A Polícia Civil de Santa Cruz do Sul realizou uma apreensão inédita no município na manhã desta sexta-feira, 19. A operação foi realizada pela Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) na Rua Amazonas, Bairro Bom Jesus, onde foram apreendidas armas e drogas, além de cadernos com anotações relacionadas ao tráfico. Um jovem de 18 anos, ligado à facção Os Manos, foi preso.
Conforme o delegado regional, Luciano Menezes, foi cumprido um mandado de busca e apreensão em uma casa da Rua Amazonas. “Acabamos encontrando, no quarto [do jovem preso], escondidas três peças inteiras de crack e uma peça de cocaína. Então são quatro quilos de droga, com valor estimado de mercado clandestino de R$ 180 a R$ 200 mil. Encontramos também duas armas que eu reputo que são armas importantes para as nossas investigações”, disse o delegado, à Rádio Gazeta (ouça a entrevista completa abaixo).
Foram apreendidas duas pistolas 9 milímetros, sendo uma delas glock de rajada, com um kit Kriss. “Este kit é o primeiro que a gente apreende aqui, pelo menos nos últimos 20 anos em que eu trabalho na cidade. É um kit prolongador da pistola glock, ela vira uma arma longa, uma espécie de submetralhadora para dar rajada. E apreendemos uma outra 9 milímetros raspada, uma arma turca, que até então eu também não conhecia.”
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As armas devem passar, a partir de agora, por testes balísticos para identificar se têm relação com homicídios cometidos em Santa Cruz do Sul nos últimos anos. “São armas que nós imaginamos que estejam ligadas a pelo menos alguns dos homicídios que nós temos, desde o ano de 2013 para cá, cerca de 40, 50 homicídios. Então essas armas agora servirão para confrontos balísticos, para ver se a gente consegue apurar isso. E o mais importante dessa operação, além da qualidade e quantidade de droga e armas que nós retiramos das ruas, foi um achado importante”, comentou Menezes.
Durante a diligência desta manhã os policiais ainda encontraram um pacote embalado a vácuo contendo cadernos relacionados ao tráfico da região. “O rapaz preso, ao ser questionado, disse que eram cadernos que ele comprou pela internet”, contou o delegado. “Quando abrimos aquele embrulho, embalado a vácuo, perpetuado para o futuro, qual foi a nossa surpresa quando encontramos uns quatro ou cinco cadernos com a contabilidade do tráfico da região nos últimos anos. Então temos ali uma relação de traficantes, de nomes, de valores em dinheiro, de seis dígitos. Tem traficante movimentando meio milhão, quase um milhão de reais.”
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As anotações são importantes, segundo Menezes, não apenas para compreender o tamanho do trabalho do tráfico na região, mas também porque eram guardados para o líder da facção, Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin. “Essas informações nos dão uma noção do tamanho do tráfico, que a gente nunca sabe, porque cresce, assustadoramente, todos os dias. E a gente tem a noção exata de que esses cadernos estavam sendo guardados, mantidos ali, naquela embalagem a vácuo, cadernos com a contabilidade inclusive de anos passados, por determinação do líder da facção, que é o Chapolin”, destacou.
O delegado ainda relembrou os áudios deixados pelo líder da facção em 2018, quando foi transferido, com um recado aos traficantes da região: “O Chapolin, o dono da facção, que foi para o regime federal em Mossoró, no Rio Grande do Norte, há mais de dois anos, deixou gravado um áudio que todo mundo ouviu, dizendo que quando voltasse ia querer explicações, ia cobrar, queria que prestassem contas. Então obviamente esses cadernos estavam sendo guardados para o futuro, para quando o Chapolin voltasse, se é que vai voltar, justamente para os traficantes que ficaram aqui exercendo o comando e efetivamente tocando a mercancia ilegal de drogas, prestarem contas quando ele voltar do sistema federal para o sistema gaúcho.”
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Perfil: jovens e sem antecedentes
O jovem preso, conforme Menezes, é um exemplo do típico perfil procurado pela facção. “[O jovem] foi cooptado, segundo o nosso trabalho, há pouco tempo pela facção Os Manos. Esse garoto fez 18 anos há não muito tempo, até então era adolescente. Até pouco tempo ele não estava no radar da polícia e é justamente o tipo de mão de obra que é cooptado pela facção, pessoas novas, indivíduos não conhecidos ou que não figurem na lista dos conhecidos da polícia, justamente para que eles tenham ou pelo menos tentem ter um pouco mais de êxito nas suas relações”, explicou o delegado regional.
“Não há nenhum indício de que esse indivíduo vendesse substância na casa, para consumidores. Ele era, o que a gente chama na linguagem policial de ‘mocó’. Ele estava pago justamente para albergar na sua casa as armas, essa quantidade ainda não desdobrada de substância.” Na ação, ainda foram apreendidas quatro balanças de precisão utilizadas para pesagem de drogas.
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Ouça a entrevista:
Entrevista realizada pelo jornalista Cristiano Silva.
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