A possível transferência de endereço da sede da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), única instituição de ensino superior pública e gratuita de Santa Cruz, gera preocupação na comunidade acadêmica. Embora ainda não confirmada, a mudança foi ventilada pela Prefeitura, que assumiu no ano passado a área onde estão as instalações.
Com cerca de 200 alunos matriculados atualmente e todos os cursos em formato presencial, a Uergs funciona desde 2001 no município e ocupa a antiga Escola Estadual Murilo Braga de Carvalho. Após anos de impasse com o Estado, o terreno onde fica o prédio teve a posse retomada pelo governo municipal no ano passado.
A maior parte do imóvel – ao todo, são 430 mil metros quadrados – está ociosa desde que a Murilo Braga parou de funcionar. O Palacinho, porém, tem pelo menos dois planos para o espaço. No mês passado, a Câmara aprovou a cedência de uma extensão de 29,6 mil metros quadrados para a Sacyr Construccion S/A do Brasil, integrante do grupo espanhol Sacyr, que também controla a concessionária Rota de Santa Maria. A empresa, que será responsável pela obra de duplicação da RSC-287, pretende instalar ali uma fábrica de pré-moldados, escritórios, laboratório e um espaço para estocagem de materiais. Outro projeto é a construção de um centro de especialidades, que será implantado com recursos federais e irá atender crianças com transtorno do espectro autista.
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A possibilidade de saída da Uergs foi citada pelo vice-prefeito Elstor Desbessell (PL) durante café com jornalistas no mês passado e repercutida pela Gazeta do Sul. Na ocasião, Elstor alegou que a medida poderia ser necessária para que a área tivesse um melhor aproveitamento e que a Prefeitura estudava alternativas para alocar a estrutura.
O assunto foi tratado nesta semana em uma reunião entre a direção da Uergs e a prefeita Helena Hermany (PP). Na ocasião, o governo se comprometeu com a permanência da universidade no município e alegou que ainda não há definição. Porém, conforme o diretor regional Alberto Knies, o desejo é que as atividades permaneçam no espaço atual que, segundo ele, atende às demandas da instituição. “Também por questões de logística, pois o local tem fácil acesso pela comunidade acadêmica”, disse.
Preocupados, um grupo de alunos encaminhou ofícios aos vereadores durante a semana. Segundo a estudante Bianca Rauber, além do acesso, nos últimos anos um volume significativo de recursos públicos, inclusive captados por meio da Consulta Popular e de emendas parlamentares, foram aplicados na manutenção e em melhorias do local. “Não podemos ir para um lugar pior, senão vai parecer que o município não nos quer. Queremos que Santa Cruz valorize a gente”, alegou. Ainda de acordo com ela, a comunidade não é contra o aproveitamento do restante da área, inclusive porque uma circulação maior de pessoas garantiria mais segurança aos alunos.
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A discussão repercutiu na sessão da Câmara da última segunda-feira. Cleber Pereira (União Brasil) disse ter levado o assunto ao Palacinho e acredita que será encontrada uma saída que não prejudique as atividades da instituição. Na mesma linha, Alberto Heck (PT) pediu que o diálogo com a comunidade acadêmica seja mantido. “A localização atual é considerada muito boa, porque há toda uma facilitação de logística, a própria proximidade com a Unisc e o acesso dos alunos da Efasc, com quem há uma parceria”, alegou.
O líder de governo, Henrique Hermany (PP), garantiu que não haverá prejuízo à instituição e defendeu o aproveitamento do complexo da Murilo Braga como forma de gerar postos de trabalho. No caso do investimento da Sacyr, por exemplo, a previsão é de que sejam criados até 300 empregos. “Precisamos contemporizar esses interesses”, afirmou. Henrique disse ainda que irá sugerir à Unisc a disponibilização de um espaço para abrigar as atividades da Uergs. Segundo ele, a saída pode ser viável, já que hoje o campus possui instalações subaproveitadas. “Por que não destinar um dos blocos de uma universidade comunitária à Uergs?”, questionou.
A Uergs oferece três cursos de graduação em Santa Cruz – Agroecologia, Tecnologia em Horticultura e Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia – e duas especializações. São nove professores doutores lotados, oito professores colaboradores de outras unidades e quatro funcionários administrativos.
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