A pandemia de coronavírus, que já matou três pessoas no Estado e tem outros 239 casos confirmados, deve atingir o ápice nas próximas semanas do mês de abril. A projeção partiu do professor de Epidemiologia da Faculdade de Medicina da UFRGS, gerente de Risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e integrante do Comitê Científico de apoio ao enfrentamento do coronavírus Ricardo Kuchenbecker.
Em entrevista à Rádio Gazeta na manhã desta segunda-feira, 30, o médico ainda enfatiza que no Brasil, de dez pessoas que tiveram contato com o vírus, só temos acesso a uma delas, ou seja, só temos a confirmação de um caso. “O Estado e o país não têm essa informação. Estamos hoje limitando a realização de exames apenas nos sintomáticos, que procuram o atendimento nos hospitais. Deveríamos ter uma base mais ampla de testagem, com uma informação mais próxima e verdadeira, que pudesse contribuir efetivamente com as ações de combate à doença.”
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Ele acredita que o mundo ainda não tem resposta sobre o que pode frear a disseminação do vírus. “É uma pandemia global e o desafio é aprender globalmente e agir localmente. O isolamento social pode ter consequências na economia principalmente dos que mais precisam, mas sabemos que, se as escolas pararem, por exemplo, evita 25% de transmissão mesmo que envolvam crianças, adolescentes e universitários, que têm um menor risco.”
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Já em relação à retomada das atividades, Kuchenbecker diz que há uma dificuldade prática. “Primeiro, não estamos seguros sem informações de testagem, o país não faz isso de forma ampla. Segundo, no caso de retorno da construção civil, por exemplo, quais medidas para não expor seus trabalhadores e familiares? Esbarramos ainda hoje na falta de informação e não sabemos o quanto essas pessoas estarão protegidas.”
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“O vírus não conhece CEP”
O médico expõe que o grande desafio das medidas no Estado são a dimensão territorial e a heterogeneidade social e econômica. “O vírus não conhece CEP, não percebe a separação territorial. Precisamos agir como uma grande comunidade que constrói estratégias em conjunto ou teremos dificuldades para saírmos disso.”
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Medidas podem seguir por todo o ano
Mesmo com o pico previsto para abril, o médico acredita que as medidas para conter a disseminação do vírus podem ocorrer durante todo o ano. É o caso do isolamento. “Talvez vamos afrouxar, baseados na evolução de testes e casos, e depois tenhamos que apertar novamente e assim sucessivamente. Isso pode ocorrer em todo o 2020 e até além disso. Testagens vão nos dizer se estamos acertando ou errando.”
Para ele, nunca estivemos tão inseridos em uma aldeia global. “Alguns modelos apontam que o pico de casos será na segunda ou terceira semana de abril, ou ainda nas primeiras de maio; outros, fim de abril. Serão momentos em que teremos uma grande utilização de recursos como leitos e respiradores. Estado e municípios precisam estar integrados, pois, se a resposta não for conjunta, ela não será efetiva.”
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“É preciso um ponto de equilíbrio”
Questionado sobre como atender à economia, abrindo as portas de fábricas e comércio, e também à saúde, persistindo com o isolamento, Kuchenbecker acredita que os líderes do setor produtivo e da saúde precisam fazer leituras complementares. “As medidas de isolamento social têm um impacto socioeconômico e pode ser até pior do que o número de óbitos, mas suspender esse isolamento sem ter uma base mínima de informação é uma medida temerária. Estamos aprendendo com a pandemia e é preciso um ponto de equilíbrio.”
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Ele cita como exemplo uma medida tomada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump que invocou uma lei antiga que determina que empresas que produzem produtos necessários para a sociedade, como de automóveis, por exemplo, produzam ventiladores mecânicos. “O Estado tem uma grande capacidade no setor produtivo, mas o que mais nos falta é a informação. Empresários do ramo produtivo podem reunir dados da saúde dos seus trabalhadores e familiares. Quantos têm mais de 60 anos? Quantos têm doenças crônicas? Informações que poderíamos juntar para efetivamente termos pistas em que possamos seguir pensando daqui para frente.”
Confira a entrevista completa
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