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Preço dos insumos em alta dificulta produção agrícola

Diversos fatores forçaram um aumento nos preços dos insumos agrícolas. A valorização do dólar em relação ao real, o custo de matérias-primas para a produção e os gastos com transporte são os motivos para que o agricultor tenha que desembolsar cada vez mais para produzir. A pandemia influenciou diretamente a dinâmica do mercado internacional. Faltam navios e contêineres para envio de produtos da China para o Brasil. O frete marítimo está três vezes mais caro.

O agricultor Júlio Francisco de Mello, de 63 anos, morador de Arroio do Couto, interior de Santa Cruz do Sul, ficou espantado com o preço dos insumos quando foi até uma agropecuária no início da semana para adquirir os produtos. “É um absurdo. O preço que eu pago hoje é o dobro do que paguei no ano passado. Está cada vez mais difícil para produzir”, lamenta. A situação dele se assemelha com a enfrentada por praticamente todos que vivem da agricultura.

Conforme o gerente administrativo de Compras da Afubra, João Paulo Porcher, a safra agrícola de verão foi atípica. O preço da soja mais que dobrou. Outras commodities também estão em alta, como milho e arroz. O aumento significativo implicou a elevação dos insumos. “Aumentou a área plantada dessas culturas, assim como a do trigo agora no inverno. O dólar segue elevado em relação ao real. Esses fatores acompanham o reajuste nos insumos. Com a pandemia, as indústrias tiveram reduções de pessoal e falta de matéria-prima, na maioria dos casos, importada”, esclarece.

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Com uma parcela maior da população em casa, o consumo alimentício aumentou acima do que estava sendo ofertado. No caso dos fertilizantes, por exemplo, o custo cresceu muito, mas os produtores decidiram investir nas lavouras pela demanda aquecida. “Nessa conjuntura, o preço de produção cresceu, mas ao mesmo tempo, as commodities seguem em alta. Por isso, o impacto foi muito grande para os consumidores”, aponta.

No ano passado, o saco de ureia estava em R$ 65,00, no máximo. Neste ano, não baixa de R$ 140,00. Apesar disso, ainda há dificuldade de abastecimento. O tabaco, por exemplo, terá um custo muito alto de produção pela elevação dos fertilizantes.

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No caso dos defensivos agrícolas, alguns herbicidas foram proibidos no Brasil. Com isso, a demanda aumentou e há dificuldade de compra de glifosato por varejistas, por exemplo.

“As fábricas da China reduziram a produção e isso provocou uma dificuldade de abastecimento pela escassez de matéria-prima. É a lei da oferta e da procura. Os preços mais que dobraram em geral. O produtor tem razão nas queixas. Os aumentos são frequentes”, analisa Porcher. No caso de fungicidas e inseticidas, o aumento foi alavancado pelo dólar desfavorável para importação. Os implementos e maquinários agrícolas também estão inflacionados pelo alto custo do aço.

Comparativo que assusta

Para o extensionista da Emater/RS-Ascar de Santa Cruz do Sul, Vilson Pitton, o comparativo de preços deste ano com os do ano passado assusta, principalmente dos fertilizantes. “Os produtores estão receosos pelo aumento do custo”, disse. Pitton aponta que a geada recente prejudicou o milho safrinha. “A tendência é que a gente tenha uma manutenção de preços para as exportações. No mercado interno, vamos ter uma quebra pela perda no milho safrinha”, informa.

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Na visão do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares, Renato Goerck, é necessário levar em consideração alguns fatores. Se o produtor vendeu o tabaco mais cedo, a barganha foi menor. Em consequência, o adubo subiu até 40% em relação ao ano passado. Com isso, a diferença foi muito grande. No caso do milho, da soja e do arroz, a proporção é a mesma. “O adubo aumentou, mas os produtos aumentaram também. Se custava R$ 70,00 por saco, agora está R$ 120,00 ou mais. É um impacto significativo”, comenta.

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Santa Cruz, Marco Antônio dos Santos, a tendência é de alta dos insumos, por estarem condicionados ao câmbio. “Toda vez que o custo de produção se eleva, os agricultores precisam produzir mais com qualidade, ou acabam tendo redução de lucro.”

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