A passagem, ontem, do Dia do Colono (Colonizador), que exalta a chegada nesta data, no ano de 1824, dos primeiros colonizadores alemães à atual São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, faz lembrar das suas tradições. Em todo o Estado e, em particular, entre nós, onde celebramos este dia com feriado, consciente da relevância da colonização germânica, que aqui ocorreu a partir de 19 de dezembro de 1849.
Uma tradição bem forte nestas colonizações, e das europeias em geral, mas não muito lembrada, é a dos sinos junto às igrejas tão presentes nas comunidades teutas, revelando uma de suas principais características, a fé. Os seus toques ouvidos desde a infância na comunidade natal no interior ainda continuam ressoando no subconsciente, chamando para o despertar da manhã, a hora do almoço e o encerramento do trabalho (outra forte marca alemã) no final do dia, além da hora da missa, do casamento, da festa e, por fim, do falecimento de alguém, assim como do seu enterro.
Este mesmo badalar continua fazendo parte da vida na cidade, em pleno centro, nas suas igrejas mais destacadas, a Catedral e a Igreja Evangélica, e fazem recordar daqueles sons familiares desde os primeiros dias de vida (e após no seminário, onde “puxava” o sino, até quando não precisasse, como na festa dos músicos, pois afinal tratava-se também de som musical…). Integra o nosso patrimônio histórico e cultural, que felizmente permanece preservado e continua a marcar as horas para todos e momentos importantes na vida da igreja e da comunidade.
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Há registros históricos sobre estes sinos, que na Igreja Evangélica chegaram em 1880, em número de três (com respectivos 73, 57 e 52 centímetros), “e trouxeram um novo ânimo à população evangélica”, como relata Felipe Altermann, no livro Templo memorial – restauração e reconstrução. A publicação fala de sua instalação na antiga igreja da comunidade, na esquina das atuais Borges de Medeiros e Tenente Coronel Brito, e sua utilização posterior no prédio atual, na confluência das ruas Venâncio Aires e Sete de Setembro, bem como a automação por empresa de Monte Alverne (Rupa) durante a restauração em 2001. Hoje, salienta, “para cada ocasião – cultos (diversas opções), casamentos, falecimentos (homens, mulheres e crianças), há um badalar especial, acionado por um painel de controle localizado na sacristia.”
Na Católica, desde a primeira matriz, inaugurada em 1863, há referência ao “repicar dos sinos”, como na recepção ao Bispo em 1873, ano em que também chegaram “dois novos de Nova York, com 180 e 90 quilos”, como apontou Padre Inácio Spohr, SJ, em História das casas – um resgate histórico dos Jesuítas no Sul do Brasil – Paróquia São João Batista – Santa Cruz do Sul, RS, 2019. Em 1896, a matriz ampliada recebeu da Alemanha quatro sinos novos (entre 813 e 313 quilos), ao custo de 11,679 contos de reais, pagos por coletas e leilões, enquanto em 1938 ocorreu a “Glockenfest” (Festa dos Sinos), em prol da nova matriz (futura Catedral), pela transferência dos quatro bronzes para as suas torres, com novos padrinhos e recursos obtidos por meio do seu toque pelos doadores, conforme registra obra manuscrita de outro jesuíta, o santa-cruzense P. Arthur Rabuske, meu patrono na Academia de Letras.
Muito há para contar a respeito, desde as origens da tradição há pelo menos 700 anos na Europa e a manutenção de suas funções originais de alto valor nas comunidades, até sua evocação em livros, filmes e músicas, como Por quem os sinos dobram?, de Ernest Hemingway, para lembrar que, nas mortes das guerras, seus dobres se refletem em cada pessoa, pois somos parte do mesmo gênero humano. Neste momento comemorativo, queiramos dobrar com saudade os sinos pelos antepassados colonizadores e seus legados na vida comunitária e pessoal, e festivamente pelos que continuam a zelar por suas mais caras tradições.
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