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VALE DO RIO PARDO

Polícia investiga se aborto de vítima de feminicídio ocorreu por agressões de assassino

Feminicídio de Valéria Fischborn aconteceu na segunda-feira da semana passada, na residência do casal, em Linha Vargas | Foto: Eduardo Barreto/IGP

O caso de feminicídio registrado no Vale do Rio Pardo em 2023 já teve seu inquérito finalizado pela Polícia Civil. Eluí Marcelo de Vargas, 37 anos, atualmente preso preventivamente no Presídio Estadual de Carazinho, foi indiciado por homicídio triplamente qualificado, com as qualificadoras – dispositivos que podem ampliar a pena – elencadas pelo feminicídio (fato de a vítima ser mulher), motivo fútil (ciúme) e recurso que impossibilitou a defesa da vítima (ele tinha arma e ela, nada).

Eluí, que era agricultor, matou com disparos de revólver sua companheira Valéria Fischborn, de 28 anos, por volta de 19h30 de 2 de janeiro, na cozinha da residência do casal, na frente do filho deles, de 8 anos. O imóvel fica na localidade de Linha Vargas, no interior de Passa Sete. A mulher levou um tiro no rosto e, já caída, outros cinco disparos pelo corpo.

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O autor, que foi encontrado na mesma noite caminhando pelas ruas da cidade vizinha de Lagoa Bonita do Sul, terminou preso em flagrante pela Brigada Militar. Na cena do crime, foi apreendido em cima da mesa um revólver calibre 38. Os policiais ainda localizaram nas proximidades da casa uma espingarda Rossi e diversas munições calibre 12. Polícia Civil e Instituto-Geral de Perícias (IGP) também atenderam a ocorrência.

Desde então, o caso vinha sendo investigado pela delegada Graciela Foresti Chagas, titular da Delegacia de Polícia (DP) de Sobradinho, que responde também por Passa Sete e mais outros quatro municípios. Nessa terça-feira, 10, ela revelou detalhes do inquérito à Gazeta do Sul. Embora o documento tenha sido remetido ao Poder Judiciário, dois fatos ainda são alvos de apurações da Polícia Civil.

Valéria foi morta a tiros

Valéria teve um filho, hoje com 8 anos, com Eluí, e ainda teria sofrido três abortos. “O último destes teria acontecido há um ano, e suspeita-se que possa ter sido provocado pelas agressões que ela sofria. Mas nós vamos atrás disso nos próximos dias para verificar esses detalhes”, comentou a delegada.

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O outro ponto é uma possível tentativa de assassinato do filho do casal. “A criança confidenciou que na noite do fato o pai teria tentado matá-lo; por isso, mesmo com o inquérito concluído, vamos investigar ainda a motivação dos abortos e a questão da possível tentativa de homicídio contra o filho”, disse a delegada titular da DP de Sobradinho. “Vamos aguardar a perícia psicológica e depoimento sem dano para aferirmos a conduta. Será feito o indiciamento posterior se necessário quanto a esse fato.”

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Agressões e ciúme doentio nortearam a vida do casal

Nos anos de 2012, 2013 e 2017 foram registradas ocorrências de Valéria contra Eluí. A mulher tentou se separar diversas vezes, mas o homem pedia para voltar e ela aceitava. “Apuramos que a vítima teve uma infância muito pobre e, aos 14 anos, foi residir com esse homem no interior de Passa Sete. O relacionamento deles sempre foi com muitas discussões e brigas. Ela era vítima de muitas agressões motivadas por um ciúme doentio dele, relatado por familiares, ao ponto de ela não poder ter contato sequer com os irmãos”, detalhou a delegada Graciela.

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Graciela Foresti Chagas é a responsável pelo inquérito | Foto: Divulgação

“Todo mundo sabia que ele tinha ciúme doentio. Tem uma narrativa de uma ocorrência de 2012 em que ele teria tentado enforcá-la com uma cinta. Em 2013, ela relatou que ele era tão ciumento que, quando chegava visita de homem, era obrigada a se esconder. Em 2017, ele teria avançado para agredir o filho de 2 anos e a ameaçava de morte. Todos comentavam na localidade que, mais cedo ou mais tarde, ele iria matá-la”, complementou a policial civil. Valéria, que era cuidadora em um lar de idosos, chegava a trabalhar com marcas pelo corpo de hematomas e agressões.

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Também chegou a pedir socorro em casas próximas. O indiciado confessou o feminicídio à polícia, e disse que o fez por acreditar que Valéria o estava traindo. “Sobre esse possível relacionamento extraconjugal, nenhuma testemunha ouvida disse ter qualquer conhecimento nesse sentido. Ela não saía para lugar nenhum. Conhecidos falaram que ela ia de casa para o serviço e do serviço para casa. E, nos horários em que não estava trabalhando no lar de idosos, ajudava na lavoura.”

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