Em 5 de fevereiro, a polícia de Como, cidade localizada na região da Lombardia, na Itália, encontrou o corpo de Marinella Beretta, de 70 anos. Vizinhos ligaram para o telefone de emergência para reclamar que algumas árvores do pátio da idosa ameaçavam cair e que o mato tomara conta do terreno, comprometendo o visual da região. Depois de bater à porta sem sucesso, os agentes chamaram o dono da casa, que abriu o imóvel. Assim que eles entraram, presenciaram uma cena surrealista, porque encontraram Marinella morta, sentada em uma cadeira de balanço. Legistas calculam, de acordo com exames e o adiantado estado de decomposição do corpo, que ela estava morta há pelo menos dois anos.
Vizinhos corroboraram a versão, dizendo que desde setembro de 2019 não viam a idosa, que era muito conhecida nas redondezas. Apesar de a caixa do correio estar abarrotada de correspondências e do matagal que podia ser visto de longe, ninguém tomou a iniciativa de procurar pela moradora, bater à porta ou buscar informações junto a parentes.
A notícia estarrecedora reflete a tragédia da individualização que assola o mundo. E, por ironia, em uma época de multicomunicação, consequência da onipresença da tecnologia, que produz a cada dia inúmeras ferramentas de contato.
Em janeiro, um fotógrafo foi encontrado morto por hipotermia, ou seja, morreu de frio na rua pelo rigor do inverno europeu. O episódio, como pode parecer à primeira vista, não foi registrado em algum país do terceiro mundo, mas no centro de Paris, num dos países mais desenvolvidos do mundo.
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A solidão, a depressão e o sentimento de abandono são os grandes males modernos. A carência de solidariedade, a proliferação dos conflitos familiares, tão comuns no cotidiano, e o medo decorrente da insegurança que prolifera mundo afora afastaram as pessoas. Educação financeira, filosofia, direitos humanos e outros conteúdos são invocados com frequência para inclusão no currículo escolar. Talvez fosse o momento de acrescentar conteúdos humanistas, onde a empatia (capacidade de projetar a personalidade de alguém num objeto, de forma que este pareça como que impregnado dela) tenha tanta relevância quanto o manejo da tecnologia.
Certamente, o episódio da Itália não é isolado, mas se não tivesse repercussão internacional pareceria enredo de filme ou peça de teatro. A vida é mais cruel que qualquer script de ficção porque é protagonizada por seres humanos, ou seja, gente, “de verdade”.
É incrível, mas vivemos na época das “pessoas invisíveis”, de personagens que fazem parte do nosso cotidiano, mas que em determinado momento, e repentinamente, desaparecem. Apesar das relações, o fato é incapaz de provocar iniciativas de busca. O protagonismo humano definitivamente está em baixa.
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