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No local, junto aos dois, estava um homem de 28 anos que três semanas depois, no dia 6 de junho, estuprou e estrangulou uma mulher de 24 anos até que ela desmaiasse, na Rua Dona Flora, no Bairro Universitário – ele foi preso pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) na semana passada, por esse delito.
Mais recentemente, na madrugada de sábado passado, por volta de 5 horas, outro fato chamou a atenção. Supostamente em razão de um desacerto com um cliente, dois travestis iniciaram uma briga com muitas agressões.
A Gazeta do Sul teve acesso ao vídeo que mostra toda a situação. Eles agridem o rosto um do outro e ambos chegam a cair. Diante da confusão, que aconteceu na calçada de um estabelecimento comercial, na Rua Sete de Setembro, próximo da esquina com a Carlos Trein, o cliente vai embora com o carro.
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Em sessão na Câmara de Vereadores na última segunda-feira, 19, ciente das reclamações dos moradores do Goiás sobre o assunto, o vereador e líder do governo, Henrique Hermany, disse que vai preparar um dossiê com fotos, imagens de câmeras e outras informações sobre a falta de segurança no bairro. Ele afirmou ter recebido recentemente o vídeo de uma das brigas, o que tem gerado um desconforto muito grande entre a população residente.
“São cenas fortes que servem de alerta de que é preciso intervir. Junto com essa situação, vem uma série de outros problemas, como drogadição, perturbação do sossego público e atos obscenos. E não é possível tolerar isso num bairro eminentemente residencial”, ressaltou o vereador. Hermany pede para que os moradores do bairro encaminhem mais material a respeito desses problemas de segurança, pois irá apresentar as informações na reunião do Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGIM), do qual faz parte como representante do Poder Legislativo.
“É um problema que precisa ser enfrentado, não apenas pela segurança pública, mas também pelas áreas da saúde e assistência social. A repressão simplesmente não é o suficiente para resolver o caso.” De acordo com a Prefeitura, ações sobre o tema serão debatidas em conjunto na próxima reunião do GGIM.
Procurado pela Gazeta do Sul, o promotor de Defesa Comunitária, Érico Barin, salientou que o Ministério Público (MP) está acompanhando de perto a situação. “O vereador Henrique Hermany solicitou que este assunto fosse pauta da reunião do GGIM. A partir disso, não apenas pela ótica da segurança pública, mas envolvendo assistência social e saúde, irei acompanhar as deliberações e medidas efetivas que serão encaminhadas por ali”, afirmou.
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Barin salientou que a resposta deve ser imediata na coibição de crimes, mas também pelo viés social, de saúde pública, abrangendo o público que faz uso da prostituição naquele local. O promotor relembrou que há alguns anos o MP atuou em uma situação do tipo, mas em outra área do município, onde foram adotadas medidas que resolveram o problema. “No entanto, temos ciência, pelo que percebemos, de que é um problema movediço. Se ataca e resolve num local, acaba migrando para outro, por isso é necessária a atuação permanente.”
A reunião do GGIM está prevista para ocorrer no dia 5 de julho, e deve envolver MP, lideranças políticas e da área da segurança pública, e também representantes dos moradores do Goiás. “A partir dali, a nossa expectava é de que sejam adotadas medidas de segurança e saúde pública. O Ministério Público irá aguardar e observar que medidas serão tomadas. Caso elas sejam ineficientes ou não sejam adotadas e o problema persista, aí investigaremos na Promotoria, exatamente na provocação desses órgãos de segurança e saúde pública para que atuem.”
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