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RELÍQUIAS

PF prepara exposição de armas históricas em Santa Cruz

Foto: Alencar da Rosa

Márcio Roberto Mohr é agente federal há 23 anos. Instrutor de tiro, foi um dos policiais que se mobilizaram para criar o espaço destinado às armas históricas na sede da PF

Dos incontáveis disparos efetuados durante a Revolução Federalista no final do século 19, que manchou de sangue os campos do Rio Grande do Sul em uma batalha política entre maragatos e pica-paus, boa parte saiu de armas com origem europeia. As carabinas e fuzis estavam entre as mais usadas nos confrontos entre os soldados comandados por Gaspar Silveira Martins e Júlio de Castilhos. Já os revólveres eram reservados aos oficiais. Destes, um da marca Mauser, o C78, moderno à época, havia sido o primeiro revólver militar alemão a ser produzido para disparar cartuchos de latão, sem ignição por agulha ou pino.

O famoso “Zigue-Zague” – apelido que recebeu por ser municiado em um cilindro ranhurado de seis voltas – era um dos preferidos. A relação do revólver com a guerra sulista foi tamanha que um modelo do tipo foi usado no filme A Cabeça de Gumercindo Saraiva, de 2018, do diretor Tabajara Ruas, que retrata um episódio do confronto. A arma empregada, um modelo original do Mauser C78, foi buscada pela direção do longa ainda durante a pré-produção, em 2017, na delegacia da Polícia Federal (PF) de Santa Cruz do Sul.

Com o aval do delegado Mauro Lima Silveira, o Mauser foi usado pelo ator Murilo Rosa ao interpretar o major Ramiro de Oliveira no filme de Ruas. O “Zigue-Zague” é uma das dezenas de armas que estão em um museu criado pela PF de Santa Cruz, para contar parte da história armamentista, seja em confrontos do nosso Estado, do País e até mesmo de guerras mundiais. A Gazeta do Sul fez uma viagem ao passado para contar parte dessa história, que deve ganhar um novo capítulo em breve, com a abertura do espaço para que esses objetos históricos, quase uma década depois de entregues pelo Museu do Colégio Mauá, possam ser vistos novamente pelo público.

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O repasse à PF

O arsenal bélico que hoje está na Delegacia da Polícia Federal foi obtido pelo Museu do Colégio Mauá em 1966, logo após sua inauguração, a partir de uma doação do médico santa-cruzense Ingo Ebert, um dos fundadores do Hospital Ana Nery, da empresa Xalingo e do Country Club. Ele faleceu em 1971, aos 49 anos. Em 2012, o receio com possíveis ações criminosas e até mesmo as campanhas de desarmamento motivaram o repasse das armas à PF. À época, o diretor do Colégio Mauá, Nestor Raschen, explicou à Gazeta do Sul que o museu não poderia assegurar que elas não viriam a cair nas mãos de ladrões.

“Alguém poderia vir a fazer mau uso desses armamentos e nós teríamos que nos responsabilizar por isso”, disse ele. Ao longo dos anos, a comunidade sentiu falta. “Lembro que foram inúmeras as vezes que pessoas vinham até o museu e perguntavam sobre as armas, que tinham sido expostas, e queriam ver. Aí eu explicava que tinham sido deslocadas do nosso espaço para a Polícia Federal”, comenta a diretora do Museu do Colégio Mauá, Maria Luiza Rauber Schuster. Ela relembrou ainda o cuidado que se tinha com o arsenal.

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Arsenal foi inspecionado pelo Exército antes de ser entregue à PF

Pesquisa e catalogação

A partir da entrega feita pelo Mauá à PF, um longo trabalho de pesquisa e catalogação foi realizado por agentes federais especialistas, com apoio de outros entusiastas da história armamentista, como o renomado armeiro Edison de Souza Bizarro. Ao todo, 219 peças foram repassadas à PF. “Nós demonstramos interesse devido ao caráter histórico dessas armas, que merecem uma preservação. Se não viessem para cá, iriam para um processo de destruição. Era um acervo bem maior, mas muitas delas não tinham conotação histórica, então grande parte foi repassada ao Exército para dar continuidade aos procedimentos de incineração”, explicou o delegado Mauro Lima Silveira, chefe da PF santa-cruzense.

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“Algumas eram identificadas, mas outras não. Então nossos agentes, com apoio de outras pessoas, dedicaram um bom tempo nessa pesquisa exaustiva para que essa história pudesse não apenas ser preservada e observada pelas pessoas, mas também contada, a partir de detalhes sobre as peças”, salientou Silveira.

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A viabilização das galerias do espaço também foi possível graças ao apoio financeiro da empresa Souza Cruz e do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf). Segundo Mauro, faltam apenas alguns detalhes para que o espaço esteja aberto para visitação ao público. “Estamos organizando ainda alguns protocolos de acesso, verificando como faremos um melhor agendamento, mas logo queremos abrir para visitação”, revelou o delegado.

Preservar a história

Agente federal há 23 anos, instrutor de tiro e um dos especialistas em armamentos na cidade, Márcio Roberto Mohr participou ativamente de todo o processo que envolveu trazer as armas históricas para a PF, ao invés de serem destinadas à destruição. “O Exército foi muito parceiro atendendo ao nosso pedido para que elas ficassem aqui na delegacia. A partir disso, fizemos todo um trabalho de pesquisa e identificação. Nenhuma das armas expostas está apta a atirar, pois tivemos o cuidado de retirar peças necessárias, a fim de preservar o caráter histórico sem gerar qualquer perigo”, contou Mohr.

Com o aval do delegado, o instrutor de tiro passou dez dias nas Missões, auxiliando a produção do filme A Cabeça de Gumercindo Saraiva. “Fui para lá cuidar das armas, dar o apoio para criação de efeitos de disparos que seriam necessários e também auxiliar o Murilo Rosa no manuseio do revólver que ele utilizaria”, explicou o agente federal.

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Conforme o especialista, muitos museus especializados não possuem alguns dos exemplares com fabricação limitada que estão no espaço da PF. “É importante manter viva essa história. Isso seria perdido, pois depois das campanhas de desarmamento, as armas rarearam, e não podíamos perder a oportunidade de preservar essa história. Temos aqui armas da colonização alemã, Revolução Federalista, Guerra do Paraguai, 1a e 2a guerras mundiais. Não podíamos destruí-las.”

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Algumas das relíquias

Dentre todas as peças expostas nas galerias, uma delas, segundo Márcio Mohr, é de maior valor: o exemplar original da pistola semiautomática Borchardt C-93. “É a nossa maior relíquia. Existem só algumas no mundo.” Criada pelo alemão Hugo Borchardt em 1893, teve apenas 3 mil produzidas, pela empresa alemã Ludwig Loewe & Company, e poucas ainda não foram destruídas.

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Nem mesmo o Museu Nacional de Armas, do Instituto Defesa, possui um exemplar do tipo. A sucessora da Borchardt C-93, a pistola Luger Parabellum (para a guerra, em latim), também está exposta. “Essa Luger é uma arma que foi muito utilizada na 1ª e 2ª guerras mundiais. Esse modelo que temos é o que a artilharia usava, diferente do utilizado pela infantaria, que tinha cano menor”, explicou Mohr.

“Temos também um modelo do rifle Winchester 1866, que ficou conhecido aqui no Brasil como ‘papo amarelo’, em virtude de seu receptor em latão”, contou Mohr. Trata-se de um dos mais famosos rifles americanos. Chamado de “Yellow Boy”, era o preferido de vaqueiros e rancheiros. Ficou conhecido como a “arma que conquistou o velho oeste”.

Outra relíquia é o revólver pimenteiro “pepper-box”. Arma curta usada para defesa pessoal no século 19, possui oito canos em torno de um eixo, que podiam ser disparados uma só vez ou em série. Um dos exemplares curiosos nas galerias é a pistola semiautomática Mauser C-96. Entre suas características, estão o depósito interno de munições na frente do gatilho, o cano longo e a coronha de madeira, que pode ser utilizada como coldre para guardar a arma.

Borchardt C-93, Mauser C-96 e o revólver pimenteiro são algumas das peças peculiares

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