Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

Seu bolso

Preço da carne bovina já subiu 17% em 2021; até miúdos estão mais caros

Foto: Bruno Pedry

Pouca oferta de gado para o abate fez o bife e o churrasco ficarem bem mais caros

Consumidores de Santa Cruz do Sul estão surpresos com o aumento repentino no preço da carne. O que mais chama atenção são os produtos secundários. O mondongo, por exemplo, utilizado em receitas como a dobradinha ou em sopas, pulou de R$ 21,00 para R$ 28,00 em um mês, na média por quilo. Os derivados de porco para feijoada também tiveram impacto. A linguiça, que estava em R$ 23,00 há 30 dias, agora passa dos R$ 30,00 por quilo.

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Alberto Lauxen, o preço tem aumentado de forma gradativa pela escassez de gado para abate. Além da queda na oferta, pelo alto volume destinado às exportações e pela migração de produtores para a agricultura, o período atual é de entressafra, quando normalmente há uma elevação de preços. No caso de produtos secundários, o motivo é o aumento no consumo. “No inverno, os chamados miúdos são mais consumidos. Como a oferta é menor do que a procura, o preço sobe e acaba sendo repassado em toda a cadeia produtiva”, explica.

O sócio-proprietário da Meat Agropecuária, Miguel Kops, aponta a alta no preço da carne exatamente pela pouca oferta de gado para abate, aliada ao período de implementação das pastagens de inverno e ao incremento dos custos dos cereais para a ração animal usada para a criação de gado em confinamento. “As exportações e o dólar em alta também contribuem para esse aumento para o consumidor”, resume.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Laticínios elevam valor da cesta básica em Santa Cruz

Proprietário de restaurante, Paulo Baier afirma que as condições são ruins para os empresários da alimentação, já impactados pela queda na receita durante a fase mais restritiva da pandemia. “As carnes subiram além do normal. Estamos trabalhando no vermelho há mais de um ano. Mas não podemos repassar para o preço do bufê, senão vamos afastar os clientes. Já estamos com movimento 40% abaixo. Fora todos os custos que temos para manter o negócio”, elenca.

A alta mundial nos preços da carne bovina tem sido desencadeada pelo aumento na demanda chinesa, pela oferta limitada de gado em alguns países, por uma escassez de mão de obra nos frigoríficos e o salto nos custos com ração. A tendência está começando a sacudir os mercados fornecedores e impactar políticas para o setor.

Suínos e aves seguem a tendência

Sobre a carne suína, Rio Grande do Sul e Paraná podem ter, até 2022, aumento de cerca de 35% nas suas exportações, a partir do reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como zonas livres de febre aftosa sem vacinação. A estimativa foi feita pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), segundo a qual 10% desse aumento poderá ocorrer ainda neste ano.

Publicidade

Em análise divulgada nessa quarta-feira, 2, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as exportações de carne suína do Brasil tiveram aquecimento de 40% no primeiro quadrimestre de 2021, comparado ao mesmo período de 2020, alcançando 346,4 mil toneladas. De acordo com o levantamento, apesar de os preços da carne suína no mercado interno estarem em queda nos últimos meses, houve aumento acentuado nas importações do Chile, Argentina e Filipinas.

LEIA TAMBÉM: Carne de costela está 52% mais cara neste fim de ano

Entre as carnes de porco, a linguiça disparou 30% e até mesmo a salsicha ficou 12% mais cara, segundo a prévia da inflação de maio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já as cotações da carne de frango vivo e congelado, de acordo com a Conab, sofreram elevação em reflexo à alta nos custos de produção, aumento da demanda interna e crescimento nas exportações. Na prévia da inflação de maio, o frango inteiro subiu 14% nos últimos 12 meses, enquanto os pedaços tiveram alta de 13,5%, segundo dados do IBGE. O preço do ovo, por sua vez, avançou 7%.

A principal queixa dos frigoríficos é com relação à escalada dos preços do milho e da soja no mercado internacional, que tem encarecido a ração dos animais, além dos custos com diesel e embalagens. O Índice de Custos de Produção (ICP), calculado pela Embrapa Suínos e Aves, mostra que produzir frango em abril estava 39,79% mais caro do que no mesmo mês em 2020. Para suínos, a alta foi de 44,5%.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Os fatores que incidem na alta na cesta básica

Elevação neste ano chega a 17%

Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Nespro/Ufrgs), Júlio Barcellos, o preço da carne bovina registra alta de aproximadamente 40% em um ano. Somente em 2021, o acúmulo é de 17%. Os cortes para grelhados e churrasco foram os que mais subiram. Por outro lado, as carnes de segunda e os cortes como o filé e a picanha tiveram menor elevação no varejo.

Barcellos acrescenta que os miúdos não subiram sistematicamente, mas algumas peças têm maior demanda nesta época do ano, por questões regionais da culinária, como o mondongo e outras vísceras. “Alguns pratos típicos de inverno usam mais esses ingredientes, e temos aumentos de até 70%, especialmente o mondongo. Esses ingredientes estão sendo incluídos na pauta de exportação”, detalha. Para Barcellos, o próprio aumento nos cortes tradicionais faz com que os consumidores busquem alternativas, o que aumenta a demanda de peças como rins, fígado, mondongo, língua e rabada.

Publicidade

Além da diminuição do rebanho, Barcellos aponta a estiagem como fator a ser considerado. “Somente agora os preços melhoraram para os pecuaristas, que começaram a investir mais na produção. Não podemos esquecer que o Brasil exporta 25% da sua carne, e isso impacta nos preços no mercado interno”, conclui. A China importou 922 mil toneladas de carnes em abril, incremento de 6,9% em relação ao mesmo mês do ano passado.

LEIA TAMBÉM: Evolução do status sanitário coloca pecuária gaúcha em novo patamar

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.