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Plantio do tabaco começa a ocorrer cada vez mais cedo

As atividades relacionadas à produção das mudas de tabaco para o plantio da safra 2021/22 foram intensificadas nos últimos dias em toda a região baixa do Vale do Rio Pardo. Ainda que esta seja a época em que tradicionalmente os produtores iniciam a semeadura nas bandejas, e as manuseiam nos canteiros, essa operação tem sido realizada cada vez mais cedo nos últimos anos.

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A estratégia é adotada pelas famílias para antecipar o plantio e, como isso, também a colheita, visando driblar a falta de chuvas que tem sido uma constante nas últimas temporadas no auge do verão. Além disso, é também uma maneira de concluir a colheita mais cedo ao final do ano, evitando ir à lavoura nos dias de sol muito forte e de calor.

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Dentre os agricultores que se agilizaram neste ano está Marcelo Luis Ruppenthal, 30 anos, que reside em Linha Hansel, no interior de Venâncio Aires, a cerca de seis quilômetros da sede dessa cidade e a meio caminho entre ela e Santa Cruz do Sul, à margem esquerda da RSC-287 para quem segue no sentido Santa Cruz-Venâncio. Ao lado da esposa Denise Beatriz Lause Ruppenthal, 30, com quem está casado há 14 anos, Marcelo vê as mudas, projetadas para 50 mil pés, já bem adiantadas.

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“Fizemos a primeira poda, e nos programamos para fazer a segunda neste final de semana”, frisa. “Ainda pretendemos fazer uma terceira, mais para o final do mês, deixando elas bem fortes, e então, ali pela primeira semana de junho, vamos começar a plantar.” Ele confirma que é um dos produtores que mais agilizou a preparação das mudas, embora muitas famílias na redondeza também anteciparam essa operação.

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Marcelo comenta que nesta safra conseguirá fazer o plantio duas semanas antes em relação ao ano passado, de maneira que ganhará também duas semanas no início da colheita, ao final de agosto, início de setembro. Enfatiza que essa antecipação foi planejada, porque verificou que na última safra o tabaco plantado mais cedo apresentou qualidade melhor, em termos de cor e de peso, do que aquele de época mais tardia.

Ele e Denise costumam plantar os 50 mil pés em duas partes, ou duas etapas, em duas metades mais ou menos iguais. Com isso, quando uma parte já estará com a colheita bem encaminhada, na segunda parcela será a vez de iniciar a retirada do baixeiro. Ele acredita que, com essa antecipação, de meados para o final de novembro concluirá a colheita. Para a secagem, possuem duas estufas, uma elétrica, de folha solta, e uma convencional.

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O casal possui área pequena, de dois hectares, na qual o tabaco é a cultura que melhor se ajusta como fonte de renda, permitindo ainda produção de alimentos e a criação de aves e suínos para seu consumo. Plantam em torno de metade dos pés nessa área própria, e para o restante arrendam terras de vizinho.

Marcelo vem de família que sempre se dedicou ao cultivo do tabaco. Seus pais, Carlos Henrique Ruppenthal e Dulce Hermes, sempre tiveram essa atividade como base econômica. Na última safra, quando também plantaram 50 mil, Marcelo e Denise produziram 525 arrobas, com cuja renda asseguram a sua subsistência e a da filha Isabelly, de três anos.

A comercialização, segundo ele, foi satisfatória, embora lamente que o preço do tabaco esteja um tanto defasado. “Nos últimos anos praticamente não subiu, e a gente vê os grãos, como soja, milho e arroz, dispararem. Ficamos muito para trás, em termos de preço do produto, em relação a esses itens”, comenta. No entanto, uma vez que possui área de terras pequena, na qual o cultivo de grãos como fonte de renda seria inviável, ele e Denise pretendem seguir apostando no tabaco. Na esperança de que nas próximas safras este venha a receber mais valorização ou uma reposição de valor, tendo como parâmetro o mercado dos demais produtos agrícolas, como diz.

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A antecipação é mesmo uma tendência
A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) confirma que tem se verificado uma forte tendência de antecipação no plantio do tabaco em toda a região próxima a Santa Cruz do Sul e até em outras áreas do Estado. Conforme o presidente da entidade, Benício Albano Werner, isso foi mais evidente nas duas últimas safras, quando houve falta de chuvas no verão e, com isso, as lavouras foram muito prejudicadas.

Plantar um pouco mais cedo, deste modo, acaba por ser uma via para garantir que as plantas estejam plenamente desenvolvidas mais cedo, e a colheita igualmente possa ser concluída antes. Werner frisa que em alguns casos as próprias empresas às quais os agricultores estão integrados os aconselham ou orientam a antecipar um pouco o plantio.

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“Os produtores estão, sim, muito receosos com a cultura no auge do verão, quando em dezembro e janeiro o sol forte faz com que a umidade evapore muito rápido, o que afeta a qualidade das folhas do meio pé para cima e, naturalmente, também a produtividade”, comenta. “Com isso, entendem que é preferível correr o risco de semear mais cedo agora, quando um frio intenso ou geadas poderiam afetar elas, a perder em qualidade e em volume quando essas plantas estarão na lavoura, e já no auge de seu desenvolvimento.”

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Nas últimas semanas registrou-se um cenário de compra mais tranquila junto às indústrias, e até com uma maior procura por produto

O presidente da Afubra lembra que a antecipação tem sido favorecida com a própria mudança havida, desde a década de 1990, na produção das mudas. Em outros tempos, a semeadura era realizada diretamente em canteiros no solo, e as mudas sofriam estresse, com raízes expostas, na hora de serem arrancadas e levadas à lavoura. Com a introdução das bandejas e do sistema float (em canteiros sobre lâmina de água), elas vão para a lavoura com substrato, e se adaptam e fixam muito melhor, quase sem retardo no crescimento, e mais resistentes ao frio. Porém, Werner lembra que há um limite para essa antecipação, até porque nem adiantaria alterar demais o período ideal de colheita para não comprometer o bom andamento de todo o ciclo dessa atividade.

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Além de um ganho natural no desenvolvimento das plantas, o que se traduz em garantia de melhor qualidade e produtividade, os produtores ainda optam por antecipar o cultivo para não precisar trabalhar ao sol no auge do verão. Há, assim, ainda um ganho em qualidade de vida e mais comodidade na colheita.

De acordo com o presidente da Afubra, Benício Albano Werner, resta cerca de 25% a 30% do tabaco da safra 2020/21 por ser comercializado em toda a região Sul do Brasil. Werner confirma que nas últimas semanas registrou-se um cenário de compra mais tranquila junto às indústrias, e até com uma maior procura por produto. Na avaliação da entidade, um dos motivadores para isso é bastante pontual: estaria no fato de a colheita, já concluída, nos países da África Central, caso de Zimbábue, Malawi, Moçambique e Zâmbia, ter sofrido quebra em virtude de interferências climáticas em janeiro e fevereiro.

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No conjunto, conforme cálculos da Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA), essas nações teriam colhido entre 20 e 30 mil toneladas a menos. “Assim, é provável que as empresas, multinacionais, que atuam lá e aqui, estejam tentando assegurar no Brasil volume para suas próprias estimativas, e atender suas necessidades ou seus clientes”, comenta.

Werner salienta que, mesmo com o ritmo de compra agora estando bom, a Afubra trabalha com a projeção de recuo de cerca de 13% na área plantada no Brasil na temporada 2021/22. “Isso hoje é um indicativo bastante claro. Os produtores viram que, se plantarem demais, acabam perdendo duas vezes: terão de arcar com os custos a mais dos insumos e da mão de obra, e ainda tendem a ter menos receita, por um excesso de oferta, na hora da comercialização”, frisa. “Então, essa sinalização de plantio menor acaba sendo bastante positiva.”

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