Bêla, Tia Bêla, Bêla da rapadura… assim ficou conhecida Rozena Machado Rode, 68 anos, quando ela passava com seu carrinho repleto de doçuras e desfilando um traje típico de Festa Junina, no centro de Sobradinho. A vendedora, hoje dona do próprio negócio, diz ter o dom para se comunicar e atrair os fregueses, os quais sempre conquistou com carinho e assim os manteve.
Das rapaduras para as roupas, trabalhando atualmente em sua loja de confecções, Bêla guarda boas lembranças do tempo em que se dedicou a comercializar os doces. Segundo ela foram aproximadamente 20 anos atuando neste ramo, dos quais a maior parte deles, ao lado do ex-marido. “Ele participou de um curso e começou a fazer rapadura e eu saia vender em uma forminha. Aí fomos melhorando, a coisa foi crescendo e ele fez um carrinho e começamos a vender ainda mais. Todo dia a rapadura era novinha, o pessoal gostava do que vendia”, recordou.
Trabalhando juntos, foram desenvolvendo novas receitas para a tradicional rapadura, cocada, cri-cri, dividindo o trabalho de produção e as vendas. Já nos últimos anos, divorciada, Bêla assumiu o comando ‘do descascar o amendoim até entregar a rapadura na mão do cliente’. “Nos últimos três/quatro anos que trabalhei com este ramo, trabalhei sozinha, eu e Deus. Levantava 4 horas da manhã para dar conta de produzir, organizar e quando eram 8h já estava lá no centro vendendo”, contou.
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Conhecida como ‘Bêla da rapadura’, diz ter conquistado clientes fiéis, os quais foi somando ao passar dos anos. “Eu ia vendendo, vendendo, cada vez tinha mais clientes. Eles gostavam porque o produto era de primeira e sempre novinho”, ressaltou ela, acrescentando que qualidade sempre foi o diferencial.
Há aproximadamente quatro anos, a vendedora refletiu se continuaria trabalhando sozinha. Achou que todo o esforço não estaria compensando, pois, o preço da matéria-prima se tornou mais salgado e o lucro ficou pequeno. “Dá bastante trabalho fazer as rapaduras e eu vendia muito barato em comparação das coisas que se tornaram mais caras. Então, optei pela loja, como já havia trabalhado de vendedora de loja antes”, pontuou.
Revendo as fotografias, Bêla relembra suas andanças. De segunda a sexta, todos os dias ao longo do ano, empurrar o carinho cheio de doces e oferecer aos comerciantes, vendedores, moradores e visitantes da cidade, se tornou rotina. Uma rotina prazerosa, da qual sente saudades. “Eu não tinha vergonha, tinha orgulho de ser uma rapadureira. Até fico emocionada, porque começamos vendendo a R$ 1,00 cada uma. Muita gente dizia: ‘Bêla, mas tu na rua pra cima e pra baixo por R$ 1,00?’ E eu dizia: ‘gente, nós temos que batalhar. De grão em grão a galinha enche o papo’. E no fim do dia eu tinha meu dinheirinho para comprar as coisas”, destacou.
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Além das vendas tradicionais, junho costumava ser um mês ainda mais especial. Bêla confeccionava suas vestimentas de caipira, enfeitava o carrinho com bandeirinhas e se divertia ao divertir os clientes. “Meu carrinho continua aí, as roupinhas de São João também. As gurias das lojas vinham na porta para tirar foto e eu ficava muito feliz, me sentia tão realizada com esse povo querido”. O mês também era de renda extra, com a venda para a tradicional festa de São João, em Linha Carijinho. “Era muita coisa e eu gostava de fazer tudo com amor e carinho. As vezes era 500, 600 rapaduras para a Festa. Cri -cri também. E eu ficava bem feliz”, recordou.
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O desejo de Bêla é ainda ensinar aos sobrinhos as receitas tradicionais, para que, se algum deles se interessar, possam continuar vendendo. Agora, quanto ao segredo da rapadura, está mesmo na dedicação e amor pelo que faz, e no dom para a venda, o qual ela agradece a Deus. “Era tudo feito por medidas certas. Cada doce tinha uma medida específica. E eu sempre fazia por aquilo ali”, ressaltou.
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Se as rapaduras não estão mais diante dos olhos dos clientes no centro da cidade, quem se beneficia agora é a família. Ou então, para quem quiser encomendar com antecedência, Bêla costuma produzir cri-cri de nozes. Um novo estilo, uma nova receita. Mas as mais tradicionais, ela compartilhou com a gente.
RAPADURA
INGREDIENTES:
– 1 xícara de melado
– 2 xícaras de amendoim torrado
MODO DE FAZER:
Em uma panela, cozinhar o melado até pegar o ponto (fica um puxa-puxa).
Ainda quente, acrescentar o amendoim.
Passar um pano molhado para umedecer o mármore da pia. Com a colher, soltar montinhos da rapadura quente sobre a pia. Deixar esfriar e remover (o ideal é que se solte sem auxílio de talheres). Também é possível distribuir a rapadura quente em uma forma. Quando frias, estarão prontas para comer ou embalar em papel filme.
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CRI-CRI
INGREDIENTES:
– 2 xícaras de açúcar
– 2 xícaras de amendoim cru
– 1 xícara de água
MODO DE FAZER:
Acrescentar todos os ingredientes em uma panela. Mexer até que comece a se desgrudar. Após, despejar sobre o mármore da pia para se soltar. E então estará pronto para degustar.
*Bêla destaca que estas receitas rendem pequenas porções, diferente do que ela costumava fazer, em grandes quantidades.
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São João em Casa
Com a pandemia, este já é o segundo ano sem as tradicionais comemorações juninas. Mas em casa, para os seus, é possível fazer aquela pipoca doce ou salgada, rapadura, cozinhar uns pinhões, recortar bandeirinhas, deixar a imaginação tomar conta, assim como fazem as crianças e aproveitar o clima de São João. “O balão vai subindo. Vem caindo a garoa. O céu é tão lindo. A noite é tão boa. São João! São João! Acende a fogueira do meu coração” […]