Desde que foi deflagrada pela Polícia Federal na semana passada, a operação Carne Fraca instaurou uma dúvida: é seguro continuar comendo carne? A resposta é sim, pelo menos aqui no Rio Grande do Sul. Dos 21 frigoríficos brasileiros envolvidos no suposto esquema de fraude, nenhum deles opera em solo gaúcho – os estabelecimentos considerados irregulares estão no Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Em Santa Cruz do Sul, a informação de que a região não consta na lista da operação foi recebida com alívio, garantindo tranquilidade tanto para quem consome quanto para quem vende o produto.
O presidente da Excelsior Alimentos, Renato Jackisch, garantiu que a empresa não sentiu nenhum impacto. “Existe um desconforto por parte dos acionistas, que me telefonaram na semana passada e questionaram como está a empresa. Disse para todos eles e posso afirmar que não temos nenhum tipo de problema”, frisou, em entrevista à Rádio Gazeta.
Um dos principais acionistas do frigorífico é o grupo JBS, que detém 64% do capital total da empresa e é um dos acusados na ação da PF. Conforme Jackisch, no entanto, a Excelsior cumpre todos os padrões de qualidade. “O que nós fabricamos é o que consta no rótulo.”
O empresário acredita que houve precipitação na divulgação da notícia, já que apenas 21 unidades, dentre as quase 5 mil industrializadoras de carne do País, estão sendo acusadas. “Temos os padrões mais rigorosos no mundo na elaboração de alimentos e eles são seguidos. Obviamente têm aqueles que vão errar ou até mesmo agir de má-fé, por isso, acredito que a atuação deveria ter sido mais direta e pontual”, observou.
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Na outra ponta da cadeia de produção, o proprietário do mercado Terra Nostra, no Bairro Renascença, Geronimo Durante, afirma que a demanda pelos produtos do açougue continua alta. De acordo com ele, as carnes são adquiridas apenas de frigoríficos da região e o local é procurado justamente por essa característica. Quando abriu o mercado, há sete anos, ele já desejava ter o açougue, mas foi somente após dois anos de trabalho que inaugurou o setor, devido à preocupação com os cuidados sanitários.
“Para ter açougue, tem que ter capricho. Tudo o que nós temos exposto aqui é retirado do balcão no fim do dia para que o lugar seja inteiramente limpo. A carne chega fresca diariamente e não trabalhamos com congelados”, orgulha-se. A filha Daniela Durante, que também trabalha no local, conta que muitos consumidores chegaram a brincar sobre a operação Carne Fraca. “Fizeram piada, perguntando se tem papelão na carne, porque sabem que aqui é o contrário, a carne tem procedência e eles confiam.”
RECOLHIMENTO
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A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) determinou que os frigoríficos Souza Ramos, Transmeat e Peccin recolham do mercado toda a carne e produtos derivados provenientes de seus estabelecimentos em, respectivamente, Colombo (PR), Balsa Nova (PR) e Curitiba (PR). O recall deve ser iniciado em até cinco dias e os consumidores deverão ser ressarcidos.
Os três frigoríficos estão entre as 21 marcas investigadas na Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira para apurar suspeitas de irregularidades na produção de carne processada e derivados, bem como na fiscalização do setor.
A Senacon destaca que o consumidor que tiver adquirido carnes produzidas ou comercializadas por qualquer uma das investigadas deve procurar os canais da própria empresa para obter informação clara e precisa sobre a qualidade e a segurança dos produtos. Caso não consiga atendimento adequado ou permaneça com dúvidas, deve procurar o órgão de defesa do consumidor saber como proceder ou para realizar sua denúncia ou reclamação. (ABr)
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Freguesia tranquila
Para o aposentado Nestor Wermuth, a notícia sobre a operação Carne Fraca não chegou a gerar preocupações. Acostumado a comprar em açougues de sua confiança e nos supermercados de Santa Cruz, ele afirma conhecer a procedência dos produtos. “São carnes da região, então, não me preocupei. E não dá para acreditar em tudo o que é dito sobre o assunto. A parte sobre o papelão não acho que seja real”, disse. Já Rubem Franken prefere deixar os embutidos e congelados de lado e leva para casa somente carne resfriada. “Também procuro me certificar da procedência e prefiro sempre o que for aqui da região. Se eu souber que a carne é de longe, do Paraná, por exemplo, já não levo.”
E o preço?
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Para o proprietário do Frigorífico Gassen, de Linha Nova, Luís Fernando Gassen, nada mudou. Ele é responsável por abastecer 15 municípios da região com uma média de 250 toneladas de carne por semana. “Aqui é normal a procura por marcas do interior, justamente por causa da boa procedência. Há uma relação de confiança”, frisou. A repercussão mundial da operação, no entanto, preocupa, já que a grande oferta de carne barrada no estrangeiro pode obrigar os produtores a reduzirem os preços. “Essa é uma repercussão que só deve vir nas próximas semanas.”