Em tempos de pandemia da Covid-19, matando milhares de pessoas todos os dias, em todo o mundo, o que teria de especial a morte de um sujeito que, atualmente, não era do ambiente de artistas, dos esportes, da política, do business, de religiões, do tráfico ou expoente de alguma nova atividade?
Bernard Lawrence Madoff ou Berni, como era chamado, morreu aos 82 anos, numa prisão nos Estados Unidos, onde cumpria pena de 150 anos. Por mais de 50 anos, Bernie foi conhecido em Wall Street como um grande administrador de dinheiro que fundou sua própria empresa com apenas 22 anos. Ele ajudou a desenvolver alguns dos sistemas e estruturas que moveram o mercado de ações para além do pregão regular e deu origem a negociações modernas e eletrônicas, tendo sido o chairman (presidente do conselho de administração) da Nasdak (segunda maior bolsa dos Estados Unidos).
Até que, em 2008, foi descoberto que Bernie, através de sua consultoria Bernard L Madoff Investment Securities pegava o dinheiro de investidores – muitos famosos, como o diretor de cinema Steven Spielberg e o ator Kevin Bacon –, e em vez de aplicá-lo no mercado de ações ou outros investimentos, o depositava em uma conta bancária.
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Desde 1990, ele procedia assim, tendo fraudado cerca de 37 mil pessoas em 136 países, impondo-lhes um prejuízo que chega a US$ 65 bilhões, a maior fraude financeira dos EUA. Além de maquiar as demonstrações financeiras da empresa e “enrolar” funcionários do órgão regulador que aceitavam suas explicações sobre evidências claras de fraude, com o dinheiro da entrada de novos clientes ele pagava os antigos, replicando o famoso esquema Ponzi.
Charles Ponzi foi o precursor das pirâmides financeiras. Nascido na Itália, em 1882, Ponzi imigrou para os Estados Unidos, onde tornou-se um dos maiores trapaceiros da história. Entrou no ramo de empréstimos, tomando dinheiro de investidores com a promessa de pagar juros altíssimos. Em 1920, o jornal Boston Post investigou a atividade de Ponzi, constatando que se parasse a entrada de novos investidores, o esquema desmoronaria. A suspeita se espalhou depressa e os clientes pediram seu dinheiro de volta, o que Ponzi não tinha como atender, levando-o à prisão. Faleceu em 1949, no Brasil, na miséria, em um abrigo de indigentes.
Cabe distinguir a pirâmide financeira do marketing de rede ou multinível (MMN), muitas vezes confundidos. A pirâmide financeira é um modelo comercial não sustentável, proibido no Brasil, configurando crime contra a economia popular, segundo a Lei 1521/51. Depende basicamente do recrutamento progressivo de outras pessoas para o sistema, sem levar em consideração a real geração de vendas de produtos ou serviços. Os ganhos não vêm dessas vendas, mas das taxas pagas por quem entra no sistema; quer dizer, os novos associados pagam os antigos. Quando, por alguma razão, não entram mais novos associados para a rede, o sistema simplesmente cai.
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O Marketing de rede ou multinível, por sua vez, é um modelo de negócio legal em que o integrante da rede pode ter ganhos tanto em razão da venda de produtos ou serviços como, também, através de recrutamento de outros vendedores. O sistema MMN não depende de novos associados para se sustentar, mas apenas da venda de seus produtos.
Ainda existem registros da assustadora onda de pirâmides financeiras que ocorreram no Brasil, há poucos anos, com milhões de pessoas prejudicadas porque acreditaram e entraram em negócios que prometiam grandes retornos financeiros. Na época, para o Ministério Público, algumas empresas que diziam atuar com venda direta por meio de marketing de rede na verdade apenas serviram de disfarce para esconder um elaborado e fraudulento esquema de pirâmide financeira. Os mais comentados foram a TelexFree (venda do VoIP de chamada de voz gratuita pela internet ), Boi Gordo (aplicação em gado), Bbom (venda de rastreador de veículos), Avestruz Master (compra e venda de avestruzes).
Nos dias atuais, com a internet, de vez em quando aparecem novas propostas, sob novas ou diferentes roupagens, às vezes não transparecendo, inicialmente, tratar-se de uma forma camuflada de pirâmide financeira. Uma dessas propostas se apresenta com o nome nada suspeito de “Mandala da prosperidade”, aparecendo ainda com outras denominações como “Tear dos Sonhos”, “Mandala Feminina” ou “Flor da Abundância”.
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A Mandala da Prosperidade, com um discurso feminista – luta contra o patriarcado, a desvalorização da mulher e a ganância – usa conhecimentos de psicologia e práticas de espiritualidade. Através de grupos virtuais, propõe unir pessoas para se tornarem melhores e ajudar as demais por meio da solidariedade. O objetivo, aparentemente muito bonito, seria a cooperação entre mulheres em busca do empoderamento feminino e a realização de sonhos.
Na avaliação de mulheres que participaram desses grupos, o convencimento é tão forte que, mesmo não tendo dinheiro, muitas pessoas faziam empréstimos para pagar a taxa de adesão ao esquema de R$ 5 mil, porque acreditavam na promessa de receber de volta, multiplicado por oito, o valor do investimento.
Recentemente, apareceu o rumoroso caso do Grupo 18K Ronaldinho que prometia retorno de 2% ao dia em aplicações em criptomoedas. Apesar de se dizer apenas garoto-propaganda das empresas envolvidas, o fato é que Ronaldinho Gaúcho – por coincidência, em mais um rolo? – virou réu em ação coletiva, instaurada em Goiânia-GO, que pede R$ 300 milhões em devolução de valores e em danos morais por pirâmide de criptomoedas.
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De tempos em tempos, surgem “negócios da China”, alimentando a ilusão de pessoas que poderão ganhar dinheiro fácil e rápido. Muitas não se dão conta de que, geralmente, “tudo o que vem fácil, vai fácil”. Assim, cabe às pessoas desconfiarem muito, principalmente quando a promessa é de retornos expressivos e exigirem transferência de valores para contas de pessoas físicas ou de empresas que não são gestoras, corretoras ou outras instituições reguladas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo Banco Central e pela Receita Federal.
Procurar informar-se, não com aquela pessoa que já entrou no negócio, mas com especialistas do assunto ou até delegacias de polícia, onde já pode existir alguma denúncia sobre a atividade. Depois, se nada constar de desabono, procurar avaliar os riscos, a rentabilidade e, principalmente, se o retorno vai ao encontro dos sonhos e objetivos. Isso faz parte da educação financeira que, em suma, trata principalmente do comportamento das pessoas.
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