A chegada de novas pistas está mudando os rumos de uma investigação de homicídio em Candelária. O caso em questão aconteceu na noite de 11 de março. Ederson dos Santos, de 31 anos, foi alvejado em uma residência de Picada Karnopp, no interior. Até então, a morte era tratada como resultado de um ato de legítima defesa do atirador – o ex-sogro da vítima. Contudo, provas técnicas apontaram para outras possibilidades.
De acordo com a delegada Alessandra Xavier de Siqueira, todos os indivíduos que estavam na casa no momento dos disparos já foram ouvidos. “Suspeitamos que o local foi manipulado antes da perícia chegar. Eles deram a versão de legítima defesa, o que também não está batendo muito com a dinâmica dos fatos apontados no laudo da cena do crime. Em três pontos o laudo diverge da versão apresentada pelo autor”, disse a responsável pela DP de Candelária.
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As informações iniciais davam conta de que, na tarde antes do crime, Ederson, que havia saído no dia anterior do presídio e respondia por três roubos, havia procurado a ex-mulher. Os dois já estavam em processo formal de separação. Ele teria entrado no ônibus em que ela viajava e feito ameaças, mas foi contido por outros passageiros.
A mulher já havia prestado queixa contra ele. Por causa das ameaças, a família pediu que ela ficasse na casa dos pais. Na noite do crime, por volta das 21 horas, a ex-mulher de Santos estava dormindo com o filho dela e de Ederson quando ouviu chutes na porta. Em seguida, o ex-marido dela teria arrombado a entrada, supostamente portanto uma faca e uma arma de brinquedo, idêntica a uma verdadeira. Segundo a versão dos presentes, foi então que acabou atingido pelos tiros disparados pelo ex-sogro, de 59 anos.
A perícia foi realizada por um professor da Academia da Polícia Civil. Segundo Alessandra, os detalhes elencados no documento, bem como a posição onde foi encontrada uma faca que estaria com Ederson, indicam que a cena pode ter sido alterada antes da chegada dos peritos. “Alguns fatos nos levam a crer que a vítima foi atraída até lá. Existem algumas situações ainda sem sentido, que precisamos esclarecer.”
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À delegada, o autor dos disparos disse ainda que jogou sua arma nas proximidades de um matagal, próximo da rodovia. Ela não foi mais encontrada. Dentre as testemunhas já ouvidas para o caso, uma será intimada a prestar novo depoimento – a polícia tem o objetivo de analisar um possível falso testemunho. Se a polícia confirmar que houve alterações na cena do crime antes de os peritos chegarem, de acordo com a delegada Alessandra, existe a possibilidade de um ou mais envolvidos responderem por fraude processual.
OS PONTOS DIVERGENTES
Vítima estava descalça
Segundo Alessandra Xavier, a informação sustentada pelas testemunhas que estavam na casa era de que Ederson teria tentado arrombar com chutes a porta da residência por quatro vezes. Porém, o cadáver foi encontrado com os pés descalços. “Então, ele teria supostamente tirado os tênis antes de tentar arrombar a porta. Os peritos verificaram que esse calçado não estava próximo da cena do crime, mas sim em um galpão ao lado da casa, que é onde a ex-companheira dorme, dado que o espaço foi cedido pelos pais dela”, relatou a delegada. Uma das suspeitas é de que o homem poderia estar com a mulher de forma consentida, momentos antes do crime. “O fato de o tênis ser encontrado na peça onde a mulher ficava dá vazão para muitas coisas. Não tem lógica o homem ir invadir uma casa e tirar o tênis antes de arrombar a porta”, complementou Alessandra.
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A porta não teria sido arrombada
Os laudos da perícia também sugerem que o arrombamento da porta teria sido simulado. “Quando você arromba, a projeção de força utilizada faz com que ocorra um tipo de dano junto à fechadura da porta. O perito apontou que este dano não estaria na posição correta, pois, conforme as testemunhas, a projeção teria sido feita de fora para dentro. Mas, como estava, dava a entender que alguém havia lascado manualmente a estrutura para dizer que a porta havia sido arrombada”, salientou a responsável pela DP de Candelária
Excesso de tiros
Outro fato que chamou a atenção dos peritos diz respeito à quantidade de disparos efetuados pelo ex-sogro da vítima. O local é pequeno, por isso, segundo a polícia, não seria possível atingir muitos pontos da casa se, de fato, o homem tivesse agido em legítima defesa. “Havia outras perfurações de disparos nas proximidades do corpo, no assoalho. Da forma como o autor alega que foram efetuados os tiros, a proximidade das regiões onde pegaram as perfurações levanta dúvidas sobre ele realmente ter se posicionado na distância da onde alega ter atirado.” Segundo a delegada, a legítima defesa configura-se em repelir um suposto agressor. “Um disparo seria suficiente, mas não descarregar uma arma em uma pessoa já atingida. Por isso, estamos investigando se houve excesso, o que pode configurar até homicídio doloso”, salientou a delegada.
Outros casos seguem em investigação
A Polícia Civil de Candelária segue investigando outros dois casos de homicídio. No último dia 24, Hildor Durrewald, de 54 anos, morreu após ser atingido no peito por um disparo de pistola, em um prédio na Rua Botucaraí, Bairro Princesa. O autor dos disparos foi um vizinho de 65 anos. Os dois tinham um rixa antiga. “Estamos trabalhando para verificar se confirma a versão de legítima defesa do autor”, comentou a delegada Alessandra.
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Ainda no dia 23, Thiago Pukaleski, de 32 anos, morreu em decorrência de uma paulada na cabeça, após uma briga no Bairro Esmeralda. O indivíduo foi atingido quando, supostamente, tentava agredir a ex-mulher, enquanto ela e um amigo jantavam. “Como o falecimento ocorreu em Cachoeira do Sul, no transporte da vítima para o hospital, temos que realizar uma sequência de diligências que ainda estão pendentes.”
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