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Por que caímos em fraudes e golpes financeiros?

Volta e meia, noticiais de jornais, inclusive na Gazeta do Sul, informam que alguma pessoa caiu no “lendário” conto do bilhete. Aplicado há muitos anos e mesmo com a divulgação que jornais e rádios dão ao repetido episódio, pessoas ainda caem no conto. O conto do bilhete envolve uma encenação e narrativa, geralmente com a participação de, no mínimo, dois meliantes, mas, será que as vítimas nunca ouviram falar desse tipo de golpe ou são tomadas pela ganância e possibilidade do ganho fácil?

Embora o conto do bilhete ainda continue fazendo, esporadicamente, novas vítimas, outras formas de fraudes e golpes são criadas. Infelizmente, é uma atividade criminosa em constante evolução, utilizando-se cada vez mais das ferramentas de tecnologia e comunicação.  Pesquisa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) mostra que três em cada dez brasileiros já sofreram tentativa ou foram vítimas de fato de golpes e fraudes, neste ano. Até o fim deste ano, os bancos estimam que os prejuízos em golpes deverão chegar a R$ 2,5 bilhões.  É provável que, em algum momento da vida, uma pessoa próxima ou até nós próprios já vivemos ou vamos passar por uma experiência negativa dessas.

Ao cair num golpe, passada a raiva e, de alguma forma, conformada com o prejuízo, a pessoa se pergunta como se deixou levar ou não percebeu a enganação. Em alguns casos, realmente é difícil identificar ou livrar-se do golpe ou da fraude, como no boleto falso ou na troca do cartão de crédito; pior ainda, se estiver sequestrada e sob a mira de bandidos armados. Mas, para o perito em crimes digitais e CEO da Enetsec, Wanderson Castilhos, 97% dos crimes virtuais são realizados a partir do descuido dos consumidores. Uma pesquisa da CVM, feita com vítimas de golpes financeiros, por exemplo, apontou os principais aspectos que contribuíram para que as pessoas caíssem em ciladas:

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  • a aparência do site que transmite confiança;
  • indicação de familiares ou amigos;
  • exigência de pequeno investimento;
  • desconhecimento de que aquilo pode ser um golpe.

Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV, diz que existe uma história por trás de cada golpe ou fraude: a pessoa se identifica com a narrativa, até mesmo num conto do bilhete. Às vezes, acredita em um golpe por se relacionar a uma fraqueza pessoal, a um desejo ou à vontade de tirar vantagem.  O medo de desperdiçar uma chance de se dar bem leva a vítima a preferir tentar a sorte e correr o risco do que ficar para trás, vendo outros aproveitarem supostas oportunidades. Uma mesma proposta pode ser absurda para algumas pessoas e elas a descartam; outras, entretanto, se convencem com a narrativa e a aceitam como verdadeira, achando que os outros são bobos de não aproveitarem uma oportunidade.  

Quem precisa muito de dinheiro para alguma finalidade específica ou está muito endividado tem maiores chances de cair em golpes. Como, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC, 79% das famílias estão endividadas, o que as tornam potenciais vítimas de fraudes e golpes.  As pessoas endividadas tendem a acreditar em soluções simples, fáceis e acessíveis. Já quem está sem dinheiro e tem vontades de consumo também está predisposto a cair em golpes. A possibilidade de um ganho extraordinário de dinheiro pode ser a solução caída do céu para resolver pendências financeiras ou, simplesmente, permitir realizar um sonho de consumo há muito desejado, o que abre espaço para momentos de fraqueza.

Será que é mais seguro acreditar em pessoas de convivência? Mesmo em propostas de negócios mirabolantes que chegam através de familiares, amigos e conhecidos é preciso verificar a veracidade. Em golpes e fraudes apresentadas por pessoas conhecidas as chances de serem aceitas são maiores, sem levar em conta, ainda, que aquele familiar, amigo ou conhecido ainda não se deu conta de que está numa “furada”.

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Muitas empresas e instituições desenvolvem mecanismos e dão dicas para evitar que consumidores caiam em golpes e fraudes. No Pix, por exemplo, à noite existe um valor máximo de transferência permitido, mesmo existindo saldo maior na conta. Durante o dia, dependendo do valor, o banco pode pedir confirmação por biometria facial ou digital para certificar-se de que é realmente o titular da conta que está efetuando a transferência.

Mas, dicas e recomendações muitas vezes não chegam ao consumidor, não são suficientes ou não o convencem de eventual perigo. Como já foi repetido nesta coluna, em vários artigos, lidar com o dinheiro é essencialmente uma atividade comportamental. E o comportamento é influenciado pelas emoções o que os meliantes procuram explorar, valendo-se inclusive de nomes de empresas ou até sites falsos. O principal inimigo pode ser o ego.

O chamariz dos golpistas é mostrar pessoas, às vezes até alguém próximo ou da confiança da vítima, que obtiveram resultados fabulosos, o que inclui carros de luxo, viagens internacionais e um estilo de vida de muito conforto. Em princípio, é recomendável desconfiar de tudo e pesquisar porque, afinal, não existe dinheiro fácil.

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Mesmo se informando e tomando os cuidados necessários, qualquer pessoa pode cair em algum golpe ou fraude. É difícil recuperar o dinheiro, principalmente em transferências – os meliantes agem rapidamente para sacar os recursos -, mas pode-se minimizar danos com algumas providências:

1) entrar em contato com as instituições financeiras e informar o golpe, solicitando o bloqueio temporário de todas as contas:

2) redefinir as senhas das redes sociais e outros aplicativos;

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3) se o número do celular foi invadido, avisar contatos;

4) registrar um boletim de ocorrências (B.O.) o que pode ser feito online ou, se preferir e existir na localidade, procurar uma delegacia especializada em crimes digitais.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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