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RELIGIÃO

Possibilidade de mudança do Santuário de Schoenstatt mobiliza a comunidade

Foto: Lula Helfer

Com faixas, grupo de fiéis se reuniu na entrada do Santuário na tarde dessa sexta-feira para pedir a permanência na área

Alegando falta de segurança na região onde fica o Santuário de Schoenstatt, à margem da BR-471, em Santa Cruz do Sul, a direção do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt estuda vender o terreno e mudar o local de adoração para o Centro da cidade. A decisão é polêmica e mobiliza diversos setores da sociedade.

Muitos grupos se manifestam contra a possibilidade de transferência. Na tarde dessa sexta-feira, fiéis e representantes de movimentos de Schoenstatt se reuniram em frente ao portão do santuário. Eles produziram faixas em protesto contra a intenção de vender o local.


A área é fruto de doação da Prefeitura, repassada ao Instituto Pedagógico Social Tabor em 1975. Segundo o Município, a instituição acionou o Poder Público em abril do ano passado para ter um parecer sobre a possibilidade de venda da área. Por meio da Secretaria de Comunicação, a Prefeitura informou esta semana que atualmente não existe nenhum impedimento legal para o repasse do imóvel a terceiros.

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LEIA MAIS: Com duas irmãs, manutenção do santuário passou a ser considerada inviável

A possibilidade da troca do local do santuário pegou a população de surpresa e desagradou a muitos usuários do espaço. A mudança preocupa também o setor do turismo. A presidente da Associação Pró-Turismo de Santa Cruz do Sul (Aprotur), Leoni Cristina Vila, lamenta que a comunidade não tenha sido consultada sobre a mudança e argumenta que existem soluções para que a questão da segurança das irmãs que vivem no local seja resolvida.

Ela ressalta que o Santuário de Schoenstatt foi promovido a ponto turístico na década de 1980 e, desde então, recebe fiéis do Estado e de todo o País. Participante da Juventude Feminina de Schoenstatt, Leoni lembra do dia em que uma das irmãs chegou a uma das reuniões do grupo com um folder em mãos, comemorando a inclusão do Santuário na publicação turística da Prefeitura.

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“Para transformar o local em um ponto turístico consagrado, muito trabalho foi realizado, algo que não pode ser perdido”, opina. “Nós não podemos desrespeitar a memória de todas aquelas pessoas e de todo aquele movimento que foi feito. O Santuário é o primeiro no mundo a fazer um trabalho inclusivo com os pobres. Todas as irmãs se aproximaram das famílias pobres, em um movimento de inclusão, levando a palavra de Deus e a palavra de Maria para as crianças e para as mães.”

Leoni destaca também que a Aprotur não é contrária às irmãs de Schoenstatt que atualmente ocupam o santuário. As religiosas foram convidadas ainda em 2018 a fazer parte da Associação Pró-Turismo. Na época, foi apresentada uma proposta para aumentar a lucratividade do Santuário com a criação do “Pão de Maria”, para ser vendido após as missas, como ocorria em outros santuários, como o de Santa Maria, por exemplo. A irmã Matilde, que coordenava o projeto, foi transferida para Santa Maria e o assunto acabou abandonado.

A renda deste tipo de ação poderia auxiliar no aprimoramento dos dispositivos de segurança do Santuário, que já conta com muros e câmeras. Uma sugestão da Aprotur seria mudar para um sistema de vigilância por monitoramento das imagens dessas câmeras por uma empresa de segurança privada.

Surpresa e descontentamento entre os fiéis

Representando o Grupo de Fiéis e Devotos de Schoenstatt, a aposentada Glacy Falleiro afirma que todos foram pegos de surpresa com a decisão de venda do Santuário. A possibilidade de mudança é vista com descontentamento pelos fiéis, segundo ela, que destaca também que a área foi doada pela Prefeitura para que cumpra um objetivo específico. “Se aquilo foi destinado para isso, o povo tem fé ali. O povo alcançou graças ali e vai para lá agradecer. Queremos que continue lá. Aquilo é do povo. É um lugar de devoção, é um lugar consagrado.”

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A representante sugere que um posto da Brigada Militar poderia ser instalado na BR-471, nas proximidades do Santuário, pois o local é de difícil acesso, justamente pela proximidade com a rodovia. A comunidade se organizou em um abaixo-assinado que já coletou mais de 300 assinaturas de pessoas que são contrárias à mudança de endereço.

“Sei que devoção a gente tem em qualquer lugar, mas lá é um lugar consagrado, e as irmãs nos passavam isso. Agora eu encontro a estátua do Padre Kentenich na frente de uma casa na Thomaz Flores, e o altar da Mãe Maria também não está mais lá. Isso revolta muito o povo. Estamos com dezenas de listas de abaixo-assinado”, destaca Glacy.

Ela lembra também que a Prefeitura já demonstrou interesse em melhorar a segurança do local com o acompanhamento da Guarda Municipal, contratação de vigia, manutenção do terreno, ajardinamento e revitalização dos espaços interno e externo. As ações foram propostas em uma reunião em fevereiro deste ano e registradas em ata, segundo a Associação Pró-Turismo de Santa Cruz do Sul (Aprotur). Glacy completa com um questionamento: “Qual foi a manifestação da Mãe para elas saírem de lá? Já que mudaram da noite para o dia, queremos saber.”

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Por meio da Secretaria de Comunicação, a Prefeitura informa que ainda busca um entendimento com as irmãs de Schoenstatt e, por isso, não se manifestou oficialmente sobre o assunto. No entanto, confirma de que o terreno de 29,5 mil metros quadrados não tem impedimento para a venda para terceiros por parte da instituição religiosa. O Conselho Municipal de Turismo, ligado à Secretaria de Turismo, entrou com pedido de esclarecimentos no Ministério Público sobre a possível venda do terreno.

Valor estimado do terreno é de R$ 1 milhão

De acordo com profissionais do ramo imobiliário, o terreno do Santuário de Schoenstatt não está em uma das áreas mais valorizadas da zona urbana do município, que é a Zona Sul. A proximidade com bairros populares acaba diminuindo a cotação do espaço, que ocupa uma área de 29,5 mil metros quadrados.

A Gazeta do Sul ouviu dois corretores que trabalham em empresas diferentes. Ambos alegaram que é muito difícil estimar um valor para o terreno sem conhecer a topografia do local e as estruturas que permanecem no Santuário. Uma das fontes consultadas preferiu não apostar em uma estimativa de preço, mas em outra consulta, o profissional estimou um valor aproximado de R$ 1 milhão para a área, podendo alcançar até R$ 1,5 milhão.

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A Gazeta do Sul teve acesso à certidão do registro do terreno. Em 29 de dezembro de 1975, conforme consta no documento, o valor do terreno cedido pela Prefeitura era de 150 mil cruzeiros. Em 2003, quando foi registrada a mudança da posse do imóvel do Instituto Pedagógico Social Tabor para a Sociedade Mãe e Rainha, o valor do terreno era de R$ 941 mil.

“Contra os ensinamentos de José Kentenich”, diz advogado

Integrante do Movimento Apostólico de Schoenstatt desde 1968, o advogado Ruy Kaercher lamenta a decisão das Irmãs de Maria. Ele explica que o movimento de Schoenstatt é uma expressão do carisma de seu fundador, o Padre José Kentenich, e que a decisão tomada unilateralmente vai contra os seus fundamentos.

“Isso não foi pensado e gestado em acordo com a família de Schoenstatt. Eu falo nos diversos ramos do movimento. Aqui em Santa Cruz temos o Ramo das Mães, a Campanha da Mãe Peregrina, o Terço dos Homens, a Juventude Masculina, Juventude Feminina, as obras das famílias, a Liga Feminina de Schoenstatt, e todas têm um representante no Conselho Diocesano da Família. E isso não foi discutido, apenas nos foi comunicado que elas estavam fazendo tratativas para mudar para uma região mais central da cidade”, relata Kaercher.

Ruy Kaercher: mudança não foi pensada em acordo com a família de Schoenstatt | Foto: Lula Helfer


“O que está ocorrendo aqui contradiz essa gênese de Schoenstatt, que está alicerçada no fato de que Schoenstatt configurou-se assim no decorrer da história, a partir do fortalecimento de vínculos entre as comunidades”, continua. “E isso tem no aspecto familiar a sua maior expressão. Em Santa Cruz, os últimos acontecimentos relacionados ao Santuário vão na contramão desse espírito.”

O restabelecimento dessa unidade familiar, que sempre permeou o sentimento dos fiéis, é a preocupação do momento, segundo Kaercher. Para ele, as comunidades devem deixar a situação de conforto e encarar o desafio de restauração do sentimento de comunidade. Ele reforça que o Conselho Diocesano não se furtou em sugerir mudanças e propor ações para aumentar o sentimento das irmãs que habitam o Santuário, mas as sugestões nunca tiveram resposta.

LEIA MAIS: Grupo está mobilizado para manter o Santuário de Schoenstatt

Brigada Militar se coloca à disposição para auxiliar

Para o subcomandante do 23º Batalhão de Polícia Militar, major Fábio de Azevedo, a questão da insegurança é muito mais interna do que um problema de segurança pública. Ele diz estar acompanhando a situação a partir das reportagens publicadas pela Gazeta do Sul recentemente. O major compreende que as irmãs que moram no local se sintam isoladas em virtude do tamanho do terreno, que possui quase 3 hectares, mas garante que não há um problema generalizado na região do Santuário.

“É uma posição delas (das irmãs). A gente acompanha o caso, mas nunca tivemos uma procura pelo serviço da Brigada Militar, ou uma denúncia de que o local tenha sofrido uma invasão ou algo parecido.” O major Azevedo ressalta que a corporação sempre se colocou à disposição de todos os segmentos da sociedade e sempre apoiou as ações de todas as igrejas do município. Ele acredita que a questão possa ser trabalhada internamente, até porque a comunidade católica é muito grande e poderia dar um apoio às irmãs na resolução do problema.

Moradoras das proximidades dizem que bairro é tranquilo

A líder comunitária Ester de Quadros, de 48 anos, discorda da alegação de que o Bairro Santuário seja uma região perigosa. Moradora da Rua Padre Landell de Moura há 27 anos, ela lamenta a possibilidade de o Santuário deixar o espaço atual.

“Não existe bairro totalmente tranquilo, mas aqui é sossegado, pode ficar até tarde com a porta aberta. Não é um bairro em que não pode circular na rua à noite”, diz. “A violência que existe, na maioria das vezes, é a que vem de fora. E sempre que ligamos para a Brigada eles nos atendem prontamente.” Ela lamenta a possibilidade de perder um espaço de lazer que é muito utilizado por sua comunidade.

Ester garante que região não é perigosa | Foto: Lula Helfer


A opinião de Ester é compartilhada pela moradora Nadir Alves, de 71 anos. Ela acredita que nenhuma localidade do município está livre da criminalidade, mas é preciso ter fé na proteção da Mãe Três Vezes Admirável. “Eu sei que cada lugar pode ter marginais e banditismo. Tem de tudo na nossa cidade, infelizmente. Mas que falta de segurança elas sentem se nossa Mãe está ali?”, questiona, emocionada, apontando para a imagem que fica em frente ao portão do Santuário. A aposentada ressalta que a fé em Nossa Senhora é a melhor proteção e que a mudança para o Centro não traria a certeza de segurança. “Então todos vamos abandonar nossas casas porque não temos segurança?”.

Protesto em frente ao portão pede que decisão seja revista

Um grupo de fiéis devotos da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt se reuniu em frente ao portão do Santuário de Schoenstatt, à margem da BR-471, no Bairro Santuário, em Santa Cruz do Sul, na tarde dessa sexta-feira, 20. Eles ergueram faixas contra a possibilidade de o Santuário ser removido do local atual e se mudar para o Centro da cidade, como informado pela administração.

Participante da manifestação, Noeli Falleiro, do Ramo das Mães de Schoenstatt, reclama que os integrantes do movimento não foram informados claramente da decisão de transferência. “Não deram tempo para nos manifestarmos. Sei que existem pessoas que também defendem que elas saiam daqui. Respeito, mas não concordo. Aqui é um lugar sagrado, santo, é aqui que Ela está estabelecida, distribuindo graças neste terreno, e é o que tem acontecido desde que eu entrei no movimento, há 11 anos. E essa decisão delas vai totalmente contra tudo que nos ensinaram aqui.”

Noeli Falleiro: opção pela transferência vai contra os ensinamentos passados no local | Foto: Lula Helfer


LEIA MAIS: Fiéis protestam contra possível mudança de local do Santuário de Schoenstatt

Algo inédito em âmbito de Brasil

A Irmã Santina Simão Fernandes atua no Santuário de Schoenstatt de Jacarezinho, no Centro-Norte do Paraná, divisa com São Paulo, a primeira cidade no Brasil a acolher as 12 irmãs pioneiras de Maria de Schoenstatt, em 12 de julho de 1935. O local tem tamanha importância para o movimento que entre 25 e 28 de abril de 1947 o próprio fundador do movimento, em 1914, o padre católico alemão Joseph Kentenich, visitou Jacarezinho.

Por telefone, a Irmã Santina referiu à Gazeta do Sul que não existe parâmetro, em âmbito de Brasil, de um outro santuário que, a exemplo do de Santa Cruz do Sul, tenha sido mudado de lugar, ou que um espaço deixasse de ser santificado. No mundo, segundo ela, até haveria registros de santuários que teriam sido desfeitos, e mencionou um na Suíça. Mas isso teria ocorrido por absoluta ausência de Irmãs naquele local.

No Brasil, Irmã Santina citou uma questão que envolveu o Santuário de Schoenstatt de Londrina, lá instalado em 25 de abril de 1948, com a presença novamente do Padre Kentenich no lançamento da pedra fundamental, e inaugurado em 1950. A certa altura, houve a decisão de inverter a entrada do Santuário, que antes dava para uma rua, e se entendeu que a “entrada” agora deveria ser pelo outro lado. Só essa simples alteração de “acesso” – em nada tão radical quanto a mudança agora proposta em Santa Cruz – já teria gerado fortes opiniões e oposições, inclusive com a intervenção do bispo.


Irmã Santina, que atua ao lado de mais duas irmãs em Jacarezinho, cidade de 39 mil habitantes e ponto pioneiro no país, entende que a mobilização da comunidade em Santa Cruz é muito salutar. “Parece que, com isso, a Mãe de Deus está dizendo alguma coisa, não é?’, frisa.

“Se as pessoas não se sentissem afetadas, talvez não significasse algo para elas. Mas pelo que se vê, ocorre justamente o contrário. E isso é bom.” Segundo ela, a reflexão se faz necessária: “É importante que as pessoas tenham a compreensão de que a igreja não é algo que uma hora se faz e outra se desfaz, como se fosse a coisa mais normal. E talvez com o engajamento de todos, vocês consigam reverter a situação”, salienta.

O padre Kentenich, fundador do Movimento de Schoenstatt, nasceu em 16 de novembro de 1885, de maneira que na última segunda-feira transcorreu seu dia de aniversário. Faleceu em 15 de setembro de 1968, aos 82 anos, em Vallendar, próximo a Koblenz, na Alemanha. No mundo, são quase 200 santuários, 23 deles no Brasil. O de Jacarezinho foi o 22º. Já o mais recente é o de Caieiras, em São Paulo, inaugurado em 2017.

Programação da romaria

Neste domingo, a tradicional Romaria ao Santuário de Schoenstatt ocorre de forma diferente em virtude da pandemia de coronavírus. Ao invés da caminhada até o Santuário, três veículos percorrerão as ruas de Santa Cruz do Sul em carreata. Antes, ocorrerá a transmissão da missa de forma online, que pode ser acompanhada pela página do Facebook do Santuário Schoenstatt. Confira as principais ruas pelas quais os veículos irão passar:

Carro 1:
Saindo da Thomaz Flores, passa pela Marechal Deodoro, Joaquim Murtinho, Marechal Floriano, Galvão Costa, Venâncio Aires, Almirante Tamandaré e Gaspar Silveira Martins até retornar para a Catedral.

Carro 2:
Da Thomaz Flores vai em direção à Rua do Moinho, passando pelas ruas Dona Cristina, Edmundo Baumhardt, Lotário Heuser, Henrique Schuster e Gaspar Silveira Martins, terminando na Rua João Werlang.

Carro 3:
Da Thomaz Flores, vai para a Rua Juca Werlang, Capitão Jorge Frantz, Marechal Deodoro, Joaquim Murtinho, Marechal Floriano, Avenida Euclides Kliemann, Dona Carlota, Dr. Arthur Germano Fett, Venezuela e Paul Harris, terminando na Padaria Pristch.

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