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PIX: o interesse dos bancos e os riscos dos clientes

A partir da próxima semana, dia 16 de novembro, começa a ser permitido o uso efetivo do PIX. Trata-se de um novo sistema de pagamento – instantâneo – criado pelo Banco Central do Brasil. A proposta é permitir que as pessoas paguem suas contas, transfiram e recebam dinheiro em até dez segundos, a qualquer hora do dia, em qualquer dia da semana, o que inclui sábados, domingos e feriados.

É claro que o novo sistema trará impactos, benefícios e riscos aos brasileiros em geral, às empresas e aos bancos. De acordo com pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), para os bancos o impacto seria limitado nas tarifas, porque 62% das contas transacionais já são isentas desse tipo de cobrança, por regulação do Banco Central e uma parte significativa também é isenta de tarifas em função do relacionamento do titular com o banco ou em função do pacote de serviços contratado.

Entretanto, para a especialista em banking e professora de direito das relações econômicas internacionais e mercado financeira da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Thaís Cíntia Cárnio, os bancos perderão dinheiro com tarifas, com a chegada do PIX, mas a maior preocupação deles é fidelizar os clientes existentes e atrair novos. Talvez sejam esses os motivos da propaganda maciça que os bancos estão fazendo, principalmente na televisão, oferecendo prêmios e até sorteio de R$ 1 milhão para quem decidir cadastrar suas chaves PIX com eles. O Santander, por exemplo, tem uma promoção de R$ 1 milhão para um ganhador; o Banco do Brasil oferece R$ 470 mil para pessoas físicas (divididos em 228 prêmios); e o Nubank está distribuindo R$ 370 mil, dividido em 6 prêmios de R$ 20 mil e cinco prêmios de R$ 50 mil.

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É evidente que no banco em que o cliente cadastrar suas chaves, principalmente as mais fáceis de memorizar – número do CPF, número do celular e e-mail – ficará o maior volume de transações, aumentando o caixa daquela instituição para lastrear e alavancar negócios.

Mas o sorteio de prêmios para atrair o cadastramento de chaves PIX talvez não seja suficiente. Os bancos provavelmente vão ter que criar programas de estímulo, como benefícios, cashback ou outro incentivo para que os usuários mudem a forma tradicional de pagar suas contas ou transferir dinheiro. De acordo com Antônio Cerqueiro, sócio da consultoria Bain & Company, dificilmente a migração para PIX acontecerá de forma natural ou em pouco tempo porque as pessoas, no Brasil, estão acostumadas a usar os cartões.

O sistema PIX é novo, mas as práticas fraudulentas são velhas conhecidas: os criminosos aproveitam que a novidade está em alta para trair as vítimas e aplicar técnicas antigas com nova roupagem. Até o momento, os principais tipos de golpes com o PIX envolvem:

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1) a técnica chamada “phishing” – o usuário é levado a acessar uma página que se faz passar pelo site de uma instituição financeira, deixando lá seus dados pessoais; o golpista rouba essas informações que poderão ser usadas posteriormente, em ações fraudulentas;

2) mensagens de redes sociais, SMS ou e-mails para oferecer o cadastro no PIX: ao acessar o link, é iniciado o download de um arquivo com conteúdo ou aplicativo malicioso;

3) cliente é levado a fazer login em sua conta bancária, momento em que os criminosos roubam essas informações para, em seguida, ter acesso à conta e roubar dinheiro.

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Para usar o serviço do PIX de forma segura, especialistas recomendam:

1) antecipar-se e fazer o cadastro na página do banco;

2) não clicar em links nem em qualquer tipo de convite para realizar o cadastro do PIX;

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3) se tiver dúvida, entrar em contato com o seu banco;

4) utilizar antivírus atualizado, no computador e no celular.

Se de um lado, o PIX deve ser um facilitador, de outro ele pode transformar-se num destruidor das finanças pessoais e familiares. Praticamente, ninguém alerta sobre outro tipo de dano que o PIX pode causar aos usuários. O consumidor pode sofrer consequências negativas, não só de algum golpe de meliantes, mas de ações de sua inteira responsabilidade. Até agora, o consumidor negociava o pagamento de suas compras a prazo, de acordo com a forma de pagamento usada: cartão de crédito, prestações, boletos, carnês. Isso permitia ao cidadão usar o crédito de forma organizada e jogar para o futuro o vencimento de suas contas, observando o seu fluxo de caixa.

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Com o PIX, isso vai mudar porque os pagamentos ou transferências serão sempre à vista. As pessoas não terão mais a oportunidade de postergar os pagamentos, a não ser que utilizem o cartão de crédito que, por enquanto, continuará com a mesma função de financiar compras a prazo.

Os bancos aproveitarão a oportunidade para entrar em ação, oferecendo limites de crédito no cheque especial que até andava um pouco esquecido. O problema está no fato de este limite ser fácil e rapidamente utilizado, ainda mais que a possibilidade de fazer um pagamento ou transferência é contínua, podendo ser feita a qualquer hora, em todos os dias do ano.  

A maioria da população brasileira ainda não costuma manter uma reserva financeira para enfrentar imprevistos. A atual pandemia do coronavírus tornou isso mais evidente e, em alguns casos, dramático porque as pessoas tiveram redução ou perda total de renda.

No momento em que seria importante pensar na formação dessa reserva estratégica, que permita arcar com as despesas normais de, pelo menos, seis meses, aparece na contramão mais um facilitador para gastar. Mas, nem tudo que reluz é ouro. Quer dizer, se o dinheiro entra uma vez ou poucas vezes, no mês, na conta do banco ou em espécie no bolso, para sair está cada vez mais fácil. Está na hora, então, de educar-se financeiramente.

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