Devem ser raras as casas em que não haja algum pote plástico. A maioria tem muitos e a ânsia de possuir mais não se sacia, não tem limite. Os acréscimos vão desde embalagens de margarina, passam pelas de sorvetes e, é claro, incorporam aquelas novidades que as lojas de bugigangas exibem à exaustão. Somos cercados de potes plásticos por todos os lados.
Lembro de uma época em que se sucediam reuniões para apresentar e vender produtos da Tupperware, cuja empresa ainda os anuncia como sinônimo de armazenamento inteligente e durabilidade. Alguma promotora de vendas convocava seus seguidores a comparecerem à sua casa para conhecer novos modelos de potes e se inebriar com eles. Era impossível sair do encontro sem carregar uma dúzia das novidades.
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Chegando em casa, começava a etapa dois: acomodar aquela aquisição no meio de um grande estoque já presente nas gavetas e prateleiras. Mexe aqui, acomoda lá, encaixa um no outro, ajeita mais um pouco e deu. Tudo está devidamente organizado.
Os potes estão ali, prontos para entrar em ação.
O próximo passo é a utilização. Puxa um, puxa dois e já se apresenta um problema: as tampas. Testa uma, testa outra, e mais outra, no entanto nenhuma casa perfeitamente. Por mais que a arrumação tenha sido impecável, nada poderia justificar esse caos surpreendente e inexplicável. Pode fazer o que quiser ou puder, estudar, fazer mestrado em organização doméstica, convocar um coach, ajoelhar e fazer uma oração, nada resolve aquela bagunça apocalíptica, é impossível encontrar a tampa certa.
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Acho até que potes e tampas se movem sozinhos, têm asas e pernas invisíveis, são noctívagos inquietos, não gostam dos apertos da vida. A maioria das gavetas, aliás, demandaria a construção de um anexo, de um puxadinho, porque aquela turma imensa, completamente apertada, se sente desconfortável na casa que lhe foi atribuída. Um puxadinho aliviaria seu sofrimento.
Para o uso, existem algumas leis e regulamentos. Uns se destinam ao freezer, outros à geladeira, outros ainda ao microondas. Tempos atrás coloquei um feijão para degelar e aquecer no microondas. Quando abri o forno, estava espalhado sobre o prato como se fosse um rio em tempo de enchente. Não vi meu pote, que, derretido, virou tempero do meu feijão. Pote e comida estavam unidos de corpo e alma para sempre.
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Chegou também o tempo da migração. Se antes esses objetos ficavam restritos à cozinha e adjacências, hoje são encontrados em vários recantos da casa. Já bem grandes, servem de refúgio para gravatas, meias, camisetas, calções, cuecas, enfim, colocaram os guarda-roupas no chinelo e tomaram seu lugar. Um pouco mais envelhecidos, viram vasos de flores nas áreas e nos jardins. Migraram igualmente para o universo dos pets, servindo água e comida aos bichinhos de estimação.
Antes quadrados ou redondos, hoje se apresentam nos mais diversos formatos e nas mais atraentes cores. Mesmo não precisando, cabe comprá-los para enriquecer a coleção. Achei tão bonitinho, dizem. Nada pode ser mais emocionante do que, no aniversário, por exemplo, ganhar de presente um pote ou um conjunto deles, um dentro do outro, como se fossem uma matrioska, a boneca russa que se encaixa quase ao infinito.
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Sei que há muitas dores no mundo, mas não custa aliviar um pouco.
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