A Escola Estadual de Ensino Fundamental Guilherme Simonis, localizada no distrito de Boa Vista, passará a se chamar Escola Municipal de Ensino Fundamental Guilherme Simonis. Para evitar o fechamento do educandário, a prefeita Helena Hermany (PP) assinou nessa segunda-feira, 22, um ofício que será encaminhado ao secretário estadual de Educação, Faisal Karam, solicitando a municipalização do educandário.
A escola enfrenta problemas desde 2015, em razão da gradativa redução no número de alunos, conforme revelado pelo Censo Escolar. A instituição, que já teve em torno de 300 estudantes, hoje tem apenas 29.
Dificuldades com a questão do transporte, a adoção da multisseriação (turmas de alunos com diversas idades e séries), depois o turno único, só agravaram a situação. A possibilidade que vinha sendo aventada, de transferência dos poucos estudantes para outra escola, não agradou à comunidade e, assim, pais, alunos e professores se mobilizaram para evitar o fechamento.
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No documento que será encaminhado agora ao governo do Estado, a prefeita ressalta que o poder público municipal está sensibilizado pela importância da escola para a comunidade e, por isso, toma para si a iniciativa de assumir o desafio de agregar à rede municipal essa instituição de grande relevância educacional e histórica para Santa Cruz do Sul.
A Prefeitura alega que dispõe de capacidade financeira para arcar com as despesas e também, por meio de ofício solicitando a cessão de uso, manifesta interesse em permanecer com o prédio, mobiliário, equipamentos e os servidores que hoje estão vinculados à escola.
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Para Helena, prevaleceu o interesse maior no entendimento entre a 6ª CRE e o Município para a solução do problema. “A escola é um foco irradiador. Quando a comunidade perde uma escola, isso é muito triste, é motivo de luto. Portanto, quando se pode juntar forças e impedir que algo assim ocorra, é uma enorme alegria”, ressaltou.
O responsável pela 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinho de Moura, elogiou a atitude da administração municipal no acolhimento dessa demanda. “Os interesses da comunidade foram ouvidos. A grandeza da prefeita, que, enquanto gestora, sempre carregou consigo essa questão da humanização, só antecipou um processo que ocorreria em 2022”, destacou.
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Entre as figuras ilustres que foram alfabetizados na Guilherme Simonis estão o bispo dom Alberto Etges, o ex-prefeito Arno Frantz e a artista plástica Regina Simonis. A formalização do pedido de alteração de manutenção da instituição ao Estado ocorreu em reunião que contou com a presença do titular da 6ª CRE, Luiz Pinho de Moura; do secretário municipal de Educação, João Miguel Wenzel; dos vereadores Alberto Heck (PT) e Jair Eich (PP); da atual diretora do colégio, Ângela Scherer; e de representantes da comunidade escolar.
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Indefinição era motivo de angústia para as famílias da localidade
A Gazeta do Sul esteve em Linha Boa Vista na quarta-feira da semana passada, quando ouviu a apreensão das famílias em relação ao possível fechamento. A agricultora Maria Quoos, que reside na Travessa Bohnen e tem dois filhos, um de 10 e outro de 7 anos, diz que a preocupação é constante. O mais velho está no 5º ano da Guilherme Simonis, enquanto o menor, no 2º ano, por falta de vaga está na Escola Municipal Willy Carlos Froehlich, em Linha Santa Cruz.
“Todos os dias tenho de levar ele até a estrada geral para pegar o ônibus, cerca de 1,5 quilômetro a pé. Dali ele segue para a escola em Linha Nova, são mais uns 20 quilômetros”, ressalta. “Não tenho como ficar tranquila sabendo que ele é tão pequeno e está sozinho dentro de um ônibus de linha, e mal sabe onde tem de descer.”
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Situação semelhante vive Jaqueline Foquert, com uma filha de 10 anos. “Ela é pequena, aqui é perto de casa. Embora seja uma escola antiga, é muito boa e foi totalmente reformada. Não concordo, porque ninguém nos consultou se queremos ou não.”
Pai de uma menina de 8 anos, estudante do 3º ano do Ensino Fundamental, André Weiss manifesta o desejo de que a filha continue sendo alfabetizada no educandário perto de casa, o mesmo em que ele também estudou. “Para nós, é melhor por ser mais perto. Se acontece alguma coisa ou se ela precisa de algo, o deslocamento é mais fácil”, afirma.
“A estrutura da escola é muito boa, tem ar-condicionado em todas as salas e sistema de câmeras. Não temos do que reclamar, falta eles aceitarem as crianças para que a escola continue atendendo.” Marizane Reys, que tem um filho de 15 anos que concluiu o Ensino Fundamental na Guilherme Simonis no ano passado, e outro menino de 6 anos, conta que também não conseguiu matricular o filho perto de casa. Ele estuda na Emef Willy Carlos Froehlich, em Linha Santa Cruz. “Primeiro alegaram que não tinha vaga, depois que não tinha professor, e toda vez era uma desculpa”, disse. “Como não tem os anos iniciais, vão saindo os alunos dos anos finais e vai se terminando, porque eles não matriculam mais.”
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