A região e o Estado, bem como todo o Sul do Brasil, chegam a este final de semana em mais um contexto inusitado. Já não bastasse a pandemia, que veio em simultâneo ao recrudescimento da estiagem na Depressão Central gaúcha, e, na esteira dela, a ameaça incomum de nuvens de gafanhotos, seguidas de chuvas intensas, que provocaram alagamentos históricos, eis que este inassimilável 2020 traz a insinuação da neve. Sem esquecer, há poucos dias, de chuvas de granizo, ou de geadas recorrentes, tudo provocando enormes prejuízos nas mais variadas áreas.
Tem sido mesmo um ano para desafiar a resistência dos mais corajosos. Mas a verdade é que a possibilidade da nevasca, que, ao longo do final de semana, pode se traduzir, em algumas localidades, em frio intenso e geadas, é mais um entre tantos perigos a comprometer uma nova safra agrícola. Se se concretizasse de fato a neve na região, estariam irremediavelmente afetadas as lavouras de tabaco, a esta altura do mês de agosto todas plantadas na área baixa. Da mesma forma, a maioria das culturas de verão, dos grãos aos hortigranjeiros em geral e às pastagens, já foram semeadas, e as espécies que não resistem a agressão tão forte como a representada por uma camada de gelo sobre a superfície seriam duramente afetadas. E, com elas, toda a economia regional.
Este é o paradoxo, o drama dos tempos atuais. De um lado, a rotina urbana faz com que o setor do turismo enxergue na nevasca oportunidade de faturar, ainda que a própria pandemia, no momento, iniba viagens ou deslocamentos. Mas essa mesma área do turismo, que tanto clama por reação da economia, é igualmente dependente da produção agrícola, razão primeira da subsistência de todos. E quando as atividades rurais, onde a riqueza é plantada, cuidada e colhida, sofrem abalo brutal, como ocorre em estiagens, enchentes, geadas, granizo ou nevascas, é inevitável que toda a sociedade se ressinta, o que significa que governos e empresários serão afetados.
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Portanto, apesar de gostos e torcidas, que a neve não venha, muito menos neste traumático 2020. E que aqui, no Rio Grande do Sul, em nossa realidade, possamos, isso sim, nos ocupar e nos inspirar em modelos e exemplos, capazes de tocar nossa ternura, nosso respeito e nossa humanidade, em ações voltadas ao bem-estar coletivo. Como sinalizam duas matérias especiais nesta edição: a da jornalista Rosibel Fagundes, sobre as atividades da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, que se iniciou nessa sexta-feira; e a do jornalista Rodrigo Nascimento, que anuncia a aposentadoria de um dos mais conhecidos e queridos políticos da região, o prefeito de Vera Cruz, Guido Hoff. Essas reportagens prometem constituir leitura capaz de levar a muitas reflexões, e a se emocionar. Que, ainda com a necessidade dos cuidados em virtude da Covid-19, este final de semana seja muito agradável para todos.
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