No dia anterior, saímos de Buenos Aires em direção a Malargue. Era o Dia da Árvore, o primaveril 21 de setembro. Atentos à vegetação rasteira e espinhosa, logo nossa curiosidade apontaria para as salinas, onde os flamingos se alimentam aos milhares. Estacionamos silenciosamente. Passamos por uma cerca que nos aproximou ainda mais da cena, em que as águas rasas e minguantes contrastam com o tom rosado das majestosas aves. Impossível não apalpar o chão esbranquiçado feito sal. Aos poucos, os flamingos foram se distanciando e nós também. Chegamos a Malargue ao anoitecer, ainda a tempo de conhecer suas “árvores dormentes”, que já ensaiam brotos.
Igualmente nos fizemos adormecer, para no outro dia conhecer o “Pozo de las Animas.” Dizem que abismos chamam. Diria que magnetizam. Impossível não se impressionar com as duas depressões, formadas por tetos rochosos desabados, em função das infiltrações e dissoluções subterrâneas. As “dolinas”, assim conhecidas essas depressões, desenham-se em semicírculos de aproximadamente 300 metros de diâmetro que mergulham em flancos acentuados por 100 metros até encontrar as águas verdes que cintilam lá no fundo.
Se magnífico o cenário, inusitada se faz a sensação. Um vento constante empresta ao lugar sons que só se ouvem ali. Todavia, cuidado! Talvez não se esteja escutando o vento, mas o lamento das almas dos nativos engolidos pelo chão ancestral. Narra a lenda que a tribo de um lado dos Andes não suportava a do outro lado da cordilheira. Numa destas feitas, uma das tribos invadiu o território alheio. Eis que, já ao anoitecer, é engolida terra adentro, restando o que hoje se vê.
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Em cada pedacinho da Cordilheira dos Andes vamos encontrar narrativas, cultuadas pelo tempo que não as dilui, mas acentua. Geralmente, ao que é narrado, se associa uma feição típica do relevo, como no caso o terreno cárstico, próprio das rochas do lugar. À associação do contato com o território tipificado ainda se acresce o cenário grandioso dos Andes, o que garante visitações de todas as partes do mundo. Perceba-se que as pessoas buscam preponderantemente o que é natural, aquilo que a natureza nos oferta generosamente.
Seguimos viagem, que se o abismo imanta, novos lugares convocam. Já na divisa com o Chile, Vera nos chamou a atenção para a fila quilométrica de caminhões que aguardavam passagem. Hora do retorno. Foram nove dias de carro numa viagem organizada pela filha Aline e o genro Caio. Assim, encantados pelos mistérios de cada recanto, depois de percorridos 5.209 quilômetros e investidos R$ 325,00 diários por pessoa (alimentação, hospedagem, transporte…), encerramos a viagem, deixando em aberto que sempre precisaremos voltar aos Andes.
Quanto ao poço das almas, ficou escavado na memória para sempre.
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