Mais que um alimento essencial para o bebê, o leite materno é símbolo da conexão entre mãe e filho. E mesmo que a amamentação não seja feita da forma tradicional, apenas o fato de o recém-nascido se alimentar do líquido gerado pela mulher já torna o momento importante para o desenvolvimento da criança. Desde o ano passado, o Hospital Santa Cruz (HSC) conta com o Posto de Coleta de Leite Humano. É no local que mães que estão com seus filhos internados na casa de saúde realizam a ordenha do leite.
Embora o Vale do Rio Pardo não tenha banco de leite – para armazenamento de doações –, o posto de coleta, que completou um ano de funcionamento em fevereiro, vem para suprir uma importante demanda e também para melhorar o atendimento às mulheres. Em maio, de acordo com dados do posto, foram retirados dez litros de leite. Além disso, foram 130 atendimentos no mês. Em 2020, foram coletados cerca de 11,4 litros de leite materno no local.
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No posto, o leite é coletado da mãe para armazenamento e posterior alimentação do seu próprio bebê. O serviço é diferente daquele realizado por um banco de leite, onde o material doado por outras mulheres é recebido, analisado e pasteurizado para poder ser distribuído para outras crianças.
A nutricionista do HSC, Maiara de Queiroz Fischer, explica que antes da coleta é realizado acolhimento, orientação e higienização. O leite obtido no espaço é destinado aos filhos dessas mulheres que nasceram prematuros ou com baixo peso e que estão internados na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) ou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. “Nos preocupamos com a manipulação do leite ordenhado cru. Semanalmente é feito o exame bacteriológico para garantir que não tenha nenhuma contaminação”, completa.
Maiara explica que após a coleta o alimento é armazenado por até 12 horas e depois aquecido para ser levado para a distribuição. “Sempre estimulamos que elas coletem de forma manual, sem uso de máquina. A Lisandra, que é nossa técnica, faz todo esse processo de orientação da ordenha.” A nutricionista reitera que o posto de coleta conta também com um médico, uma enfermeira, uma técnica em enfermagem e uma lactarista. “O leite materno, até os 6 meses, exclusivamente, é muito importante tanto na parte de prevenção de infecções – na questão imunológica do bebê – quanto para o desenvolvimento cognitivo e neurológico e tem todas vitaminas e minerais que ele precisa”, reforça.
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No dia 19 de maio, foi lançada a Campanha Nacional de Doação de Leite Materno 2021. O Brasil conta com 222 bancos de leite materno, dez deles no Rio Grande do Sul (veja lista abaixo).
Louana Theisen, enfermeira especialista em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde e coordenadora regional da política de saúde da mulher explica que um serviço como um banco de leite tem grande importância. Ele disponibiliza esta fonte de alimentação e saúde para recém-nascidos que porventura não podem usufruir deste benefício. “O leite humano, por sua composição de nutrientes, é considerado um alimento completo e suficiente para garantir o crescimento e o desenvolvimento saudável do bebê durante os primeiros dois anos de vida”, afirma. “É um alimento de fácil e rápida digestão, completamente assimilado pelo organismo infantil.”
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A dona de casa Gisseli Cardoso Rodrigues, de 35 anos, está há mais de dois meses coletando leite para alimentar o pequeno Moisés, seu segundo filho, que está internado. Prematuro de 25 semanas, o bebê nasceu com 620 gramas, mas já chegou a 1,660 quilo. A alimentação dele é de leite materno coletado no posto e de uma fórmula que complementa a nutrição. O crescimento do menino aumenta também a ansiedade da família em levá-lo para casa. “Só quem passa sabe. Ir para casa sem poder levar seu filho é muito triste, é doloroso. Passamos por vários processos até pegar ele no colo, eu tive que esperar ele pegar peso, ter resistência, para depois ir para o colo. É triste, mas sabemos que é para o bem dele e que quando for sair daqui, vai sair bem”, comenta.
É o segundo filho que nasceu com 29 semanas de Renata Pereira da Cunha, de 24 anos. Embora já tenha passado por isso antes, a mãe de Davy Lucas, que atualmente está internado pesando 1,380 quilo, salienta que sempre é difícil. “Eu já passei por isso, mas é complicado. O leite materno nesse momento é ainda mais importante. Ele ganhou umas graminhas a mais e pegou superbem o mamá”, observa. Renata destaca que passa praticamente o dia todo no hospital, entre coletas de leite e visitas ao bebê.
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O Posto de Coleta de Leite Humano do HSC funciona das 8 horas às 12 horas e das 14 horas às 18 horas. Durante o expediente, quem atende as mulheres é a técnica em enfermagem Lisandra Freitas. O momento turbulento do puerpério e a união com o fato de acompanhar o bebê que está internado no hospital todos os dias faz com que Lisandra se transforme também em uma amiga das mães. “Além do armazenamento, eu dou todas as orientações para elas. E elas me veem como conselheira, tudo é uma junção de emoções, os hormônios também estão à flor da pele. Eu gosto de ter uma conversa inicial com elas, porque chegam muito aflitas aqui, acham que vai doer.”
Lisandra explica que a ordenha manual é utilizada por orientação do próprio Ministério da Saúde. Além de orientar a realizar a coleta com a mão, a técnica detalha que pede que as mulheres estimulem as mamas em casa. Mas o estado emocional delas também se torna um fator determinante para a coleta. “Às vezes elas estão mais estressadas, tomaram pouco líquido, a alimentação não foi boa ou não dormiram tão bem. Eu sempre digo que toda mãe que amamenta precisa descansar e ter um momento dela. Amamentar é maravilhoso, mas elas não são super-mulheres. Vai ter um momento que vão precisar descansar e se renovar para vir com outra energia tirar esse leite.”
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Antes da instalação do posto no hospital, a coleta era realizada diretamente na UTI Neonatal. Para Lisandra, o espaço oportunizou principalmente um momento de maior intimidade às mulheres que necessitam do serviço.
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Outros serviços do HSC
O HSC dispõe de dez leitos de UTI Neonatal, dez leitos na UCI e uma Unidade Canguru, com cinco leitos mãe-bebê, com uma equipe de médicos neonatologistas, obstetras, enfermeiros, técnicos de enfermagem e pediatras com treinamento na assistência ao recém-nascido prematuro. O hospital disponibiliza o Alojamento Materno para as mães que já receberam alta da maternidade e precisam acompanhar o filho recémnascido na UTI ou na UCI, promovendo o contato ininterrupto entre mãe e bebê. O serviço proporciona, inclusive, refeições para as pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde que não residem no município.
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