Admiro os prefeitos. São pessoas que deixam a zona de conforto – para usar uma expressão da moda – a fim de encarar os desafios de uma crise sem precedentes com desafios inéditos na administração das comunidades. A dedicação ao município é remunerada, ok, mas o dinheiro não compra certas coisas. Como a tranquilidade dos feriados e finais de semana ou momentos com familiares e amigos.
“A dedicação à vida pública muitas vezes significa sacrificar os negócios, os amigos e os familiares.” Ouço essa frase desde os 8 anos de idade, quando meu pai elegeu-se vereador numa pequena cidade do Vale do Taquari, Arroio do Meio. Em 1968, os vereadores não eram remunerados e trabalhavam “por amor à camiseta”.
Prefeito não tem sossego nunca. Em todo lugar que vai ouve queixas, xingamentos e pedidos. Raramente ele é elogiado por alguma boa ação em benefício da população. Na hora da missa, da compra do mercado, na cancha de bocha ou no futebol da várzea, onde for é assediado com pedidos de dinheiro, emprego ou “uma carga de brita ou saibro” para a sua rua.
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Se não bastassem as agruras naturais do cargo, 2020 inaugurou um período de crise sem precedentes na história recente do mundo. Pandemia versus trabalho, a batalha diária no abre-fecha que o Rio Grande do Sul assiste há um ano.
A pressão dos comerciantes e empreendedores para manter os negócios em funcionamento é legítima, como é justa a reivindicação para que se “feche tudo” para conter a proliferação do vírus. O colorido das regiões, modelo protagonizado pelo governo do Estado, até hoje carece de um estudo científico que comprove a eficácia dessa ideia.
A radicalização é um mal do mundo moderno. Não bastasse o fanatismo de uma legião de sem-noção, as redes sociais tornaram os imbecis doutores que se valem do Google e de outras ferramentas para fundamentar suas asneiras.
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Quem apostou numa espécie de reconciliação entre os radicais – de esquerda e direita – assim que a crise sanitária se instalou errou feio. Confesso a vocês que nunca alimentei esperanças de que fosse promovido um mea-culpa coletivo que pudesse mitigar os efeitos da Covid. Entenda bem, amigo leitor, não se trata de pessimismo crônico, mas resultado de observações que faço ao longo de 60 anos de idade e mais de 40 de jornalismo.
Como sempre, tudo que é ruim sempre pode (e vai) piorar. Duvidam? Então imaginem que os enfrentamentos diários que assistimos deverão se intensificar em 2022 porque será um ano de eleições. O que está por vir é difícil de prever, mas os prefeitos estarão no olho do furacão, lutando 24 horas por dia para cumprir a lei, atender ao pleito dos comerciantes e lutando pela vida. É um tremendo desafio, hein?
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