Cerca de uma semana depois de o presidente Jair Bolsonaro anunciar uma intervenção no comando da Petrobras, indicando o general Joaquim Silva e Luna para o lugar de Roberto Castello Branco (que ainda está no cargo), a empresa anunciou o quinto aumento no preço dos combustíveis deste ano. De acordo com a agência de notícias do governo federal, desde terça-feira, 2, o litro da gasolina está R$ 0,12 mais caro, e é vendido pela Petrobras para as distribuidoras ao preço de R$ 2,60.
O governo anunciou ainda o aumento de 5% no valor do óleo diesel, o que corresponde a R$ 0,13 de acréscimo por litro no preço vendido para as distribuidoras, que agora é de R$ 2,71. O gás de cozinha também ficou mais caro, aumentando em 5,2% – o botijão de 13 quilos é vendido pela Petrobras a R$ 36,69 para as empresas de distribuição.
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Com mais um anúncio de elevação nos preços da Petrobras, os estabelecimentos que vendem combustíveis também fizeram reajustes em Santa Cruz do Sul. Nos postos de gasolina da área central do município, o valor mais alto encontrado foi de R$ 5,89 no litro da gasolina comum à vista. No levantamento do Procon anterior ao aumento dessa terça-feira, o valor mais alto na tomada de preços de 26 de fevereiro para a gasolina comum em Santa Cruz era de R$ 5,76.
Margem de lucro dos postos é muito pequena, diz economista
Segundo o doutor em Economia e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Sílvio César Arend, os impostos aplicados pelo governo federal e pelos estados na venda dos combustíveis representam cerca de 42% do preço cobrado no posto. “No caso da gasolina, em torno de 28% são impostos estaduais, o ICMS. A metade disso – cerca de 14% – são os impostos federais, a Cide, o PIS e Cofins. Somando tudo, temos 75% do preço do combustível, que se refere ao custo da Petrobras, mais impostos estaduais e federais. A outra quarta parte que sobra é representada pelo custo do álcool, em torno de 16%, e sobra ainda 8% dos custos de logística, de distribuição e da própria revenda dos postos, com a sua margem de lucro.”
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Arend observa que o aumento do valor da gasolina beneficia os estados, os quais aumentam sua arrecadação. Já os postos de combustíveis acabam sendo muito afetados. “É um percentual (de lucro) bastante pequeno e espremido, porque há vários custos fixos de operação, como energia elétrica e folha de pagamento, e não tem muito como mexer. Só vai conseguir diluir vendendo mais combustível, para ganhar em escala e volume de vendas, para compensar. Isso também explica um pouco a própria dinâmica do mercado, que hoje tem cada vez mais redes de postos de combustíveis maiores, e menos postos independentes.”
Em elevação
O aumento do preço da gasolina comum à vista em Santa Cruz, segundo o Procon.
5/1/2021 – R$ 4,98
9/2/2021 – R$ 5,14
12/2/2021 – R$ 5,28
19/2/2021 – R$ 5,59
26/2/2021 – R$ 5,76
2/3/2021 – R$ 5,89
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Brasil importa um quarto do combustível
Apesar de ser um país considerado autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil precisa importar cerca de um quarto da gasolina que consome, pois não consegue refinar todo o petróleo bruto que produz em suas próprias refinarias. Por isso, de cada quatro litros de gasolina vendidos no Brasil, um é importado dos Estados Unidos, comprado em dólar. A política de equiparação de preço do petróleo no Brasil ao valor do barril comercializado no mercado mundial, somado à desvalorização do Real, é fator decisivo no preço dos combustíveis, segundo o economista Sílvio Arend.
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“Desde a gestão do ex-presidente Temer, na época com o presidente Pedro Parente, a Petrobras mudou sua lógica de definição de preços, que passou a ser regida pelo mercado internacional do barril de petróleo. Além disso, utilizou-se como parâmetro a variação da taxa de câmbio. Quando nós temos uma composição de desvalorização cambial, saímos de R$ 3,00, depois R$ 4,00 por dólar. Agora estamos a mais de R$ 5,00. A própria desvalorização cambial já é um elemento. O mercado internacional chegou em alguns momentos a ter o barril na faixa de 35 dólares, hoje estamos operando no mercado em torno de 78 dólares o barril do petróleo. Só por isso temos uma elevação, em relação a poucos anos atrás, que chega a 100%”, explica.
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Ainda segundo Arend, o prognóstico para os próximos meses não é bom. A alta dos combustíveis deve ser mantida, elevando também o preço dos serviços, o que impacta na vida do trabalhador. “Não é apenas o aumento do preço do combustível do veículo que utilizamos, isso também impacta no custo do frete. Os caminhoneiros estão extremamente descontentes com essa situação agora. Vemos esse problema aqui no município, com a questão do transporte coletivo urbano, que também tem uma pressão de custo, somada à redução de passageiros, às limitações de 50% de lotação no ônibus, tudo isso pressiona a tarifa do urbano para cima.”
Outro grande problema que as famílias têm de enfrentar é o preço do gás de cozinha, cada vez mais caro. “Fica difícil, tem que comprar menos carne porque aumentou preço, menos arroz e cozinhar menos, porque o preço do gás também está subindo muito. Isso sinaliza para um mês de março e começo de abril de muita dificuldade, de muito aperto no cinto”, salientou o economista.
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