A série de reportagens Vida no Interior chega a Linha Pinheiral. A comunidade faz parte do 1º distrito, chamado de Sede Municipal, que engloba a zona urbana de Santa Cruz do Sul. A localidade encontra-se em um dos principais pontos de passagem de muitos gaúchos: às margens da RSC – 287, entre os quilômetros 93 e 97 da rodovia. A distância entre o centro de Santa Cruz e a localidade é de apenas dez quilômetros, sendo um facilitador para os moradores.
O local atualmente é conhecido por possuir empreendimentos ligados à gastronomia, atraindo os viajantes que passam pela estrada que conecta o interior do Rio Grande do Sul à capital dos gaúchos. A comunidade também é lembrada pela extração de pedras grês e pelo trabalho na agricultura, com a plantação de tabaco e de hortaliças. O setor de hortifrúti é presente com o cultivo de morangos e laranjas adotados por um grupo de produtores rurais.
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Linha Pinheiral tem em seu território a passagem dos arroios Schmidt, um e dois, e faz divisa com dois municípios: Passo do Sobrado e Venâncio Aires. A estimativa é de que mais de 2 mil pessoas residem na localidade. Saúde, educação, estabelecimentos comerciais, supermercados, setor de carnes e combustíveis fazem parte da estrutura.
Os avanços da comunidade foram observados pelos olhares do aposentado Ari Schwerz, 74 anos. Ele teve participação na política de Santa Cruz, como vereador e secretário de Transportes e de Agricultura, durante o governo de José Alberto Wenzel. Sua família morou por muitos anos em Linha Pinheiral, e eles ficaram conhecidos por serem donos do Salão Schwerz, que realizou festas marcantes e encontros de sociedades de damas.
Ari foi um dos fundadores do Conselho de Desenvolvimento do Pinheiral (Codepin), criado em 1992, e seu presidente mais longevo. Ele considera o lugar como um pequeno polo regional. A região abrange várias localidades, como Rincão do Sobrado, Travessa Rabuske e Travessa Kipper. “Um fato marcante foi a chegada da energia elétrica, em 1958.”
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Inicialmente, a família Schwerz comandava um pequeno armazém. O lugar virou um ponto de referência para os moradores, já que era o espaço de recebimento de cartas, contas, ponto de táxi e central telefônica. “Tudo funcionava ali”, diz.
Anos mais tarde, o armazém se tornou Salão Schwerz. Pinheiral também contou com o Salão Ullrich – que marcou época e recebeu público de toda a região por vários anos. Atualmente, os dois locais de bailes estão inativos e abrigam outros comércios.
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Antes de se tornar rodovia, a RSC-287 era diferente de como a conhecemos hoje. No trecho de Pinheiral, ela era de chão batido e seu traçado passava mais próximo às casas. Pelos moradores, ficou conhecida como “Estrada Geral” ou “Estrada do Daer”. Antes das obras de pavimentação, os motoristas que queriam ir a Porto Alegre, por exemplo, tinham como rota principal a RS-405, em direção a Passo do Sobrado, chamada de “Estrada Velha”. “Hoje a rodovia passa em frente ao nosso antigo salão. Antigamente, os carros passavam por trás do salão”, conta Ari Schwerz.
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O Armazém Schwerz foi um ponto de encontro e descanso para os trabalhadores que atuaram na obra da RSC- 287, a partir de 1960. “Quando eu era criança, lembro que começaram os trabalhos para asfaltar a estrada e nós servimos o almoço, no mínimo por dois anos, para esses trabalhadores.”
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A comunidade de Linha Pinheiral atualmente é subordinada à Subprefeitura de Linha Santa Cruz. O local já contou com um órgão municipal, mas teve a estrutura desativada. No entanto, os moradores perceberam a necessidade de ter aporte mais próximo para encaminhar demandas e lutar pelo crescimento de Pinheiral.
Em 1992, membros da comunidade criaram o Conselho de Desenvolvimento do Pinheiral (Codepin), prestes a comemorar 32 anos. Na época, quem liderou a fundação foi Ari Schwerz. Durante um período, o Codepin ficou inativo e foi reativado em 2016 pelo empresário e ex-vereador Mathias Bertram, e pelo vereador Rodrigo Rabuske.
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Mathias é o atual presidente do conselho. O empresário ressalta que o Codepin teve impactos importantes na sociedade desde a sua criação, como a mobilização, em 1997, para que o pedágio da RSC-287 não fosse implantado no trecho que passa pela comunidade, o que iria dividir a localidade. Assim, hoje a estrutura localiza-se em Venâncio Aires. O Conselho também buscou a construção de um necrotério, a implantação do telefone fixo e a criação do perímetro urbano na localidade.
Nos tempos atuais, uma das maiores demandas da comunidade junto ao Codepin é a duplicação da RSC-287. Conforme o presidente, busca-se, com a Rota de Santa Maria, concessionária do Grupo Sacyr e responsável pelas obras, não deixar a comunidade isolada e dividida. “A duplicação não pode dificultar a nossa locomoção. Precisamos que se tenha adequações no projeto, como a previsão de rótulas, faixas de segurança ou até passarelas para ir de um lado ao outro sem precisar fazer grandes voltas. Não podemos ter prejuízos.”
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A boa localização, com fácil acesso a Santa Cruz e cidades em direção a Porto Alegre, é considerada um fator crucial para negócios e moradias. No entanto, o número de moradores se mantém estável. Bertram explica que o Codepin trabalha para que seja possível criar loteamentos residenciais. “Queremos manter a nossa população aqui, pois desejamos ter um desenvolvimento sustentável para manter a nossa escola, o posto de saúde e as empresas.”
O Codepin possui sede própria e, além de buscar melhorias para Pinheiral, organiza eventos para integração dos moradores. O local dispõe de um campo de futebol, quadra de vôlei, pracinha e academia ao ar livre.
Um dos pontos mais tradicionais de Pinheiral iniciou suas atividades no final de 1998. A Lisaruth Delícias Caseiras surgiu após uma ideia da mãe da família, a Ruth, e da filha Elisa. Que, curiosamente, dão nome ao estabelecimento: LisaRuth.
Antes da empresa, a matriarca da família já produzia alguns pães, cucas, doces e outros quitutes para os filhos e o esposo Nestor Bertram, 73 anos. Com o passar do tempo, vizinhos e amigos também começaram a encomendar produtos com a Ruth. A situação foi um dos motivos para abrir uma padaria.
A estrutura inicial contou com 48 metros quadrados. Conforme um dos proprietários, Mathias Bertram, 38 anos, percebeu-se que precisava ser feito mais para atrair os clientes. “Meu pai começou a ir com um carro Uno até a casa das pessoas. Vendia muito bem. Com o aumento da demanda, tivemos que comprar uma Fiorino, para caber mais produtos.” Em 2007, com a empresa consolidada na região, uma grande reforma foi feita, com ampliação do espaço e investimentos na cozinha.
A LisaRuth iniciou com 15 produtos no cardápio e sem funcionários contratados, apenas a família. Atualmente, são mais de 300 itens nas prateleiras, no café colonial e no almoço. Para dar conta do serviço, são 95 colaboradores na matriz e 25 na filial. Toda a produção é própria.
Nestes 25 anos de história, além de investimentos na matriz, em 2018 deu-se um passo maior com a compra do terreno na entrada da cidade de Santa Cruz, ao lado do trevo Fritz e Frida, para instalar uma filial da Lisaruth, criando-se o Lisaruth Open Mall, em parceria com a Karnopp Imóveis.
A irmã e também proprietária Elisa Bertram, de 47 anos, ressalta que as cucas são os produtos com maior demanda na empresa. “São vários setores e cada um possui um item com maior procura, como bolos, pastéis e tortas”, diz. Também fazem parte, como proprietários da Lisaruth, os irmãos Leila, 36 anos; Júlio, 44; e o pai Nestor Bertram, 73 anos.
Em Linha Pinheiral, a educação fica por conta da Escola Estadual de Ensino Fundamental Sagrada Família. O educandário é centenário e vai completar 109 anos de atuação.
As atividades iniciaram-se em estrutura que estava situada onde hoje é o cemitério, ao lado da igreja da comunidade de mesmo nome da escola. Conforme registros históricos, as aulas eram ministradas em uma estrutura com formato de uma capelinha – que hoje não existe mais.
Na época, o colégio chamou-se Deutsch Schule Pinheiral. Como não se sabe ao certo a data de inauguração, utiliza-se o dia 16 de outubro para celebrar o aniversário – registro da primeira reunião do Conselho de Pais e Mestres (CPM). O ano de 1915 foi datado por ser o registro mais antigo já encontrado.
Quando a escola abriu as portas, ela era considerada particular e contava com até 80 alunos. Com o aumento da demanda, o local passou a ser administrado pelo município, e depois pelo Estado. A diretora Josiane Bertram, 42 anos, explica que o terreno atual da escola foi doado pela Mitra da Arquidiocese de Porto Alegre, em 1975, pelo bispo dom Alberto. “Hoje, a gente está com 132 alunos. Durante a pandemia, em 2021, estávamos com apenas 94 estudantes, por isso quase nossa escola foi municipalizada.”
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Com um currículo diversificado e projetos inovadores, a escola atende alunos do 1º ano ao 9º ano, com turmas em tempo integral. Há professores com 20 anos de atuação no educandário. Uma das demandas da escola é pela ampliação da estrutura física. A solicitação já foi encaminhada para a 6ª Coordenadoria Regional de Educação.
A Associação Esportiva e Recreativa Pinheiral foi fundada em 1997, por meio da união de dois clubes tradicionais do município: Esporte Clube Pinheiral e Esporte Clube Palmeiras. Após a unificação, iniciou-se a construção do atual estádio, que foi inaugurado em 2001. Ele foi denominado como Estádio Guilherme Rabuske, nome dado em homenagem ao doador da área de terra.
A conquista do estádio próprio foi coroada com o troféu da categoria titulares da Liga de Futebol Amador de Santa Cruz (Lifasc). Em 2003 e 2018, o feito foi repetido. A história de títulos também foi registrada em 2006, quando o Pinheiral foi campeão regional. Em 2010, a categoria Sub 18 levou o troféu. Um dos títulos mais esperados aconteceu em 2015, com a categoria aspirantes.
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O atual presidente da associação é Jair dos Santos e Freitas. “Somos um clube bem estruturado, com uma sede com todas as dependências necessárias para dar conforto a quem nos visita, tanto para um jogo de futebol como para participar de algum evento no nosso salão de festas.”
De Pinheiral também surgiu o atleta Pedro Henrique Konzen. O jogador que, aos 21 anos, foi à Europa tornou-se conhecido ao voltar para o Rio Grande do Sul e ser atacante do Internacional, de Porto Alegre. Hoje está atuando no Corinthians.
Desde 1989, o Mercado e Lancheria Schuster é um ponto de referência para os moradores de Pinheiral e de comunidades vizinhas. O estabelecimento atualmente está sob o comando de Cristiano Roberto Schuster, 46 anos. Quem inaugurou o local foi o pai dele, Felício Schuster.
Além de um mercado, serve como encontro de amigos, ponto de táxi e retirada de algumas contas e cartas do Correio. “Nós fomos pioneiros em colocar o primeiro ponto de padaria. Meu pai trazia o pão pronto da cidade com o ônibus e vendíamos aqui”, conta Schuster.
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Nos primeiros anos, o estabelecimento estava localizado próximo de onde hoje é a LisaRuth. Desde 2003, o prédio está situado junto ao trevo de acesso a Passo do Sobrado. Uma preocupação do proprietário é com as obras de duplicação da RSC-287. “O fluxo do trânsito vai melhorar, mas vou perder área de estacionamento e vai dificultar o acesso ao meu estabelecimento”, comenta Schuster, referindo-se aos motoristas que trafegam no sentido Santa Cruz-Venâncio.
Por estar situada às margens da RSC-287, investimentos importantes foram realizados e outros estão em andamento em Linha Pinheiral. Em agosto de 2020, foi inaugurado o primeiro Hospital Veterinário de Santa Cruz e da região, sendo uma parceria da Unisc e da Prefeitura.
Outra grande obra é realizada pelo Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/Senat), que vai instalar uma unidade no local. As obras iniciaram-se em novembro do ano passado, em terreno de 8,2 mil metros quadrados. O investimento total da estrutura será de R$ 22 milhões, com cerca de R$ 12 milhões para a construção e R$ 10 milhões destinados à compra de equipamentos.
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