Em meados de 2013, já escrevera sobre dois fenômenos políticos do nosso tempo, a antipolítica e a pós-política. Retomo o tema. As duas práticas questionam (e transformam) gravemente a democracia, assim como a popularmente compreendemos (ainda que de modo equivocado).
Em seu premiado ensaio de 1985, o escritor húngaro George Konrád (1933-2019) definiu a antipolítica como “uma força moral da sociedade civil que articula a desconfiança e a rejeição pública do monopólio de poder da classe política dentro do Estado – um poder usado contra as populações através de legislação. Esta força moral não pretende derrubar o poder político, mas opor-se à opressão que ele exerce sobre as populações”.
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Ressalva: importante reconhecer que a conclusão de Konrad guarda relação com a contestação húngara à opressão soviética, à época em modo decomposição, concretizada em 1991. Porém, a rigor, a antipolítica não tem em si uma utopia, um projeto de poder.
Enquanto a antipolítica quer refazer e recuperar o sentido e o debate ideológico (mas questiona os partidos e suas práticas), a pós-política representa o contrário. Pensa, acredita e aposta no fim da ideologia.
Se a antipolítica não contempla um projeto de poder e não sugere uma utopia, a pós-política, ao contrário, sabe muito bem o que fazer, como fazer e o que quer: o poder. E o poder se estabelece pela conquista do Estado. A pós-política é realista. Joga o jogo do sistema. Não tem ilusões, nem pudores.
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Utiliza e manipula os partidos, faz permanente cooptação das instituições sociais, as despolitiza e as converte em instrumentos de sua manutenção de poder.
Entre esses dois movimentos políticos há algo essencial em comum, mas por razões diferentes. Os meios de informação e conhecimento são ponto central de ação da antipolítica para expandir a comunicação e as redes de integração do debate político-ideológico.
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A pós-política, porém, reconhecendo os inerentes riscos à sua manutenção de poder, tenta impor o controle sobre os meios de comunicação. Ou então, mais recentemente, adere grosseiramente à pós-verdade.
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Governos, sindicatos, universidades e imprensa, por exemplo, perderam credibilidade e, consequentemente, já não conduzem o debate público. A busca e a afirmação da verdade ficaram em segundo plano.
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No criativo e incessante fluxo das redes sociais, líderes da preferência popular em informação (via celulares cada vez mais potentes), a arte da boataria e da desinformação predomina. Na falta de um certificado de autenticidade, prolifera a pós-verdade!
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