Categories: Luis Ferreira

Precisamos falar

Precisamos falar sobre o suicídio, como reforça a reportagem especial das páginas 18 e 19 desta edição da Gazeta do Sul. O Setembro Amarelo está aí para nos lembrar da gravidade do problema, que nos atinge particularmente. O Rio Grande do Sul é um dos estados brasileiros com as maiores taxas de suicídio: são 12,7 casos por 100 mil habitantes, o que corresponde ao dobro da taxa brasileira. Esse é um levantamento da Secretaria Estadual de Saúde, feito em 2017.

O que fazer? Em primeiro lugar, falar sobre morte exige falar de vida. Como estamos vivendo? Comenta-se muito sobre as redes e o universo digital, as drogas, banalização da violência, agressões gratuitas, bullying entre jovens e assédio moral entre adultos, etc. Há muitos fatores que contribuem para uma desestabilização emocional capaz de detonar transtornos mentais, como a depressão, que resultarão em atos desesperados. Existe o medo, sempre um mau companheiro, possivelmente o maior obstáculo que todos enfrentamos. Pois o medo faz com que enxerguemos outras pessoas como inimigos, alimentando sentimentos agressivos que destroem sobretudo quem sente. E existem aquelas humilhações que se acumulam, a falta do reconhecimento que imaginamos merecido. Sabemos que uma pessoa se sente humilhada quando ela recebe a mensagem, por palavras ou ações, de que não pode ser quem pensa que é.

Há muita cobrança por perfeição e muita dificuldade para ser perfeito. Quantos conseguem? Oscar Wilde, escritor britânico do século 19, definiu certa vez o que ele considerava um ser humano perfeito: é “aquele que se desenvolve em condições perfeitas; aquele que não está ferido, mutilado, preocupado ou em perigo”. Quantos se enxergam nessa descrição? Enfim, há muita coisa que deixamos dentro do peito, talvez pela sensação de que o mundo exterior não deseja saber delas. Ficam então jogadas, acumlando poeira e limo. O mundo quer sorrisos, certezas sobre tudo, boa apresentação e ótimo desempenho. Nem sempre dá. Mas precisamos, muitas vezes, falar sobre aquilo que normalmente ninguém faz muita questão de ouvir.

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Falar sobre nossas aflições, fraquezas, medos. Não é agradável, bem sei, até gostaria de estar aqui contando anedotas ou histórias leves para o fim de semana. Talvez eu faça isso na próxima oportunidade. Agora não. Porque estamos no Setembro Amarelo e extravasar o que nos atormenta pode ser a única maneira de, em setembros futuros, não precisarmos falar – ou pelo menos não tanto – sobre suicídios.

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