Ao iniciarem a investigação a respeito do último homicídio registrado em Vera Cruz, na noite de 8 de novembro, os agentes da Polícia Civil mal poderiam imaginar as particularidades que encontrariam ao descobrir a trama orquestrada e premeditada por Tamara Cristina da Silva, de 26 anos, para assassinar o marido, o montador de móveis Maicon Natan Gonçalves Marques, de 32 anos, com quem tinha um filho de 2.
Nessa sexta-feira, 2, ao concluir o inquérito e remetê-lo ao Poder Judiciário, a delegada Lisandra de Castro de Carvalho revelou à Gazeta do Sul detalhes até então mantidos em sigilo e que foram comprovados nos últimos dias pelos investigadores. Além da mulher, autora confessa do crime e foragida da Justiça, que foi a mandante e pagou R$ 1 mil pela execução de Marques, outros três homens já haviam sido identificados na última semana como coautores.
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Um homem de 26 anos, amigo de infância de Tamara, que intermediou a negociação da morte, e outro de 31, que assassinou Maicon a tiros perto do trevo de Ferraz, após chamá-lo para um suposto trabalho, foram presos em Vera Cruz durante a Operação Quinto Mandamento, deflagrada em sigilo pela polícia em 24 de novembro. Outro rapaz, de 28 anos, que adquiriu a motocicleta Honda CBX 200 Strada preta de Maicon, roubada no dia do homicídio, teria fornecido o revólver para a execução e, por ora, responde em liberdade.
Os desdobramentos sem precedentes do caso, no entanto, recaem sobre as apurações dos últimos dias, que revelaram que o ex-padrasto de Tamara, Carlos Rech, de 48 anos, participou como um dos mandantes do homicídio. O homem havia sido condenado por ter estuprado a autora confessa do crime ainda quando ela era adolescente, com 16 anos. Atualmente, ele cumpria pena restritiva de liberdade, por meio de monitoramento por tornozeleira eletrônica, em virtude desse delito.
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“Em análise do conteúdo de um dos telefones apreendidos, nas conversas de um dos presos, surgiu essa pessoa envolvida. Apuramos por testemunhas que ele nutria um sentimento por ela. Recentemente, a Tamara começou a se aproximar dele novamente, dando ideia de que poderia retomar um relacionamento e agora teria coragem de assumir algo com ele, mas que precisaria se livrar de Maicon”, explicou Lisandra.
Para os investigadores, o caso complexo revela que a autora teria usado o ex-padrasto para assassinar o companheiro. “Ela descobriu recentemente traições da vítima ao acessar mensagens no direct no Instagram do Maicon. Com sentimentos de ódio e revolta, terminou convencendo o Carlos, no nosso entendimento, a ajudá-la no plano maquiavélico”, salientou a delegada.
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Ao se inteirar da participação de Carlos, agentes da Delegacia de Polícia de Vera Cruz foram, na manhã da última quarta-feira, 30, até a propriedade onde ele morava e mantinha um forno de tabaco, em Linha Passa Sete, interior de Candelária – localidade vizinha daquela em que Tamara residia, em Linha Arroio Grande. Quando os agentes solicitaram que ele os acompanhasse até a delegacia para prestar esclarecimentos, Rech disse que iria ver alguma coisa que estava próximo do forno antes de ir. Sorrateiramente, ele fugiu para uma área de mata e não foi mais visto.
Na ocasião, os policiais apreenderam uma espingarda furtada na propriedade. Na mesma tarde, o homem de 48 anos rompeu a tornozeleira eletrônica e entrou na condição de foragido da Justiça. Carlos é parente do amigo de infância de Tamara, de 26 anos, que também está envolvido no caso. Além disso, os agentes apuraram um vídeo enviado pelo autor da execução, de 31 anos, no dia 5 de novembro – três dias antes do crime – para o parente de Carlos repassar a ele, em que mostra como isolar a tornozeleira eletrônica.
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Posteriormente, em novo depoimento, o preso de 26 anos admitiu aos policiais que Carlos planejou e foi mandante do crime junto com Tamara. Diante das novas evidências, a delegada Lisandra pediu a prisão preventiva de Rech ao Judiciário, que foi aceita.
Provas juntadas ao inquérito mostram que a motocicleta roubada de Maicon Marques foi recuperada no dia 21 de novembro em Linha Tapera, interior de Vera Cruz, sem a placa e com chassi raspado. Na noite seguinte, em Linha Arroio Grande, no interior de Candelária, na mesma localidade onde Tamara residia antes de fugir, foi encontrado o Santana usado no dia 8 de novembro pelos autores para irem até o ponto, em Linha Ferraz, onde encontraram Maicon e o assassinaram.
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No depoimento que prestou à Polícia Civil antes da resolução do caso, quando confessou ser a mandante, Tamara Cristina da Silva havia dito que o estopim para o crime foram as mensagens que ela viu no direct do Instagram de Maicon, que indicavam traições. Contudo, ela alegava ainda que era vítima de violência doméstica. Segundo a DP de Vera Cruz, Tamara já havia registrado no passado o estupro e uma importunação por parte de Carlos Rech, além de ocorrência contra outro ex-namorado, mas nunca registrou nada contra Maicon.
Na opinião da delegada Lisandra, o comportamento dela em fugir da prisão não combina com quem sofre violência doméstica. “Uma real vítima de violência doméstica colabora com a investigação”, comentou. O auto de necropsia identificou pelo menos oito perfurações no rosto de Maicon, o que indica a crueldade. “Foi um ódio despejado contra a vítima”, salientou a delegada. Além de Carlos Rech, Tamara também permanece como foragida. A defesa dela tentou entrar com pedidos de revogação da prisão preventiva e de prisão domiciliar e também habeas corpus, mas todos foram negados pela Justiça. “Foram inúmeras as tratativas com o advogado dela, que se comprometeu a apresentá-la, mas não o fez”, salientou a delegada Lisandra.
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“Estamos encerrando o inquérito devido ao prazo legal para remeter o caso com réu preso, mas ainda realizamos diligências e análises de outras provas”, explicou a responsável pela DP de Vera Cruz. Os cinco vão responder por homicídio triplamente qualificado, com as qualificadoras de paga ou promessa de recompensa e motivo torpe; meio cruel e emboscada, dissimulação ou outro recurso que impossibilita a defesa da vítima.
Tamara Cristina da Silva e Carlos Rech, que estão com mandados de prisão preventiva em aberto, são foragidos da Justiça. Quem tiver informações sobre o paradeiro deles pode entrar em contato com a DP de Vera Cruz pelo telefone (51) 3718-1137, que também é WhatsApp. Esse mesmo número pode ser usado pela comunidade para denunciar crimes. O sigilo é mantido.
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