Imagine uma empresa com demanda surreal de trabalho, sem data e hora exata para atendimento, e contando com apenas três funcionários a disposição? Este cenário dramático não é novidade no serviço público e agora se tornou a dura realidade enfrentada pela Polícia Civil de Sobradinho. Com um efetivo muito aquém do ideal, a equipe da delegacia está “se virando nos 30” para dar conta de tantas ocorrências, sem deixar de prestar um serviço de qualidade à população.
A situação complicada foi tornada pública pela delegada Graciela Foresti Chagas, que responde pela DP de Sobradinho desde 2016. Em entrevista ao Giro Regional da Rádio Gazeta FM na última sexta-feira, 18, ela não escondeu a sua preocupação com o baixo efetivo do município. “Estávamos, em 2018, com seis policiais em atividade para atender seis municípios que, somados, possuem 44 mil habitantes. Hoje, estamos com apenas três”, salienta. Segundo ela, o número reduziu ainda mais devido ao período de férias e também ao encaminhamento da aposentadoria de dois agentes.
A própria Graciela, que recentemente esteve afastada do trabalho devido a licença-maternidade, precisa “se dividir”, já que também responde pela Delegacia de Polícia de Arroio do Tigre. Para ela, os agentes da DP de Sobradinho são verdadeiros heróis. “Há alguns anos, se tinha um efetivo de 20 policiais, que é considerado o mínimo para prestar um serviço adequado. Hoje, são 600 ocorrências atendidas por policial. Isso beira o ridículo”, critica.
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O excesso de trabalho e o efetivo reduzido também causa duros reflexos em quem permanece na ativa. Além de dificultar o descanso – a cada 24 horas trabalhadas, o agente teria direito a 72 horas de folga – também acarreta problemas de saúde. Segundo Graciela, as cobranças são grandes e constantes, fora as requisições exigidas por Ministério Público e Poder Judiciário a serem cumpridas. “Não se vence toda a demanda. E, com isso, policiais acabam adoecendo”, alerta a delegada.
Mesmo existindo um banco de horas, implementado justamente porque o Estado não dispõe de dinheiro para pagar horas extras, as folgas foram diminuindo. Caso seguisse o esquema da jornada 24×72, conforme Graciela, a delegacia teria que fechar as portas, visto que a criminalidade na região é crescente.
Mesmo com todas as dificuldades existentes – de efetivo e de infraestrutura –, a Delegacia de Polícia segue prestando um trabalho importante em Sobradinho e região. Ao todo, foram atendidas 3,4 mil ocorrências em 2018 na área de abrangência. “São 2,4 mil procedimentos policiais em andamento. Efetuamos 60 prisões no ano passado, mesmo com o número reduzido de agentes. Se tivéssemos um efetivo adequado, renderia muito mais”, reforça.
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Nas detenções, a grande maioria se tratam de prisões preventivas. Também ocorreram algumas prisões em flagrante e de foragidos. Entre outros dados relevantes, houve a apreensão de cinco adolescentes, encaminhados à Fase. Graciela lembra que, no final do ano, depois de iniciada uma investigação, ocorreu a prisão de uma importante traficante no Bairro Medianeira. A partir dela, outros foram localizados no Bairro União.
O tráfico de drogas em Sobradinho, aliás, possui uma peculiaridade em relação a outros municípios. “É muito pulverizado, miúdo. Não temos grandes quantidades de drogas sendo comercializadas, mas há muitos pontos. São diversos alvos e isso dificulta o nosso trabalho”, ressalta, lembrando que muitos crimes como furtos, furtos qualificados, roubos e apreensões estão ligadas diretamente ao tráfico.
Ao longo do ano, foram priorizadas também ocorrências de crimes que dizem respeito à vida (homicídios), além de casos de violência grave, como latrocínios e estupros. A partir daí, a Polícia Civil abre inquérito, instaura procedimentos investigatórios para elucidar os crimes e busca provas e indícios suficientemente úteis para que o promotor de Justiça tenha elementos para oferecer a denúncia e dar início ao processo penal. Por isso, a necessidade de uma polícia aparelhada e com mão de obra.
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Compreensão da população
Nas primeiras semanas de 2019, preocupa também a grande quantidade de ocorrências. “Começamos o ano com homicídios, roubos, furtos, estupros, inclusive de vítimas crianças. Este crime sempre teve números expressivos aqui, desde que assumi a delegacia. Precisamos nos voltar para estes crimes de maior relevância”, defende Graciela.
Para que isso aconteça, entretanto, é necessária também a compreensão da comunidade. A delegada alerta sobre situações em que não há a necessidade de ocorrência, como brigas e discussões entre vizinhos e situações que envolvem redes sociais que não caracterizam crime. “A lei diz que todos tem acesso ao nosso trabalho. Mas há situações que podem ser resolvidas pelas próprias pessoas”, comenta.
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