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Política e verdade

Entre os vários substantivos e outros tantos adjetivos que caracterizam a democracia, uma palavra merece especial atenção e zelo. Refiro-me a verdade. Vocação e essência humana, a busca da verdade nos eleva e nos afasta do ceticismo e da indiferença.

O direito à verdade dos fatos sociais deve ser uma garantia democrática. Deve ser uma virtude pública. Mas quando a verdade é fabricada, deixa de ser verdade. Torna-se matéria-prima da mentira.

As práticas de poder têm-se utilizado da mentira e da verdade pré-fabricada. Quando a verdade é manipulada, a mentira aumenta seu poder de (dis)simulação dos fatos.

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Nosso sistema político representativo tem-se afastado da sociedade. E a nossa participação tem-se limitado ao comparecimento às urnas e à volta para casa. Mansa e indiferentemente.

Nossa democracia deixou de produzir a verdade e a autenticidade, ambos essenciais como fatores de questionamentos e transformações sociais, participação e fiscalização. Conjunto de virtudes que refutam as imposturas e as imposições.

E o que é o voto? Não deveria ser síntese e bandeira de nossas convicções e expectativas, e de compromissos institucionais? E o que sucede, se é rotineiramente frustrante e decepcionante?

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Na medida em que se sobrepõem outros e difusos interesses, alguns suspeitos, e se desconstrói sistematicamente a verdade, a política perde seu sentido.

Pior. Na medida em que a política perde seu sentido, mas preserva sua institucionalidade, sua exigência formal, as meias e falsas verdades “aprisionam” o cidadão.

Funcionam como um controle das possibilidades de ação e reação popular. Modificam os fatos e, consequentemente, a própria história. O passado já não podemos mudar. E o futuro resta manipulado.

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A sociedade percebe isso. Pressente a manipulação, vê, mas não reage. A generalizada memória curta esquece sua revolta, renova mandatos, repete formulismos e mágicas crenças

Ainda que a mentira e a manipulação sejam fraquezas humanas, também é certo que a verdade e a liberdade são atributos que estão ao nosso alcance. Mas, então, por que continuamos mentindo para nós mesmos? Política e verdade são incompatíveis? 

Ilustro. Como diz o escritor austríaco Robert Musil (1880-1942), na obra O homem sem qualidades, “a verdade tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem”.

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