Haja vista as promessas do novo governo em proceder a uma ampla abertura comercial, de viés liberal, que contemple privatizações, concessões, permissões e terceirizações, entre as demais ações típicas, retomo um tema várias vezes tratado nesta coluna semanal.
Primeiramente, importa afirmar que há uma crise mundial em curso, que a todas as nações afeta, direta e indiretamente. E que exige estudos, procedimentos e diagnósticos para fins do futuro próximo.
Entre as razões objetivas e subjetivas da crise, sejam mais ou menos difíceis de solução e conciliação, creio que há ponto central que tanto amplia a crise quanto impede soluções, qual seja: há conflitos e divergências operacionais entre a prática política e a prática econômica dentro de um cenário de mundialização/globalização (da economia!).
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Regra geral, o espaço e o exercício da política são realizados no âmbito nacional, enquanto a prática da economia – negociações, deliberações e decisões – ocorre extraterritorial e mundialmente.
Vejamos um exemplo prático de conflito. Empresas multinacionais (ou nacionais com vocação importadora/exportadora) interessadas no livre comércio e no movimento de capitais estão sujeitas e influenciadas por legislação e sindicatos protecionistas e submetidas às condições da política nacional.
Ou seja, a política nacional atua como um freio à tendência mundial do livre e abundante comércio. Nesse paradoxo, nessa contradição de vontades, a política e a economia acabam por opor forças e anular esforços.
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Ideias e ações voltadas para a integração mundial, dentro de uma visão liberal, a exemplo do que pretende o governo, acabam por enfrentar movimentos e processos políticos internos nacionalistas e protecionistas. Esses movimentos e processos têm compromissos que vão além dos aspectos econômicos e financeiros. Basicamente, são compromissos incompatíveis com ânimos e tendências globalizantes.
Consequentemente, esse “insuperável” conflito de interesses provoca prejuízos aos projetos de ampliação do livre comércio mundial. Afinal, sob o domínio da política nacional, os liberais e globalistas econômicos têm dificuldade e incapacidade de interlocução e superação. Sobretudo neste momento de perplexidade, essa é uma dificuldade e contradiçao geral. Resumindo, é a política nacional de cada nação levada ao cenário e confronto mundial.
E para piorar o cenário, para muito além da mundialização da economia, ultimamente advêm questões sociais complexas – como as ondas migratórias e o desemprego – que despertam o conservadorismo em todas as nações.
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