Em uma breve solenidade pouco antes da sessão ordinária dessa segunda-feira, 20, foi oficializado o batismo do plenário da Câmara de Santa Cruz em homenagem ao advogado e ex-vereador Nilton Garibaldi. Ele morreu em abril aos 72 anos, vítima da Covid-19.
Com a presença da esposa Iara Maria e dois dos três filhos – incluindo Leonel Garibaldi, que é vereador pelo Novo –, foi inaugurado o letreiro e descerrada uma placa com um resumo da trajetória de Gariba, que foi sete vezes vereador e quatro vezes presidente da Câmara.
Em nome da família, Leonel lembrou o slogan da última campanha do pai, em 2012 (“Devolvam o Gariba ao Parlamento”). “Um slogan que agora vai se realizando e ficará eternizado”, disse.
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Trajetória
Gariba, como era conhecido, foi eleito vereador pela primeira vez em 22 de novembro de 1972. Foi a grande surpresa do pleito em Santa Cruz. Acadêmico de Direito, Nilton Garibaldi conseguiu 1.592 votos, sendo o segundo vereador mais votado naquela eleição.
Na época, ele aceitou a proposta de concorrer mas alertou não tinha renda por ser de família pobre. Quem lhe garantiu os santinhos foi o então deputado Júlio de Oliveira Vianna. Nilton aproveitou e utilizou uma foto de corpo inteiro que havia tirado para um trabalho como modelo. Outra foto, em tamanho real e que estava exposta em uma vitrine do Centro, passou a levar para as esquinas para fazer panfletagem e às bodegas onde fazia pequenos comícios improvisados.
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Foi nesse improviso que nasceu uma das trajetórias mais longevas da Câmara santa-cruzense: a eleição de 72 foi o gatilho de um período de 32 anos ininterruptos no Legislativo. Até hoje, Nilton Garibaldi é um dos recordistas de mandatos em Santa Cruz.
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O início da vida política não afastou o jovem político da formação acadêmica. Em 1974, ele e o colega John Igor Knak (pai do ex-vereador Alex Knak) começaram a trabalhar como advogados em uma sala emprestada por Júlio de Oliveira Vianna nos fundos de uma joalheria, já que não tinham dinheiro para alugar um local. Após formar-se em 1976, Nilton fez carreira na advocacia e, na Câmara, sempre mostrou-se um estudioso do Direito Público – a ponto de, durante vários anos, ter sido chamado para seminários e palestras dirigidos a prefeitos e vereadores, inclusive fora do Estado.
Na década de 90, Nilton Garibaldi tornou-se o grande responsável por uma das conquistas mais importantes da Câmara: a autonomia financeira e contábil em relação à Prefeitura. Tudo começou quando, enquanto presidente, descobriu que um empenho emitido meses antes para cobrir uma despesa junto a uma revendedora de carros estava parado na Secretaria da Fazenda.
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Em outros municípios, como Cachoeira do Sul, a “emancipação” já havia sido feita há mais de 20 anos. Imediatamente, Garibaldi acionou a equipe técnica da Câmara e pediu que encontrassem alguém para implantar um sistema próprio para o Legislativo. Foi chamado um profissional de Arroio do Meio que fez o trabalho em poucos dias. Na época, o prefeito era Sérgio Moraes.
A opção de Gariba pelo MDB, à época o partido de oposição aos governos militares, era um caminho natural. O pai Alberto, um ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira, era simpatizante do trabalhismo, assim como outros integrantes da família e da comunidade onde cresceu.
Após o fim do bipartidarismo, Garibaldi testemunhou a fundação do PDT na Assembleia do Rio de Janeiro. Embora à época várias siglas estivessem nascendo, a decisão foi permanecer com o “trabalhismo autêntico”. Brizola, por sinal, foi desde sempre a grande referência. A admiração era tamanha que batizou um dos filhos de Leonel, atualmente vereador em Santa Cruz.
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Entre a década de 90 e o início dos anos 2000, Nilton Garibaldi esteve no PTB. Depois, retornou ao PDT. Ao todo, foram sete mandatos. Ele concorreu pela última vez em 2012 para atender um pedido do partido. O último mandato havia terminado em 2004 e ele não tinha pretensão de retornar.
Mesmo sem concorrer, Garibaldi seguia próximo ao poder: o endereço de trabalho há mais de uma década era a Assembleia Legislativa, pulmão da política gaúcha. Em 2018, filiou-se ao Novo.
Na conversa que teve com a Gazeta em 2019, disse não estranhar o fato de, após mais de 40 anos vinculado a correntes de esquerda, ter se alojado em uma legenda de vocação liberal. “É uma linha idêntica à política da qual eu participava no início, que prega a boa aplicação dos recursos públicos e a honestidade. A política era assim, era pura, havia seriedade. O Novo vem agora para tentar resgatar essa dignidade, por isso me identifiquei com a causa”, disse na época.
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